Thursday, 21 January 2010

Inverno


Éramos jovens e irresponsáveis, e essa era a beleza de tudo aquilo.
Brincávamos com os sentimentos uns dos outros, e nossos corações se recuperavam da noite pro dia.

Ela era alguém que sempre estava ali, até o dia em que a notei, na verdade até o dia em que ela me deu aquela pulseira de praia que ela usava desde o verão passado.

Não conseguia distinguir entre o cheiro dela e o perfume do sabonete que ficaram gravados naquela tira de couro trançado, o que sei é que a mistura foi fatal para me encantar de tal jeito que me deixou hipnotizado por anos à fio.

Alguns anos e muitos poemas depois à conquistei, e pude sentir aquele perfume em seu moletom, seu travesseiro, seus cadernos e em seus cabelos.

Fazia de minhas músicas preferidas nossos hinos de amor, vivíamos mais de sonhos do que de dinheiro, dinheiro era excasso e não importava muito na verdade, era a época de ouro dos amantes que sonhavam em morar numa cabana e viver de amor.

Abandonávamos nossos amigos em troca de mais momentos à sós e eles nos perdoavam porque também estavam no mesmo barco, geralmente em outro braço daquele mesmo mar.

Mentíamos descaradamente para termos nossas fugas para aquele lugar secreto, e não importava tanto,afinal éramos irresponsáveis mesmo.

Sentávamos lado a lado na roda gigante daquela festa junina, e sem vergonha eu gritava do alto que a amava.

Junto com aquele inverno vieram as responsabilidades e a inocência deixou aquele lugar.
A simplicidade deixou aquela cabana e os corações desenhados nas paredes de madeira foram se apagando com o passar do tempo, até o dia em que só restou o vazio e o assovio do vento lá fora.

Outros verões vieram, o sol brilhou em nossas almas, mas todo inverno lembro me com carinho daquela fotografia pendurada naquela cabana hoje abandonada...


Friday, 15 January 2010

Dono do meu destino, capitão da minha alma

Devaneio da minha alma, força que extrai me da realidade, arrasta me por sólo infértil dessa terra maltratada.

Insanidade dizem ser a definição daquilo que não sabemos explicar em forma comum, a inabilidade de comunicar nossas idéias, portanto todos nós em dado momento somos considerados insanos, mas não se deve confundir insanidade com a falta de controle.

Insanidade ao meu ver talvez seja aquele momento em que eu tenho guardado na memória e que não consigo traduzir, ver o sol nascer à beira mar, os pés descalços com aquele leve desconforto da areia entre os dedos, a brisa da madrugada vindo de encontro trazendo aroma de algas marinhas, a solidão momentânea e a rápida sensação de que se está sozinho no mundo enquanto todo o mundo dorme.

Mas isso tudo é de fato fácil falar, difícil é mesmo o que se passa por trás dos olhos naquele momento, naqueles breves suspiros por entre uma respiração e outra, o tentar achar significado pelo motivo de tão bem estar e o por quê não conseguimos eternizar tudo aquilo.

Alguns insanos ao decorrer de suas vidas levaram sorte e acabaram definidos como gênios, seriam eles capazes de traduzir ao total tudo aquilo que realmente se passava em suas cabeças ? Quando falavam sozinhos, estariam eles tentando argumentar consigo mesmos por falta de alguém insano tanto quanto eles próprios ?

Até que ponto conseguimos ensinar nossa psique e adestrar nosso subconsciente à nosso favor e à ponto de atravessarmos aquela linha imaginária que conhecemos como limites ? Seriamos capazes de não mais adoecer em nossos corpos e mentes apenas com a força do pensamento e pelo livre arbítrio ?

"Não importa o quão estreito seja o portão e quão repleta de castigos seja a sentença, eu sou o dono do meu destino, eu sou o capitão da minha alma".
- última parte do poema Invictus escrito por William Ernst Henley.

Um século depois de escrito, o poema "Invictus" foi o que manteve acesa em Nelson Mandela a esperança e a sanidade enquanto aprisionado em Robben Island cumprindo pena de trabalhos forçados.

Após ler a biografia de Mandela, e ter uma pequena porcentagem da idéia do tamanho que de fato esse personagem tem na história mundial, me deparei com esse poema, que trás palavras de força e determinação, e que não importa se ficaremos presos em nossas celas por 27 anos, seja ela numa África aterrorizada ou num escritório dentro de um arranha-céu, o importante é manter a sanidade da forma em que você acredita.

"Fora da noite que me encobre,
Negro como o poço de polo a polo,
Agradeço ao que os deuses possam ser.
Pela minha alma inconquistável.

Nas garras das circunstâncias.
Eu não recuei e nem gritei.
Sob os golpes do acaso.
Minha cabeça está sangrando, mas não abaixada.

Além deste lugar de ira e lágrimas.
Só surge o horror da sombra,
E ainda a ameaça dos anos
Encontra e me encontrará sem medo.

Não importa o quão estreito seja o portão,
quão repleta de castigos seja a sentença,
eu sou o dono do meu destino,
eu sou o capitão da minha alma"


William Ernst Henley (1849-1903)

Friday, 4 December 2009

Freezing cold outside...

It's freezing cold outside and here I am grabbing my cup of cappuccino with one hand and typying in my brand new phone with the other, thinking: "it's about time to try to write in English"...

It's not like writing an essay, nothing really technical but also very hard to do because usually I talk about feeling and sometimes I'm still thinking that I'm not comfortable with that. Expressing feelings is one of the most dificult thing for people even in their own language, and then you sum the fear of grammar errors and mispellings.

One of my English friends were asking me so many times to tell her what exactly I've been writing so often in my blog, and to translate it for her, of course. She was sort of disapointed when I said that mostly Brazilians friends were the ones who I write for.

She encourage me to write now and again, not just to practice what I learned, but to open my mind in other ways to express myself when I feel that my native tongue doesn't have the words to do that.

She also said that as long as I'm doing it with beggining, middle, putting an end and some sense, I will be ok.

I don't want to let my Brazilians friends down doing that, once again I can tell that some day I'm gonna talk about all this historys over a bar table having a good round of drinks.

Today is just another cold day like every winter in England, with the difference that sun is shining this morning, this kind of light (even cold) cheer us all up, putting a smile on people's faces.

These past days were so rainy that I was close to buy my flight ticket straight to home land, but somehow I realize how fond of rain I am, suddenly I accepted the weather not as a misfortune, but as a weird gift from the sky above, to wash all this dirty on earth.

This quote about the dirty was in the Taxi Driver's movie when DeNiro took a guy, who was running for New York's major election, for a ride. Incredible how so many years on and we still battling corruption and evil all around us.

I'm not radical in these terms like DeNiro's character was, and to be honest, my intention in talk about the rain is to show people that if you are prepared for any kind of situation, you will be fine and now I know that putting good water proof clothes on I can even enjoy that moment, I took myself singing and smiling in the rain, when everyone else were cursing and in no mood outside my world.

The reason why I believe is once you have chosen your path this means that you have to walk all this way down to find peace, you will just have to do it and much better if smiling than raising hell.

Our lives run fast, faster then we thought when younger, and a good way to spend it is enjoying every moment, don't take it from self-help books, find it from your inner self, don't force a situation, if you smile when you are not feeling like you will end up with some pretty bad marks on your cheeks.
There's no recipe for this magic, it will happen some day in your life, I really hope that it happens to you (or had happened) in this early stage.

Finally, I want to thank Emma, this very friend of mine, for inspiring me with her smile and childish behavior, pushing me to cross the line between two languages promising that I'll do it over and over again, despite the weather =)

Tuesday, 24 November 2009

Uma noite no Clube da Luta

Não espere poesia ou trivialidades, e se você não quer se chocar melhor esperar até o próximo post.
This is London, mate !

Antes do filme teve o livro e muito antes do livro houve a história real que acontecia (e continua acontecendo) no submundo Londrino, de onde surgiu a inspiração para tais meios.
Incrível a habilidade que tenho para conhecer as pessoas certas para as coisas erradas...
Sexta-feira à noite, saio com um amigo inglês, :'vamos a "caça"' como diz ele, de bar em bar e de balada em balada, porém no meio da madrugada percebemos que a noite nos enganou e só nos trouxe decepções.

Pergunto se ele sabe de alguma festa em apartamento, rave clandestina ou qualquer coisa que possamos nos divertir.. Vejo um lâmpejo passar por seus olhos e percebo que coisa boa não vem..
Ele saca o celular, faz algumas ligações e meia hora depois estamos na porta de um prédio no centro de Londres, totalmente escuro num beco sem saída, sem alma-viva por perto.

Algumas mensagens trocadas no celular e a porta se abre, em menos de 5 minutos ele me explica as regras e se eu entro ou não.
Regras: * uma vez lá dentro, ao menos em uma luta terá de participar;
* não se comenta o que acontece lá dentro aqui fora;
* não se faz barulho, não existe torcida, não se interfere;
* se acaso encontrar algum membro fora daquele lugar, faz de conta que não conhece;
* não matarás, mas pode tirar sangue à vontade.

Decido que quero saber como é por dentro...

O lugar cheira urina, aparentemente algum vigia noturno foi subornado para que pudessemos usar aquele porão, que além da urina deveria estar infestado de ratos, insetos, encanamentos de esgoto enferrujados, com vazamento e tanta coisa mais perdida pela escuridão daquele submundo. Os personagens no lugar parecem parte de um filme B, cada qual com seu papel.. mas eram ali reais, de carne e osso.. alguns engravatados de escritórios, banqueiros, pedreiros, caixas de supermercado, policial novato, policial quarentão quase aposentado.

Quando fiquei ciente de que esse tal clube existia de verdade, achei que seria uma espécie de vale-tudo, mas até aquele ponto percebi que tinha regras demais. Uma delas é nunca bata na porta, nunca ligue para abrirem a porta, o correto é mandar mensagem no celular do contato.
Não existe segurança cuidando da porta ou porteiro, ninguém pelo menos que se parecesse com um ou que estivesse agindo como tal.

O lugar não tinha nada de diferente de um porão de predio comercial, nenhum arranjo para o evento, mas percebi umas latas de cerveja numas sacolas plásticas deixadas num canto onde imagino serem máquinas de lavar roupas industriais entre tubulações gigantes de aquecimento do prédio. As pessoas ali agrupadas tambem não se pareciam nada como eu havia imaginado, nenhum personagem recem saído de um filme de luta.

Alguns cheiravam álcool, uns colônia barata e outros não cheiravam,fediam..
Tampouco se vestiam "para matar", não vi botas ou coturnos para intensificar a dor nos oponentes, também não vi nenhuma espécie de acessório para se proteger como caneleiras, jaquetas ou luvas. Os caras eram meros mortais ali reunidos para pôr o stress afora e o adversário nada mais era do que um alvo móvel, não era uma rixa pessoal ou vingança, e isso eu só fui absorver após uma hora tentando analisar a situação.

Diferente do vale-tudo eram as táticas entre os lutadores, não havia objetivo como neutralizar o outro, mas sim desferir os golpes sem muita técnica e com o máximo de força e raiva possível, de preferência no rosto. Qual seria essa obsessão com o rosto? Estariam eles vendo a imagem do chefe ignorante reproduzida no rosto um do outro? Seria a cara da mulher que o traiu? Ou seria o medo interior que seria impossivel lidar durante a luz do dia?

Não existe beleza naquilo, para ser sincero acho que não existe beleza nessa realidade nua e crua, mas aquele caos, com o silêncio quebrado só pelos grunhidos de dor e satisfação me tomam em um transe, fico perplexo como aquilo tudo se parece tanto com uma rinha de cães.
Meu transe só é quebrado quando meu amigo diz que um deles apontou para mim e que seria minha vez de "quebrar o pau" e ficar livre da responsabilidade da noite, ninguém sai sem ao menos uma luta, nem que seja para entrar na roda, tomar um tapa na cara e pedir pra ir embora.

O sangue sobe ao rosto, imagino que devo estar vermelho como um pimentão, e isso pode parecer sinal de fraqueza e medo às pessoas ao redor, e ao invés de estar pensado o que fazer no meu próximo movimento estou mesmo é preocupado com o que a torcida esta pensando de mim.
Mas isso tudo leva questão de segundos, de repente tudo some e fica tudo desfocado ao meu lado, levei um chute na coxa que não esperava e como um touro sem controle o cara vem para cima com punhos cerrados tentando acertar meu rosto.

Me esquivo, empurro, saio de lado e ainda não acho motivação para acerta-lo, como se não fosse certo bater em alguém que acabei de conhecer. O camarada não era um monstro, ate posso dizer que era praticamente da mesma estatura que eu e mesmo peso, estrutura física, mas algo me deixou preocupado, vi sangue no olho dele, vicio, ódio.. e o que me deixou com medo foi que ele não estava me vendo em frente dele, ele via um outro alguém e esse era o meu perigo.

Naqueles segundos iniciais pude notar que estava vagando em pensamentos, analisando muito, prestando atenção em detalhes que não vinham ao caso; o material da jaqueta jeans que ele usava; se a calça dele era de marca e se ele ficaria mais bravo se por acaso rasgasse; se minha camisa de marca iria se rasgar... Tudo o que nao se deveria pensar ali.
Decido rapidamente arrancar minha camisa e jogar num canto, errado! enquanto me enrolo tirando a camisa levo um soco no estômago que me da ânsia, o ambiente fica estrelado e com uma claridade que cega meus olhos.

Procuro me equilibrar e me apoio em alguém do lado que me empurra de volta pro conflito e então como num passe de magica entro no clima, aquilo aqueceu meu corpo e deixou minha mente alerta. Aqueles poucos anos de capoeira no passado me vêem num instante, acredito que é verdade o que dizem sobre memória física, tudo aquilo que aprendi e por anos nunca mais usei me aparecem naturalmente.

Meu pulmão arde pela respiração rápida e num piscar de olhos consigo leva-lo ao chão numa rasteira, ele me olha com surpresa e naquele momento não existe mais raiva ou ódio em seus olhos, mas sim medo. Ainda não acho nada que me faça ter a gana de massacra-lo, poderia chutar lhe a cabeça ou o estômago e minha hesitação o deu os segundos necessários pra ficar de pé e me mostrar que o tombo em nada lhe afetou à não ser pela resposta surpresa de um movimento tão incomum.

Ele ameaça dar me um outro soco no estômago e ao levar os braços para proteger-me acabo com um tapa no rosto e aquilo desperta algo dentro de mim, o suor que já escorre pelo meu rosto faz com que aquele tapa arda mais do que o normal e então consigo encaixar a palma do meu pé no peito dele o levando ao chão de costas. Ao cair ele perde o fôlego e vejo minha atitude mudar de caça à caçador e num segundo eu estava com os joelhos segurando seus braços e desferindo golpes em sua orelha.

Mas me senti um selvagem e sem propósito,não via prazer se era pra sentir isso ali e não vi meu stress sair, mas a adrenalina subiu e num reflexo percebi que o ponto alto pra mim era a negociação, o estar frente a frente e tentar prever o próximo passo e responder da melhor forma possível. Também noto que me faz bem usar a capoeira, relembrar algumas coisas que fazem parte da raiz brasileira, uma arte e que traz tanta surpresa aos olhos do adversário, mas engano meu achando que ele iria ficar me assistindo ir de um lado pro outro em acrobacias sem ao menos tentar acerta-lo, e foi no meio de uma estrela que recebi a joelhada na costela em troca daquele chute no peito que encaixei nele.

Caio sem ar no chão e só vejo ele se preparando a querer chutar minha cabeça, não consigo ver um pingo de clemência em sua expressão e só me resta defender da melhor forma possível.

O chute é aparado pelo meu antebraço e aquilo dói como o fogo do inferno, ele se desequilibra e uso minha perna para joga-lo ao chão, minha paciência acaba e naquela hora vejo que alguém precisa se machucar feio para que tudo acabe, caso contrário ficaremos nesse ballet a noite inteira. Eu estava melhor posicionado quando ele se levantou e ele não esperava que meu calcanhar alcançaria seu maxilar com tamanha velocidade, nem eu imaginaria que teria tanto sucesso na empreitada.

Quando ele tentou se levantar zonzo e aparentando não saber onde estava eu já havia colocado minhas duas mãos em volta de seu pescoço fingindo um ar de quem não estava de brincadeira e que aquilo tudo iria acabar em segundos e bem mal. Foi quando a platéia silenciosa entrou no meio e nos separou, todos estavam satisfeitos, e meu teatro funcionou, eles acharam que eu estava pronto para mata-lo sufocado.

Aproximadamente 40 minutos depois tudo estava acabado, a coisa toda não levou mais de duas horas, todos se cumprimentam, alguns se servem das cervejas nas sacolas no chão, alguns poucos comentários sobre a performance, alguns se apoiando no ombro do camarada, olhos extremamente inchados com sangue gangrenado, marcas de esfregadas no chão e suor.

Na volta para casa as pessoas não nos olhavam nos olhos, desviavam o olhar, como que por medo e aquilo dava uma sensação de prazer pelo poder exercido sobre os meros andantes, aquelas marcas eram como cicatrizes de batalha nos guerreiros em quem a coragem nunca falta.

Não sou masoquista, não sou de briga, não gosto de confusão e sou de libra.
Mas talvez naquela manhã em que me olhei no espelho eu talvez tenha visto uma outra pessoa com aquelas marcas e roxos no rosto sorrindo de volta, talvez tudo aquilo possa ter sido fruto da minha imaginação e aquele no espelho era eu mesmo escovando os dentes,
sem marcas e longe de se parecer com o Brad Pitt no Clube da Luta...


Friday, 13 November 2009

Outono


Ele dizia a ela coisas de amor, promessas sem fundamento, porém com sentimento, e ela fingia nao entender, e dava lhe seu corpo em troca. Melhor um verdadeiro amante com mentirosas palavras do que falsos amantes e suas explicações absurdas.

Era uma boa troca de ambos lados, à ela um corpo quente e jovem onde se acabar, à ele um refúgio experiente sem a necessidade de se auto afirmar.

Ela em sua loucura premeditada por desprezo e desapego do mundo exterior se apegava aos prazeres da carne e banhos de chuva ao fim de tarde como que para lavar sua alma dos pecados passados, já ele se perdia entre suas poesias sem rima, se escondendo da civilização, uma vez que achava não se encaixar na mesma, entre uma prosa e outra buscava inspiração entre ela, mesmo que por poucos minutos.

As lágrimas dela caíram como folhas de outono, apesar de seu corpo suar naquele verão.

Ele amadureceu e o mundo colocou razão em seu caminho, optou pela fórmula prática e segura de seus avós, exemplo de familia.

Hoje ele senta na varanda e relembra a cor dos cabelos dela nas folhas por cair, vermelhas queimadas pelo sol, e ela, insandeceu naquele outono para não mais ter que chorar.

Tuesday, 27 October 2009

Barcelona, a dama vagabunda


A cidade que é considerada como uma dama por seus habitantes, a qual se deve tratar com doses de carinho e pitadas de desprezo, por definição dos mesmos.Me apaixonei por ela, o que me impede de viver com ela, e ela se apaixonou por mim, abrindo todos os seus segredos de uma só vez.

Não interessa se o que toca nas discos é pop ou música eletrônica, só ouço a guitarra catalã, se nos bares decadentes cospem algo brega, é a guitarra catalã que me vem ao ouvido.

Ela te embriaga e te leva ao monte, sussurra que de cima se vê melhor o seu explendor, sua luz na escuridão, e como promessa cumprida ganho cidade acesa e lua cheia, estrela como bônus.

Barcelona está tão próxima do mar que como marinheiro viejo perco a conta dos dias, caio no feitiço, me perco no calendário e pelas ruas.

Suas tatuagens são de cor forte e viva, seus olhos são azuis, seus lábios rosa e sua pele é queimada pelo sol, dourada por si só, assim como seus cabelos mediterrâneos onde não pode faltar a rosa branca.

Como Gaudí, quase fui atropelado pelas ruas, com tanta beleza por todo lado posso entender facilmente como se caiu encantado e por trágico infortunio por um bondinho foi passado.

Vejo claramente como essa dama conduziu seus exploradores e os fez trazer meio mundo à seus pés no passado, induzindo toda uma população à falar sua língua e doar de mal grado suas riquezas.

Assim como Dickens, comecei à escrever por falta do que ler, para não ficar enjoado de ver o tempo passar, escrevo para o tempo ocupar.
Barcelona tomou me por completo, num café-restaurante me perco entre meu almoço seguido do tradicional capuccino acompanhado de Jazz, unusual and pleasant.

Barcelona torna-se nesse momento em alguém de cabelos amêndoa, olhos levemente puxados e sorriso mais branco que certos azulejos usados por Gaudí.

Ela aproxima-se e pergunta não só o meu desejo para "el almuerzo", mas também o que tanto escrevo.

Tento em meu pobre espanhol explicar à essa Barcelona catalã que mato meu tempo para ele não me matar, alimento minha alma com cafeína para páginas viajar e que de certa forma achei o luxo de no tempo me perder para em seu perfume me encontrar.

Percebo que bulhufas ela entendeu, mas que com tanta paixão à disse, que ao menos um sorriso ganhei...

Se mais dias aqui me quedo, um livro escrevo.
Se mais dias aqui me quedo, tão logo me perco e encontrar-me jámas me quiero, desde que en sus braços, Barcelona.

Pobre Dom Quixote, que pela Espanha sua sanidade perdeu.

Tuesday, 6 October 2009

Gaudí num céu de Monet

Ao chegar em Barcelona sem reserva num hotel e exatamente à meia noite, sem mapa, lenço e quase sem documento, restou me andar sem rumo pela cidade insadecida até o amanhecer.

Um café me salvou até às duas da manhã, quente e acordado resolvi tomar o rumo para a Catedral, num bairro longe e de certo mal cheiro aos sábados durante a madrugada.

Vou com calma, sem pressa, não tenho hora para chegar ou encontro marcado. Passo por todo canto primeiro, Praça de Espanha, Praça Catalunya e então me vejo nas Ramblas dos jovens espanhóis embreagados.

Como toda estrada leva à Roma, acredito que toda calle Catalã leva à uma Catedral, uma vez que estava do outro lado da cidade, e la estava ela, imponente em suas torres como que inquisição apontando para os céus.

Não demora muito a vencer a noite, há tempos sou criatura noturna, me dou bem com ela e fizemos as pazes anos atrás, e acredito que as almas perdidas que tentam me vender coisas ilícitas pelas vielas percebem isso ao me olharem nos olhos e se afastam mais com medo de mim do que eu deles.

E então o céu quebra em cores onde poucos homens conseguiram reproduzir, de súbito vem o medo do amanhecer sagrado, as luzes por detrás da Catedral brinca com minha íris, engana-me com tons que só Monet viu em seus sonhos mais profundos e que tentou reproduzir insatisfatoriamente de acordo com ele mesmo, e que mesmo assim é um triunfo da raça humana.

Num vacilo dos meus olhos tudo se foi, o céu é azul e a claridade toma conta do mundo novamente, já não me sinto tão dono daquele momento, preciso de um café para encarar o sol.

Peço meu capuccinho como de costume em um café tão quão charmoso como os da Champs Elisée, mas aqui pode se optar por um toque de Bailey's.

Do outro lado da rua, vejo um casal visivelmente no rumo de casa após uma noite das melhores, tentando tirar o máximo proveito de seu tempo, agem como dois felinos à provocar-se no que mais parecem serem golpes de sêde ao buscar água na boca um do outro, o olhar fixo mirando um ao outro deixa mais claro que o dia de que eles estão num mundo à parte, só deles e de mais ninguém.

Eu, intruso, peço à conta, junto meus guardanapos rabiscados e sigo meu rumo, afinal Barcelona ainda não foi desbravada por mim, ao menos não nessa encarnação.