Thursday 30 July 2009

Os livros e eu

"Livros são espelhos, só se vê neles o que já está dentro de você." retirado do livro "The Shadow of the Wind" - Carlos Ruiz Zafón

Meu primeiro livro foi aos 8 anos de idade, tenra idade para se começar a ler e um tanto prematuro, mas como fui cobaia da minha tia que na época fazia o magistério, acabei não só aprendendo a ler bem cedo, como ganhei um livro chamado "Os Barcos de Papel" - José Maviael Monteiro, da então famosa coleção Vagalume.

A história de alguns garotos que ao brincar com seus barcos em um lago próximo a uma caverna, resolveram desbravar o interior da mesma e acabaram se perdendo e daí então vivendo uma aventura digna de Indiana Jones. Nessa história, a maioria dos garotos que eram ricos e tinham seus barcos com motores, zombavam de um pobre coitado que sem dinheiro, acabava por construir seus navios em papel, como toda história com fundo moral, o desfecho do salvamento de todos eles foi graças à engenhosidade do moleque pobre, que vendo o fluxo da água indo por entre as rochas da caverna teve a idéia de então soltar seus barcos para que saíssem até o lago, de onde os pais pudessem notar que ainda estavam vivos e de alguma forma tentando se comunicar.

Engraçado como vinte anos depois, ainda me lembro como se fosse ontem todo o enredo daquela história e o quanto eu queria estar entre eles, com esse livro descobri um mundo à parte, onde pude desbravar o universo sem sair do meu sofá, dali para ler toda aquela coleção foi um pulo, à cada livro lido, tentava de alguma forma reproduzir as peripécias dos personagens, acredito que cada história trazia um colorido à minha vida, uma idéia à ser posta em prática.
Como não via a hora de acabar a leitura para poder tornar aquilo real, acabei desenvolvendo o que algum espertinho tirou vantagem e criou até um curso chamado "leitura dinâmica", algo que ensina o indivíduo a ler determinadas páginas em poucos segundos e gerar um resumo mental. Acabei aprontando cada uma que até hoje minha família não acredita como eu era capaz de "inventar" tais maquinações, respondo facilmente: livros...
Quem dera nossas crianças de hoje tivessem a paciência para ler como tantos de nós tivemos no passado, o mundo deles seriam tão mais "criativos", de certa forma tão mais proveitosos...

Um dos motivos pelo qual tive de aprender a ler rapidamente foram os finais de semana em Piracicaba, tínhamos família lá e na casa da minha tia-avó havia uma pequena biblioteca pessoal da minha prima, um tesouro sem tamanho era como eu descrevia tudo aquilo, porém geralmente chegavamos na sexta-feira e voltavamos no domingo à noite, sendo assim precisava devorar cada livro nesse período de tempo, pois não tinha costume de pedir emprestado e até mesmo por que minha prima não permitia. Nada demais, devorei a coleção inteira e sinto uma saudade imensa do cantinho onde eu me escondia dos primos e ficava quietinho em meu mundo particular.

Toda minha família apostava que eu um dia seria Advogado, pois diziam eles que todo Advogado era um leitor compulsivo, e que para ser um Advogado, tinha que gostar de ler muito como eu. Não discordo das teorias, mas acabei mesmo é virando médico, doutor em computadores, vendi minha alma ao Bill Gates e arrendei meu coração ao Steve Jobs (não vivo mais sem meu Ipod).
Mas voltando aos livros, o último que acabei de ler, chamado The Shadow of the Wind, conta a história de um garoto filho de um livreiro que é levado pelo pai à um "Cemitério dos livros esquecidos", para que escolha um entre o labirinto de corredores daquele lugar secreto e que o guarde para a vida inteira. Se já não fosse interessante pelo fato de o lugar ser guardado à sete chaves, ser conhecido apenas pelos célebres livreiros de uma Barcelona em meados de 1945 e que a tradição do descobrimento era passado de pai para filho, ainda assim a história vem cheia de paixão em todas as formas, tem início após o garoto ter escolhido um livro que foi destinado ao exílio, e que pela curiosidade de seu novo dono, acabou sendo perseguido durante anos, tendo em seu encalço personagens pra lá de curiosos.

Quando tinha a mesma idade que o garoto do livro, costumava ir à biblioteca no centro da cidade, a aventura começava por pegar o ônibus sozinho e conseguir fazer todo o trajeto sem me perder, ao chegar lá ficava meio bobo, pasmo com tantas opções, de certa forma em minha cabeça achava que tudo aquilo era meu, o que não deixa de ser verdade, era tudo do público em geral, mas gostava de pensar assim, meu. O silêncio era algo confortante e ao mesmo tempo enlouquecedor ver tanta gente no mesmo lugar, e todos respeitando o sagrado local.

Os anos passaram, hoje leio em três línguas diferentes, querendo começar uma quarta, e se faltam horas em meu dia para dar conta de minhas leituras, imagina o quanto de tempo falta para tentar reviver cada história...


Monday 27 July 2009

Nunca é tarde demais...

Diálogo retirado do filme "O misterioso caso de Benjamin Button"

"For what it's worth, it's never to late,

or in my case, too early, to be whoever you want to be.

There is no time limit, start whenever you want.

You can change or stay the same.
There are no rules to this thing.

We can make the best or the worst of it.

I hope you make the best of it.

And I hope you see things that startle you.

I hope you feel things you never felt before.

I hope you meet people with a different point of view.

I hope you live a life you're proud of.

If you find that you're not,

I hope you have the strength to start all over again."

(tradução livre)

"Para aquilo que vale a pena, nunca é tarde demais,

ou no meu caso, muito cedo, pra ser quem você quiser.

Não existe limite de tempo, comece quando você quiser,

Você pode mudar ou continuar o mesmo.
Não existe regras pra esse tipo de coisa.

Nós podemos fazer o melhor ouo pior de tudo isso.

Eu espero que você faça o melhor.

E espero que você veja coisas que te assustem.

Eu espero que você sinta coisas que nunca sentiu antes.

Eu espero que você conheça pessoas com ponto de vista diferente.

Eu espero que você viva uma vida em que se orgulhe.

e se você descobrir que não,

Eu desejo que você tenha a força pra começar tudo de novo..."

Sunday 19 July 2009

Não é todo dia que se chega aos 30...

Hoje, 19 de Julho - Domingo, é aniversário desses dois aí da foto, Anelise e Anderson (Ane e Gaúcho pros íntimos), um casal de irmãos gêmeos que ganhou um irmão pentelho à muuuitos anos atrás e que até hoje os atormenta.

Ao invés de simplesmente mandar um recadinho no Orkut dizendo o de sempre - "PARABÉNS, feliz Aniversário, tudo de bom, muita felicidade, muita saúde, dinheiro e sucesso", (não que eu deseje o contrário) preferi relembrar alguns momentos desses anos em que nos conhecemos, e tentar expressar um pouco do motivo pelo qual nos consideramos família por opção, por escolha própria e livre arbítrio.

Poderia ligar também, mas como toda família gaúcha que se preze, provavelmente estarão bem ocupados com o churrasco e qualquer distração com telefone só iria queimar a carne.

Tudo começou em 1900 e bolinha, não vou falar exatamente o ano senão me sentirei velho, acabamos nos conhecendo por acaso de amigos em comum, galera que brincava junto na rua, a famosa gangue juvenil que andava em bandos pelo bairro, haviam chego de Passo Fundo no Rio Grande do Sul à pouco tempo e moraram primeiramente no mesmo bairro que eu, e como toda boa amizade, levou-se alguns anos pra gerar aquela confiança e maturidade de amizade verdadeira.

Tínhamos as mesmas bicicletas eu e o Gaúcho, porém a minha era um tanto velha e a corrente escapava direto, engraçado era o quanto eu ficava bravo quando a gente saía pra passear e paquerar as menininhas e a minha bike resolvia dar pau, lembro do quão bravo eu ficava dos moleques dando risada da situação, eu pulando em cima da bicicleta como um homem das cavernas, tentando em vão destruí-la com minha f'úria e até hoje ele faz questão de me lembrar da cena.

A gangue juvenil também tinha um esporte bem perigoso que era o Polícia - Ladrão com armas de pressão do Paraguay, quando não treinavamos com os gatinhos da vizinhança acabavamos por tentar acertar as costas dos parceiros e daí já viu, só encrenca. Por morar no interior tínhamos vastas regiões verdes pra explorar e montar cenários de guerra, azar o nosso foi quando sem querer nossas armas de pressão atingiram uma colméia fenomenal de abelhas assassinas, escapamos por pouco e mesmo assim muita gente ficou com alguns ferrões pra contar a história.

Curtíamos também entrar em lamaçal e ficar escorregando de toda forma imaginavel, além é claro, das guerrinhas de barro que doíam tanto quanto as armas de pressão do Paraguay.
Essa foto foi numa dessas aventuras, tirada pela dona Lourdes - mãe dos gêmeos e minha mãe postiça, um pouco antes de tomarmos um banho de mangueira no jardim da casa deles, acredito que tenha sido em 1991-1992.

Fomos Escoteiros também, aprendemos a dirigir na mesma época, devíamos ter uns 15-16 anos de idade e nossos pais tínham um Corcel II, fazíamos apostas ridículas só pra se aparecer pras menininhas (uma delas foi que eu deveria passar de bike na frente de uma multidão com a calça abaixada mostrando a bunda, não me pergunte o que isso somou em popularidade com elas..).

Tivemos uma equipe de DJ's, onde cada um entrava com algum equipamento e expertise pra fazermos os "bailinhos", e quando chegou a época do colégio, sem ninguém ter combinado, acabamos estudando juntos - mesma classe, nos formamos técnicos eletrônicos, nesse meio tempo eu e o Anderson acabamos trabalhando juntos na mesma assistência técnica, dividimos marmita, pão pullman com mortadela ou presunto e mussarela e toddynho, muitas risadas se seguiram nesse tempo e então tivemos nossos primeiros carros, depois nossas motos - e que motos - mesma cilindrada (mas a minha sempre andava mais ;-), nossas carreiras seguiram cada uma pra uma direção mas cada qual com seu caminho direcionado, não longe um do outro, nada diferente na procura pela felicidade.

Em momentos de crise na adolescência eu sonhava morar com eles, fugir de casa era sempre uma possibilidade (nem todo mundo é perfeito, nem todo mundo é são à todo o tempo), e pra mim essa família era e é um exemplo de relacionamento, claro que hoje mais maduro vejo claramente que minha família também era e é perfeita, só dependia de perspectiva.

A Ane sempre foi a irmã que eu não tive, alguém que me deu conselhos sobre como "xavecar" as garotas, me deu conselhos (que eu quase nunca escutei, sempre fui teimoso), e que sempre tirou sarro das minhas bochechas, mesmo assim nunca guardei mágoa, só uma vez que dei um susto nela que valeu pelo resto da vida, e essa história, eu sempre deixo pra ela contar...

Hoje esses dois estão casados, a Ane esperando o Raul, seu primeiro filho, e ambos felizes com o sorriso chegando nas orelhas, cada um com seu par ideal, cada qual com seu sucesso pessoal e acredito que na soma desses 30 anos de idade, estamos indo por um bom caminho, e sinto um orgulho de tê-los como parte da minha vida.

Parabéns e tudo de bom,
Checha (apelido derivado de "boCHECHA" que eles me deram carinhosamente na infância)

Friday 17 July 2009



Thanks God it's Friday =)

Engraçado como religião e paganismo se misturam sem que muita gente perceba, pois hoje em dia todo Americano ou Inglês bufa pelas ruas logo pela manhã "Thanks God, it's FRIDAY !" seja ele cristão, ateu ou torcedor do corinthians.

A explicação pode ser um tanto complicada, visto que Friday vem da palavra antiga inglesa "frigedæg", que significa dia de Frige a forma Anglo-Saxonica de Frigg, uma tradução Alemã do Latin "dies Veneris" = dia de Vênus.

O que poucos sabem é que nos tempos antigos, numa era bem distante, os pagães determinavam cada dia da semana pelo culto à um Deus, que hoje conhecemos como os Astros, Lua, Sol, Marte, Vênus e por aí adiante, com a criação do calendário da forma como conhecemos hoje pelos Romanos, tivemos a adaptação e tradução pra muitas línguas, fundindo assim religiões, cultos pagães e criando um monte de gente que não vê a hora da Sexta-feira chegar.

Como ninguém é de ferro, fui ao cinema depois da labuta e apesar do meu constrangimento em convidar amigas ou amigos pra ir ver o novo Harry Potter, surpresa foi a minha ao chegar e encontrar uma fila gigante na porta do cinema, detalhe: de ADULTOS !! Parei por algum instante e percebi que havia lido a primeira edição do Harry Potter à 10 anos atrás, e assim como os atores do filme cresceram, tanto eu como todo mundo também, independente da idade que temos hoje, muitos que leram anos atrás a história do bruxinho, querem ver suas mirabolantes criações mentais se tornarem carne e osso na telona, incrível mesmo é saber o final da trama e continuar batendo cartão à cada estréia, coisas do ser humano.

Enquanto esperava a hora de entrar na sessão, passei pela livraria mais próxima, meu paraíso estava em liquidação, achei um livro de receitas italiano só de macarrão, um livro gigante sobre a vida e arte de Michelângelo e um sobre personagens considerados heróis pela humanidade, pessoas de carne e osso que desde a antiguidade vem inspirando muita gente com seus feitos e glórias. Minha biblioteca por aqui tem aumentado exponencialmente, ao mesmo tempo que olho minhas prateleiras com orgulho, me dói saber que vai ser um sufoco levar tudo isso pra casa (verdadeira casa, Brasil..).

Hoje durante o dia, em meu break-time, estava eu sentado na sala de espera do hospital lendo Charles Dickens (resolvi atacar de clássicos da literatura inglesa, nada fácil diga-se de passagem) quando um senhor me abordou, sutilmente puxou conversa, vendo meu capacete do lado perguntou que moto era a minha, disse-lhe que era uma Honda econômica e sem adrenalina, então ele abriu um sorriso de poucos dentes, contou-me em meia hora um resumo de seus 82 anos, disse também que até hoje pilota sua moto, uma Triumph de 900 cilindradas comprada zero KM em 1957, porém com supervisão de seu filho de 41 anos que não o permite ultrapassar os limites de velocidade.

Teimoso como uma criança, confidenciou que uma vez na estrada, difícil para seu filho é segurá-lo em rédeas curtas, é o momento dele, a prova de que com espírito jovem e rebelde latente se vai ao longe e em duas rodas. Quando comprei o livro sobre os heróis da humanidade, pensei nesse senhor, que virou naquele momento de minha tarde monótona meu herói particular, alguém que com 82 anos continua audaz, vivenciando cada segundo da mesma forma que fazia à 40-50 anos atrás, inspirando pessoas e mostrando que com força de vontade tudo se pode.

Pobre Cazuza que perdeu seus heróis quando morreram de overdose...

Thursday 16 July 2009

O nascimento de uma alma

"o nascimento de uma alma é coisa demorada
nao é partido ou jazz, em que se improvise
não é casa moldada lage que suba facil
a natureza da gente não tem disse me disse




no balcão do butiquim a prosa ta parada
não se fala da vida não acontece nada
se não faltasse trabalho no meio do barulho,
o dia sobra e sobra muito
papo de surdo e mudo... "

Assim como na música d'O Rappa "Papo de Surdo e Mudo", acho que a criação de um blog parte do mesmo princípio, de que o nascimento é coisa demorada, não é partido ou jazz que se improvise, longe de ser fácil tanto como subir lage em casa pré-moldada.

Se a prosa no butiquim tá parada, então esse vai ser um espaço onde colocarei algo pra movimentar e pra se falar da vida, pois tenho percebido que o dia tem sobrado na minha, e essa sobra à partir de hoje será preenchida com algumas linhas, pensamentos, idéias, contos e histórias passadas.

Já tive à alguns anos atrás alguns fotologs, coisa de adolescente (nada de errado com isso, porém acredito que naquela época os textos devem ter sido um tanto rebeldes), mas após algum tempo acompanhando o blog de dois Jornalistas amigos meus : Rimene Amaral e Aline Leonardo, acabei criando essa vontade de escrever de novo, de compartilhar uma risada do passado, um choro do presente e uma esperança do futuro (não necessariamente nessa ordem dos acontecimentos), e creio que chegou a hora de desmantelar o teclado do computador diariamente.

Não esperem uma ótima ortografia como de meus amigos Jornalistas, apesar de minha paixão pela língua materna, minha língua Portuguesa "do Brasil" (como dizem aqui na Europa), que tanto amo e aprecio, já faz algum tempo que não à tenho em uso, então peço perdão em adiantado.

O nome do blog veio da frase que desde muitos anos atrás tenho usado, O mundo é meu quintal, prova disso é o não ter medo de correr por esses pastos, sejam eles verdes, cinzas, queimados pela neve ou amarelados pelo sol, e provavelmente no decorrer dos dias vocês perceberão o quanto essa frase está marcada em meu sub-consciente, o quanto meu coração busca orientar meu ser por entre diferentes culturas, povos, paisagens e momentos coletados nesse infinito globo com tanto pra se ver.

Ficarão aqui registrados fatos, acontecimentos e detalhes não só do meu dia-à-dia, mas de muita gente ao meu redor e de lugares por onde tenho passado, coisas que considero importante não ficar no esquecimento, quisera eu poder ter esse papo num butequim, mas como em toda moeda tem duas faces, na minha moeda tenho de um lado a alegria de ser um andarilho e na outra à de ser um distante amigo.

Como teoricamente uma página da internet, como esse blog, não fala e não escuta, levo essa brincadeira como um "Papo de Surdo e Mudo", valeu Falcão pela inspiração, e mesmo não falando ou escutando, teremos espaço de sobra pra comentários, sintam-se à vontade pra preenchê-lo !