Thursday 23 February 2012

Rise and Fall

...Quisera ele, deixar essa estranha dor de lado, do inconsciente, inconsequente ser que assola o pobre mortal, que mesmo de aviso, ainda assim cai nas garras do destino, esse indomável em forma de qualquer, mulher, cabelos longos, unhas e dentes.

...deixara ele ser sugado por tamanha paixão, veneno daqueles que matam devagar, lento como se movem as dunas no Sahara, sem medo, escrevera como louco por noites a fio, e se assim não fosse, as vozes o deixariam em estado catatônico pela manhã de sol, sem luz em seus olhos, sem calor em sua respiração.

...o que acontece de verdade é que a cada palavra escrita, é como se fosse um pedaço arrancado daqui, e no fim, haverá somente alma, irrefutável, etérea, inóspita num mundo cinza, prestes à amanhecer e mostrar suas luzes.

...e mesmo sabendo, do perigo que o rodeava, do amor que já o havia tomado por outras vezes, e que tantos anos lhe roubou, sua juventude, sua alma, sua força e vitalidade, deixando como pó o homem solto naquelas dunas do tempo, o qual por milênios, assim parecia, tomou forma novamente, grão à grão de areia, tornando-se novamente aquele que nascera para ser, inteiro, sem meias metades, sem meios termos, completo de novo.

...e pronto para se perder de novo, embarcou ele em mais um destino sem volta, abrindo caminho por entre, céu, terra e mar, cortando o fogo daquele inferno de Dante, deixando para trás os conselhos dos mais sábios, aventurou-se por entre o desconhecido, vingou-se do conhecido, sorriu para os descrentes, mostrou os dentes para os crentes, soltou a vela daquele barco e pôs-se a cantar rumo à um norte qualquer.

...e as cartas já não as leio mais, mas perceba, não me desfiz, em algum lugar ficará por muito tempo, uma eternidade, e quem sabe um dia, em que eu busque por um amor daqueles de filme, daqueles que funcionam como nos sonhos, só então procurarei aquelas palavras soltas ao vento, quem sabe para inspiração, quem sabe apenas para recordar uma juventude irresponsável onde brincávamos com os sentimentos uns dos outros. 

O mundo deixou de ser seu quintal por um tempo, já não via mais a passagem por entre a cerca estreita com ramos soltos convidativos, já não enxergava as portas abertas da sala em direção à rua, a janela deixou de ser um alento aos seus sonhos.

Dessa mesma janela do alento, um dia à pouco saiu em direção ao céu, como Ícaro, quis chegar até o sol com asas de cera, muito próximo cheguei, pude tocar com minhas mãos o calor intenso, e de tão próximo, me queimei e tive cicatrizes, ficarão por um longo tempo, mas vai passar, já tem passado.

Decidi fechar os olhos, procurar sentir uma brisa de qualquer que fosse a direção do vento, me deixar guiar, e com coragem, vesti novamente as botas gastas,o jeans malhado, e a camisa de forro velho, fiz a barba, lavei os cabelos, apertei o laço da bota e o cinto velho, com esforço me levantei daquela cadeira antiga deixada no canto da sala, deixei a preguiça me tomar por um instante, por pouco quase desisti, mas com alguns tapas nas pernas cansadas, espantei o pó, puxei uma gaveta daquele armário ancião, arrastei de dentro a mochila ranzinza, que teimava em reclamar, já se dizia aposentada, já não mais queria me servir.

Com um pouco de brutalidade empurrei coisas dentro daquela mochila de uma outra era, de um passado glorioso, suas alças já não eram as mesmas, rôtas, gastas e quase esfarelando, à ponto de arrebentar a qualquer segundo, pedi com gentileza que me agraciasse somente uma vez mais, e então à deixaria descansar por uma eternidade...

Nessa época da vida já se foi atingido várias vezes pelo amor e este já não evolui por si mesmo segundo as suas próprias leis desconhecidas e fatais, ante o nosso coração atônito e passivo.


Uma vez mais me deixo levar, pela estrada, sem rumo, sem defesas, sem pressa, trazendo comigo aquilo que me faz bem, pronto para tudo, que me leve outra vez para aquele porto seguro, de onde partirei naquele barco ancorado a minha espera, em direção ao norte, mas não um norte qualquer.