Monday 18 November 2013

Vintage

..ainda sonho com aquela kombi.

das ripongas mesmo, cheia de símbolos daqueles de paz e amor, colorida em tons pastéis ou azul calcinha, flores e adesivos retrô, com aquele cachorro que balança a cabeça grudado no painel e todo espaço do mundo para acomodar as quinquilharias adentro.

Tinha que ter a prancha amarrada em cima, e a bicicleta atrás.

Daquelas que a gente para nos mirantes da vida pra ver o pôr do sol, sentado no teto, tomando uma cerveja, causando inveja e comoção nos transeuntes endinheirados, em seus ternos bem lavados.


 Daria carona aos pobres passantes (ricos também, de preferência os de espírito), mas em troca pediria uma entrevista, daquelas em que nos enriquece a alma, daquelas que nos dão sorriso e que puxam as histórias mais tristes, afinal de contas, o mundo é feito de experiências vividas, e sábio aquele que consegue aprender com os erros e acertos dos outros. Anotaria tudo num caderninho.


 Sonho ter a vida simples como a manutenção de seu motor, que por aí dizem que se conserta com um pedaço de arame e um alicate, mas me faltam "cojones" para cair nessa estrada, nesse way-of-life. A vida imagino, deveria ser bem mais bela se possível consertada com um pedaço de arame e alicate, hoje é tão complicada que precisa de muita coisa, é tablet, smartphone, carro novo e Instagram.

Sair por aí, descer a serra livre sem trânsito de feriado prolongado, devagar e sempre, como se fazia antigamente, pausas para esfriar o motor e a cuca, se fumasse, acenderia um cigarro e faria sinais de fumaça pra matar o tempo.

Encostaria a lata velha em algum canto de praia, de olho na maré, fecharia as cortinas, armaria a mesa ao lado, puxaria uma lona pra fazer de varanda, ligaria o lampião, contemplaria o pôr do sol e acompanharia a loucura dos insetos da noite rodeando a luz alimentada de querosene.

Pescaria nas manhãs o almoço rico em proteínas, puxaria uma rede e me contentaria numa caneca de café com um livro daqueles sem tempo pra acabar, tempo não me atinge nesse lugar, nesse estado (de espírito), nesse canto de mar.

Escreveria a todos cartas de próprio punho, coisa do passado, mas que ainda causa calafrios nos desavisados, aquele papel colocado na caixa do correio vindo sabe-se lá de onde, daqueles que vem com o cheiro do lugar, que se lê imaginando o cenário, sentindo o vento que batia quando ali alguém escreveu, do borrado de algumas gotas de chuva de um entardecer nublado, de um amassado do balanço na rede.

Contaria em minhas cartas as amizades que por ali fiz, dos personagens de uma história corrente, dos desatinos dos finais de semana febris, dos problemas de uma vida simples e seus consertos a base de arame, da engenharia antiga de como se lavar a roupa na beira do rio.

Escreveria sobre o futebol de fim de tarde caiçara botando apelido em todo mundo, tomaria cachaça de vez em quando só pra acompanhar os velhos, ajudaria a puxar a rede de arrastão pra ver se ganharia desconto num peixe gordo, e quando naquele lugar, todos soubessem meu nome, então seria hora de partir, buscar por outro canto, outras histórias, ver mais estradas, riscar outros mapas - deixar se perder.