Thursday 28 May 2015

O dia em que nos tornamos tédio.

Por volta de 2011, o jornalista Peter Robinson observou a chegada de uma nova era de músicas entediantes, culpando músicas como Someone Like You de Adele e todas criações de Ed Sheeran como "vórtice de tédio".
 
 Nos quatro anos seguintes, esse Novo Tédio Music perdeu seu auge mas continuou a espalhar seus tentáculos de tédio ao longo da vida moderna britânica, com os jovens deixando de encher a cara, abstendo-se das drogas e começando a jogar cartas. E não era nem mesmo o pôquer, com sua aparência grisalha e esfumaçante imagem de fora da lei, mas "Bridge" (um jogo de cartas britânico tão empolgante quanto nosso "rouba-montes") que até nossos avós podem considerar um pouco antiquado.


A União Britânica de Bridge (associação dos jogadores desse jogo) relatou que triplicou o número de jovens membros ao longo dos últimos três anos.

Dada esta triplicação, o número de associados foi de 106 para 344 membros, sugerindo que a vida noturna Britânica está a salvo de qualquer invasão iminente de jovens com cartas na mão por enquanto (dado o número inexpressivo de 344 pessoas..).

No entanto, não é necessária muita imaginação para imaginar clubes de Bridge aparecendo em algumas regiões, com indivíduos usando viseiras engraçadas e portando tigelas de twiglets (salgadinho antigo, conhecido no Brasil como Stiksy), regado com gin e limão amargo.


Houve um abraço incessante do tradicionalismo adocicado como uma opção de vida ao longo da última década.

Está lá no boom do artesanato, como tricô e crochê, em homens de vinte e poucos anos com bigodes, em cervejas caseiras e hortas cultivadas em apartamentos, nessa foto viral do homem sentado no Starbucks datilografando em sua máquina de escrever, parecendo uma ameixa.

Noah Baumbach mostrou tudo isso em seu mais recente filme "While we are Young" (Enquanto somos Jovens), sobre um casal interpretado por Adam Driver e Amanda Seyfried, preferindo VHS ao invés de DVD, fitas cassetes e disco de vinil ao invés de downloads; eles se recusam a buscar no Google um fato com seu iPhone, melancolicamente optando por simplesmente não saber a resposta a alguma pergunta.


Quando esta pseudo-autenticidade é adotada como uma identidade, ela está madura para a zombaria, e Baumbach faz isso com precisão. É fácil zombar da vida transformada em um pôster de "Keep Calm and Carry On" servida com pão de ló.

Esta batalha vai nos definir. Temos de proteger as nossas crianças da austeridade.

Mesmo que me doa tanto tentar montar uma defesa, esta entrega ao entediante é largamente compreensível, e talvez até inevitável.

Há um conforto na vida caseira, não importa o quão artificial esta iteração possa ser.

Quando todo mundo está falido e o futuro parece cada vez mais sombrio para quem tem menos de 30 anos, nos agarramos na segurança e tudo que nos parece familiar, que remonta um passado que parece menos nebuloso.

Além disso, como é que uma geração  se rebela contra os pais que fumam maconha, usam Converse e ouvem Arcade Fire?

Isto é, penso eu, não é o mesmo que usar um gramofone para ouvir High Flying Birds do Noel Gallagher, enquanto degusta-se uma cerveja artesanal.

Adotando um estilo de vida entediante  é como tentar abrandar o ritmo de uma ofensiva cultural aparentemente incessante e tentar dar uma respirada.

Se você estiver entre os 20-30 e poucos anos, talvez você tenha notado seus amigos declarando-se "corredores", ou aderindo a clubes e academias, e dizendo ”não” ao convite de uma tarde no barzinho porque estão em treinamento para seu segundo triathlon.
Talvez eles estejam fazendo aulas de cerâmica ou aderindo a um coro na comunidade.
Talvez eles estejam sendo a vanguarda no renascimento dos jogos de tabuleiro e baralho, criando o primeiro campeonato de “rouba-monte” do bairro.

Recentemente, tornei-me um chato.

Em minha última viagem de férias fui com um grupo de amigos para Ibiza; a maior parte do tempo me senti mal, me sentia velho e rabugento, e a única coisa que pensei nunca ter visto antes na vida era uma mulher nua em um trapézio com uma tocha de laser enfiada na bunda mirando a multidão. Era hora de repensar.

Quando todo mundo está falido e o futuro parece cada vez mais sombrio, nos agarramos na segurança e tudo que é familiar, que remonta um passado que parece menos nebuloso.

Então, desta vez nas férias, eu fiquei na casa de um amigo em uma pequena vila no interior. Eu cozinhei, ouvi música e muita leitura.

Saí para longos passeios vestido em roupas de cidade que não eram apropriadas para o campo,  olhando para o carregamento lento do mapa no meu iPhone (não há muito sinal no interior),
e imagine só que que eu descobri ser muito mais fácil checar as placas de sinalização e conversar com os aposentados (vestidos em roupas apropriadas para o campo) do que ficar balançando meu celular no ar, buscando por um sinal.

Aproveitei para fazer uma trilha chamada Monsal, um caminho antigo por onde passavam comboios de trens de carga, hoje uma trilha abandonada que foi transformada em uma rota idílica para os caminhantes e ciclistas, disse olá para cada pessoa que passou por mim. Também fui a um lugar chamado Chatsworth House, que lembra muito o cenário de “Orgulho e Preconceito”, em seguida sentei me nos jardins pensando apenas sobre como tudo fica sob o sol. Foi de longe o feriado mais chato que eu já tive.


Quando eu voltei de uma semana em Ibiza, eu estava uma pilha de cacos. Desta vez, eu senti como se eu tivesse vindo à tona para respirar. Eu estava entediado e feliz. E além disso, nada faz você se sentir mais jovem do que ser a pessoa mais jovem em um grupo onde todos tem 40 anos ou mais.

Livre tradução do texto de Rebecca Nicholson "I have become boring and happy".
http://www.theguardian.com/commentisfree/2015/may/26/i-have-become-boring-and-happy?CMP=fb_gu

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