Friday 4 December 2009

Freezing cold outside...

It's freezing cold outside and here I am grabbing my cup of cappuccino with one hand and typying in my brand new phone with the other, thinking: "it's about time to try to write in English"...

It's not like writing an essay, nothing really technical but also very hard to do because usually I talk about feeling and sometimes I'm still thinking that I'm not comfortable with that. Expressing feelings is one of the most dificult thing for people even in their own language, and then you sum the fear of grammar errors and mispellings.

One of my English friends were asking me so many times to tell her what exactly I've been writing so often in my blog, and to translate it for her, of course. She was sort of disapointed when I said that mostly Brazilians friends were the ones who I write for.

She encourage me to write now and again, not just to practice what I learned, but to open my mind in other ways to express myself when I feel that my native tongue doesn't have the words to do that.

She also said that as long as I'm doing it with beggining, middle, putting an end and some sense, I will be ok.

I don't want to let my Brazilians friends down doing that, once again I can tell that some day I'm gonna talk about all this historys over a bar table having a good round of drinks.

Today is just another cold day like every winter in England, with the difference that sun is shining this morning, this kind of light (even cold) cheer us all up, putting a smile on people's faces.

These past days were so rainy that I was close to buy my flight ticket straight to home land, but somehow I realize how fond of rain I am, suddenly I accepted the weather not as a misfortune, but as a weird gift from the sky above, to wash all this dirty on earth.

This quote about the dirty was in the Taxi Driver's movie when DeNiro took a guy, who was running for New York's major election, for a ride. Incredible how so many years on and we still battling corruption and evil all around us.

I'm not radical in these terms like DeNiro's character was, and to be honest, my intention in talk about the rain is to show people that if you are prepared for any kind of situation, you will be fine and now I know that putting good water proof clothes on I can even enjoy that moment, I took myself singing and smiling in the rain, when everyone else were cursing and in no mood outside my world.

The reason why I believe is once you have chosen your path this means that you have to walk all this way down to find peace, you will just have to do it and much better if smiling than raising hell.

Our lives run fast, faster then we thought when younger, and a good way to spend it is enjoying every moment, don't take it from self-help books, find it from your inner self, don't force a situation, if you smile when you are not feeling like you will end up with some pretty bad marks on your cheeks.
There's no recipe for this magic, it will happen some day in your life, I really hope that it happens to you (or had happened) in this early stage.

Finally, I want to thank Emma, this very friend of mine, for inspiring me with her smile and childish behavior, pushing me to cross the line between two languages promising that I'll do it over and over again, despite the weather =)

Tuesday 24 November 2009

Uma noite no Clube da Luta

Não espere poesia ou trivialidades, e se você não quer se chocar melhor esperar até o próximo post.
This is London, mate !

Antes do filme teve o livro e muito antes do livro houve a história real que acontecia (e continua acontecendo) no submundo Londrino, de onde surgiu a inspiração para tais meios.
Incrível a habilidade que tenho para conhecer as pessoas certas para as coisas erradas...
Sexta-feira à noite, saio com um amigo inglês, :'vamos a "caça"' como diz ele, de bar em bar e de balada em balada, porém no meio da madrugada percebemos que a noite nos enganou e só nos trouxe decepções.

Pergunto se ele sabe de alguma festa em apartamento, rave clandestina ou qualquer coisa que possamos nos divertir.. Vejo um lâmpejo passar por seus olhos e percebo que coisa boa não vem..
Ele saca o celular, faz algumas ligações e meia hora depois estamos na porta de um prédio no centro de Londres, totalmente escuro num beco sem saída, sem alma-viva por perto.

Algumas mensagens trocadas no celular e a porta se abre, em menos de 5 minutos ele me explica as regras e se eu entro ou não.
Regras: * uma vez lá dentro, ao menos em uma luta terá de participar;
* não se comenta o que acontece lá dentro aqui fora;
* não se faz barulho, não existe torcida, não se interfere;
* se acaso encontrar algum membro fora daquele lugar, faz de conta que não conhece;
* não matarás, mas pode tirar sangue à vontade.

Decido que quero saber como é por dentro...

O lugar cheira urina, aparentemente algum vigia noturno foi subornado para que pudessemos usar aquele porão, que além da urina deveria estar infestado de ratos, insetos, encanamentos de esgoto enferrujados, com vazamento e tanta coisa mais perdida pela escuridão daquele submundo. Os personagens no lugar parecem parte de um filme B, cada qual com seu papel.. mas eram ali reais, de carne e osso.. alguns engravatados de escritórios, banqueiros, pedreiros, caixas de supermercado, policial novato, policial quarentão quase aposentado.

Quando fiquei ciente de que esse tal clube existia de verdade, achei que seria uma espécie de vale-tudo, mas até aquele ponto percebi que tinha regras demais. Uma delas é nunca bata na porta, nunca ligue para abrirem a porta, o correto é mandar mensagem no celular do contato.
Não existe segurança cuidando da porta ou porteiro, ninguém pelo menos que se parecesse com um ou que estivesse agindo como tal.

O lugar não tinha nada de diferente de um porão de predio comercial, nenhum arranjo para o evento, mas percebi umas latas de cerveja numas sacolas plásticas deixadas num canto onde imagino serem máquinas de lavar roupas industriais entre tubulações gigantes de aquecimento do prédio. As pessoas ali agrupadas tambem não se pareciam nada como eu havia imaginado, nenhum personagem recem saído de um filme de luta.

Alguns cheiravam álcool, uns colônia barata e outros não cheiravam,fediam..
Tampouco se vestiam "para matar", não vi botas ou coturnos para intensificar a dor nos oponentes, também não vi nenhuma espécie de acessório para se proteger como caneleiras, jaquetas ou luvas. Os caras eram meros mortais ali reunidos para pôr o stress afora e o adversário nada mais era do que um alvo móvel, não era uma rixa pessoal ou vingança, e isso eu só fui absorver após uma hora tentando analisar a situação.

Diferente do vale-tudo eram as táticas entre os lutadores, não havia objetivo como neutralizar o outro, mas sim desferir os golpes sem muita técnica e com o máximo de força e raiva possível, de preferência no rosto. Qual seria essa obsessão com o rosto? Estariam eles vendo a imagem do chefe ignorante reproduzida no rosto um do outro? Seria a cara da mulher que o traiu? Ou seria o medo interior que seria impossivel lidar durante a luz do dia?

Não existe beleza naquilo, para ser sincero acho que não existe beleza nessa realidade nua e crua, mas aquele caos, com o silêncio quebrado só pelos grunhidos de dor e satisfação me tomam em um transe, fico perplexo como aquilo tudo se parece tanto com uma rinha de cães.
Meu transe só é quebrado quando meu amigo diz que um deles apontou para mim e que seria minha vez de "quebrar o pau" e ficar livre da responsabilidade da noite, ninguém sai sem ao menos uma luta, nem que seja para entrar na roda, tomar um tapa na cara e pedir pra ir embora.

O sangue sobe ao rosto, imagino que devo estar vermelho como um pimentão, e isso pode parecer sinal de fraqueza e medo às pessoas ao redor, e ao invés de estar pensado o que fazer no meu próximo movimento estou mesmo é preocupado com o que a torcida esta pensando de mim.
Mas isso tudo leva questão de segundos, de repente tudo some e fica tudo desfocado ao meu lado, levei um chute na coxa que não esperava e como um touro sem controle o cara vem para cima com punhos cerrados tentando acertar meu rosto.

Me esquivo, empurro, saio de lado e ainda não acho motivação para acerta-lo, como se não fosse certo bater em alguém que acabei de conhecer. O camarada não era um monstro, ate posso dizer que era praticamente da mesma estatura que eu e mesmo peso, estrutura física, mas algo me deixou preocupado, vi sangue no olho dele, vicio, ódio.. e o que me deixou com medo foi que ele não estava me vendo em frente dele, ele via um outro alguém e esse era o meu perigo.

Naqueles segundos iniciais pude notar que estava vagando em pensamentos, analisando muito, prestando atenção em detalhes que não vinham ao caso; o material da jaqueta jeans que ele usava; se a calça dele era de marca e se ele ficaria mais bravo se por acaso rasgasse; se minha camisa de marca iria se rasgar... Tudo o que nao se deveria pensar ali.
Decido rapidamente arrancar minha camisa e jogar num canto, errado! enquanto me enrolo tirando a camisa levo um soco no estômago que me da ânsia, o ambiente fica estrelado e com uma claridade que cega meus olhos.

Procuro me equilibrar e me apoio em alguém do lado que me empurra de volta pro conflito e então como num passe de magica entro no clima, aquilo aqueceu meu corpo e deixou minha mente alerta. Aqueles poucos anos de capoeira no passado me vêem num instante, acredito que é verdade o que dizem sobre memória física, tudo aquilo que aprendi e por anos nunca mais usei me aparecem naturalmente.

Meu pulmão arde pela respiração rápida e num piscar de olhos consigo leva-lo ao chão numa rasteira, ele me olha com surpresa e naquele momento não existe mais raiva ou ódio em seus olhos, mas sim medo. Ainda não acho nada que me faça ter a gana de massacra-lo, poderia chutar lhe a cabeça ou o estômago e minha hesitação o deu os segundos necessários pra ficar de pé e me mostrar que o tombo em nada lhe afetou à não ser pela resposta surpresa de um movimento tão incomum.

Ele ameaça dar me um outro soco no estômago e ao levar os braços para proteger-me acabo com um tapa no rosto e aquilo desperta algo dentro de mim, o suor que já escorre pelo meu rosto faz com que aquele tapa arda mais do que o normal e então consigo encaixar a palma do meu pé no peito dele o levando ao chão de costas. Ao cair ele perde o fôlego e vejo minha atitude mudar de caça à caçador e num segundo eu estava com os joelhos segurando seus braços e desferindo golpes em sua orelha.

Mas me senti um selvagem e sem propósito,não via prazer se era pra sentir isso ali e não vi meu stress sair, mas a adrenalina subiu e num reflexo percebi que o ponto alto pra mim era a negociação, o estar frente a frente e tentar prever o próximo passo e responder da melhor forma possível. Também noto que me faz bem usar a capoeira, relembrar algumas coisas que fazem parte da raiz brasileira, uma arte e que traz tanta surpresa aos olhos do adversário, mas engano meu achando que ele iria ficar me assistindo ir de um lado pro outro em acrobacias sem ao menos tentar acerta-lo, e foi no meio de uma estrela que recebi a joelhada na costela em troca daquele chute no peito que encaixei nele.

Caio sem ar no chão e só vejo ele se preparando a querer chutar minha cabeça, não consigo ver um pingo de clemência em sua expressão e só me resta defender da melhor forma possível.

O chute é aparado pelo meu antebraço e aquilo dói como o fogo do inferno, ele se desequilibra e uso minha perna para joga-lo ao chão, minha paciência acaba e naquela hora vejo que alguém precisa se machucar feio para que tudo acabe, caso contrário ficaremos nesse ballet a noite inteira. Eu estava melhor posicionado quando ele se levantou e ele não esperava que meu calcanhar alcançaria seu maxilar com tamanha velocidade, nem eu imaginaria que teria tanto sucesso na empreitada.

Quando ele tentou se levantar zonzo e aparentando não saber onde estava eu já havia colocado minhas duas mãos em volta de seu pescoço fingindo um ar de quem não estava de brincadeira e que aquilo tudo iria acabar em segundos e bem mal. Foi quando a platéia silenciosa entrou no meio e nos separou, todos estavam satisfeitos, e meu teatro funcionou, eles acharam que eu estava pronto para mata-lo sufocado.

Aproximadamente 40 minutos depois tudo estava acabado, a coisa toda não levou mais de duas horas, todos se cumprimentam, alguns se servem das cervejas nas sacolas no chão, alguns poucos comentários sobre a performance, alguns se apoiando no ombro do camarada, olhos extremamente inchados com sangue gangrenado, marcas de esfregadas no chão e suor.

Na volta para casa as pessoas não nos olhavam nos olhos, desviavam o olhar, como que por medo e aquilo dava uma sensação de prazer pelo poder exercido sobre os meros andantes, aquelas marcas eram como cicatrizes de batalha nos guerreiros em quem a coragem nunca falta.

Não sou masoquista, não sou de briga, não gosto de confusão e sou de libra.
Mas talvez naquela manhã em que me olhei no espelho eu talvez tenha visto uma outra pessoa com aquelas marcas e roxos no rosto sorrindo de volta, talvez tudo aquilo possa ter sido fruto da minha imaginação e aquele no espelho era eu mesmo escovando os dentes,
sem marcas e longe de se parecer com o Brad Pitt no Clube da Luta...


Friday 13 November 2009

Outono


Ele dizia a ela coisas de amor, promessas sem fundamento, porém com sentimento, e ela fingia nao entender, e dava lhe seu corpo em troca. Melhor um verdadeiro amante com mentirosas palavras do que falsos amantes e suas explicações absurdas.

Era uma boa troca de ambos lados, à ela um corpo quente e jovem onde se acabar, à ele um refúgio experiente sem a necessidade de se auto afirmar.

Ela em sua loucura premeditada por desprezo e desapego do mundo exterior se apegava aos prazeres da carne e banhos de chuva ao fim de tarde como que para lavar sua alma dos pecados passados, já ele se perdia entre suas poesias sem rima, se escondendo da civilização, uma vez que achava não se encaixar na mesma, entre uma prosa e outra buscava inspiração entre ela, mesmo que por poucos minutos.

As lágrimas dela caíram como folhas de outono, apesar de seu corpo suar naquele verão.

Ele amadureceu e o mundo colocou razão em seu caminho, optou pela fórmula prática e segura de seus avós, exemplo de familia.

Hoje ele senta na varanda e relembra a cor dos cabelos dela nas folhas por cair, vermelhas queimadas pelo sol, e ela, insandeceu naquele outono para não mais ter que chorar.

Tuesday 27 October 2009

Barcelona, a dama vagabunda


A cidade que é considerada como uma dama por seus habitantes, a qual se deve tratar com doses de carinho e pitadas de desprezo, por definição dos mesmos.Me apaixonei por ela, o que me impede de viver com ela, e ela se apaixonou por mim, abrindo todos os seus segredos de uma só vez.

Não interessa se o que toca nas discos é pop ou música eletrônica, só ouço a guitarra catalã, se nos bares decadentes cospem algo brega, é a guitarra catalã que me vem ao ouvido.

Ela te embriaga e te leva ao monte, sussurra que de cima se vê melhor o seu explendor, sua luz na escuridão, e como promessa cumprida ganho cidade acesa e lua cheia, estrela como bônus.

Barcelona está tão próxima do mar que como marinheiro viejo perco a conta dos dias, caio no feitiço, me perco no calendário e pelas ruas.

Suas tatuagens são de cor forte e viva, seus olhos são azuis, seus lábios rosa e sua pele é queimada pelo sol, dourada por si só, assim como seus cabelos mediterrâneos onde não pode faltar a rosa branca.

Como Gaudí, quase fui atropelado pelas ruas, com tanta beleza por todo lado posso entender facilmente como se caiu encantado e por trágico infortunio por um bondinho foi passado.

Vejo claramente como essa dama conduziu seus exploradores e os fez trazer meio mundo à seus pés no passado, induzindo toda uma população à falar sua língua e doar de mal grado suas riquezas.

Assim como Dickens, comecei à escrever por falta do que ler, para não ficar enjoado de ver o tempo passar, escrevo para o tempo ocupar.
Barcelona tomou me por completo, num café-restaurante me perco entre meu almoço seguido do tradicional capuccino acompanhado de Jazz, unusual and pleasant.

Barcelona torna-se nesse momento em alguém de cabelos amêndoa, olhos levemente puxados e sorriso mais branco que certos azulejos usados por Gaudí.

Ela aproxima-se e pergunta não só o meu desejo para "el almuerzo", mas também o que tanto escrevo.

Tento em meu pobre espanhol explicar à essa Barcelona catalã que mato meu tempo para ele não me matar, alimento minha alma com cafeína para páginas viajar e que de certa forma achei o luxo de no tempo me perder para em seu perfume me encontrar.

Percebo que bulhufas ela entendeu, mas que com tanta paixão à disse, que ao menos um sorriso ganhei...

Se mais dias aqui me quedo, um livro escrevo.
Se mais dias aqui me quedo, tão logo me perco e encontrar-me jámas me quiero, desde que en sus braços, Barcelona.

Pobre Dom Quixote, que pela Espanha sua sanidade perdeu.

Tuesday 6 October 2009

Gaudí num céu de Monet

Ao chegar em Barcelona sem reserva num hotel e exatamente à meia noite, sem mapa, lenço e quase sem documento, restou me andar sem rumo pela cidade insadecida até o amanhecer.

Um café me salvou até às duas da manhã, quente e acordado resolvi tomar o rumo para a Catedral, num bairro longe e de certo mal cheiro aos sábados durante a madrugada.

Vou com calma, sem pressa, não tenho hora para chegar ou encontro marcado. Passo por todo canto primeiro, Praça de Espanha, Praça Catalunya e então me vejo nas Ramblas dos jovens espanhóis embreagados.

Como toda estrada leva à Roma, acredito que toda calle Catalã leva à uma Catedral, uma vez que estava do outro lado da cidade, e la estava ela, imponente em suas torres como que inquisição apontando para os céus.

Não demora muito a vencer a noite, há tempos sou criatura noturna, me dou bem com ela e fizemos as pazes anos atrás, e acredito que as almas perdidas que tentam me vender coisas ilícitas pelas vielas percebem isso ao me olharem nos olhos e se afastam mais com medo de mim do que eu deles.

E então o céu quebra em cores onde poucos homens conseguiram reproduzir, de súbito vem o medo do amanhecer sagrado, as luzes por detrás da Catedral brinca com minha íris, engana-me com tons que só Monet viu em seus sonhos mais profundos e que tentou reproduzir insatisfatoriamente de acordo com ele mesmo, e que mesmo assim é um triunfo da raça humana.

Num vacilo dos meus olhos tudo se foi, o céu é azul e a claridade toma conta do mundo novamente, já não me sinto tão dono daquele momento, preciso de um café para encarar o sol.

Peço meu capuccinho como de costume em um café tão quão charmoso como os da Champs Elisée, mas aqui pode se optar por um toque de Bailey's.

Do outro lado da rua, vejo um casal visivelmente no rumo de casa após uma noite das melhores, tentando tirar o máximo proveito de seu tempo, agem como dois felinos à provocar-se no que mais parecem serem golpes de sêde ao buscar água na boca um do outro, o olhar fixo mirando um ao outro deixa mais claro que o dia de que eles estão num mundo à parte, só deles e de mais ninguém.

Eu, intruso, peço à conta, junto meus guardanapos rabiscados e sigo meu rumo, afinal Barcelona ainda não foi desbravada por mim, ao menos não nessa encarnação.

Wednesday 16 September 2009

Pé na Estrada...


Cheguei aos 30 anos de idade e acho que vi demais.
Vi o bem e vi o mal, a dor e a alegria, fome e fartura, o amor e o ódio entre tantas outras coisas mundanas.

Me parece que foi mais de uma vida que vivi, me pergunto se é normal juntar tanto em uma pessoa só, é como se as pessoas pudessem ver em meus olhos, ainda que não cansados, o tanto que guardo.

Acredito ter a alma idosa, espírito velho e o coração inocente.

Por tudo isso vou para não mais voltar, vou para não mais voltar o mesmo, parto em mais uma de minhas jornadas à procura de algo que ainda não sei o que é, mas que das outras vezes apareceu no caminho.

Não fujo, tampouco me escondo, quero mesmo é tocar tudo o que está lá, quero barganhar minhas lembranças, quero ir pra deixar um pouco e trazer algo novo, mesmo que esse novo seja só para mim, uma vez que esse mundo é velho.

De todas as jornadas, creio que essa será diferente, dizem que existe aquela jornada que saímos em busca do tesouro e quando chegamos ao destino descobrimos que o tesouro sempre esteve ao nosso lado, seja nosso lar, família ou nosso amor... essa jornada eu já fiz. Tem também aquela que fazemos pelos outros, por aqueles que vem a nós pelo caminho e ganham conforto, amizade, às vezes somos usados como instrumentos do cosmo para simplesmente estar no lugar certo, na hora certa e tem aquela jornada em que nem precisamos sair do lugar.

Assim como quando cheguei aos vinte anos de idade, imagino que ao começar os trinta também deverá ser uma nova fase, quero transcender apesar de não saber o sentido literal da palavra, quero ir além e ser melhor, quero buscar o aperfeiçoamento, atingir algum tipo de iluminação de que tanto falam, nem que para isso precise passar sete anos no Tibet.

Vou à procura talvez do balanço entre tudo à minha volta, talvez em busca do fuso horário de quando eu era criança e que às horas pareciam levar séculos para passar, quando podia fazer milhões de coisas no final de semana e ainda sobrava tempo para gastar com televisão no domingo à noite.

Na realidade talvez eu vá mesmo é buscar quem sou eu, aquele cara que vejo no espelho todo dia de manhã com um ponto de interrogação na testa, perguntando sempre: "E aí ? Como vai ser hoje ? E amanhã, temos planos ? O que vamos fazer da vida ?"

E quem sabe no final da jornada eu respondo à ele que não sei exatamente o que vai ser daqui pra frente, mas que pode ter certeza de que o que vier vamos encarar de cabeça erguida, que obstáculos serão vencidos como de costume e que o importante mesmo é não se cobrar demais, a vida é muito curta para gastá-la com fantasmas interiores, talvez ser feliz não seja tão complicado quanto parece.

Te vejo daqui um tempo, no final da jornada, e quem sabe eu tenha uma resposta mais sábia... pelo menos terei 30 anos de idade =)

Volto logo...
30 dias

Saturday 29 August 2009

Evolução do homem pela ótica da sexta-feira

Sexta-feira à noite, os pais viajaram e levaram com eles os irmãos, casa vazia, sem muito dinheiro no bolso, amigos provavelmente fazendo alguma coisa interessante porém o convite não veio, celular ainda é dádiva pra poucos.
O ano é aproximadamente 1993, uma fase um tanto pesada, depressiva por vontade própria, costumava se trancar no quarto escuro e ouvia algo chamado Type-O Negative, banda gótica e obscura, às vezes escalava até o telhado da casa e ficava observando as pessoas passando na rua, incógnito. Sentia um poder sobre elas, por passar despercebido, todo vestido de preto, nas sombras e com a imaginação em qualquer outro lugar, menos ali.
...
Sexta-feira à noite, o ódio pelo mundo à sua volta o atormenta, sai pelas vielas com alguns amigos, vai de bar em bar tomando o que tem de mais barato e mais forte. Esbanja maus-modos, ignora a educação até ali aprendida, acredita que o futuro é só até o próximo show daquela banda de rock favorita e que nada mais importa. Amigos o arrastam para a festa na casa de algum desconhecido - bebida e rock & roll à vontade... depois de "completar o tanque" é hora de pegar uma carona até aquele boteco de cerveja barata onde uma banda tosca cospe músicas em inglês duvidoso, e balançando a cabeça frenéticamente acha que as respostas chegarão naquele frenesi descontrolado em meio à suados e tatuados.
Sua raiva e aflição vão embora, uma liberdade se apodera e dá caminho à um êxtase supremo, algo que dura pelo menos 15 minutos e depois da euforia, a necessidade urgente de um banheiro. Corpo humano não tolera tanto álcool, mesmo para o corpo de um Rock&Rolla.
...
Sexta-feira à noite, cansado após um dia inteiro de trabalho, porém com uma disposição felina para sair e aproveitar a noite. Ele faz flexões e alguns exercícios para esquentar e "animar" acompanhado de um copo com whisky e energético. Toma um banho demorado, faz a barba, arrisca uns cremes, abusa do gel no cabelo. Demora séculos escolhendo a camiseta mais descolada, o jeans mais surrado e o tênis mais na moda. Com o celular programa o encontro de no mínimo 15 amigos pra curtir a balada. Sente em si a energia que emana como um deus, tudo é possível e a noite é só uma criança. Como um vampiro passa a noite toda em busca de suas vítimas e teme o nascer do sol, afinal de contas, é o sinal de que tudo irá se acabar e é hora de voltar ao repouso diurno.
...
Sexta-feira à noite, vinho aberto, música ambiente, banho tomado e o terno passado. Escolhe o perfume mais elegante ao invés do mais ousado, decide-se pela gravata discreta e pelo cabelo escovado. O tempo já não interfere mais nas decisões, a pressa já não faz mais parte das preliminares e cada segundo é degustado. Confere os tickets para ver a Sinfônica, checa o nome do solista no Cielo e se realmente aquele violinista estará presente. Liga para ela. Encontram-se no hall de entrada e a noite voa em uma sonata, as cordas extraem sentimentos nunca antes despertados, lágrimas correm e uma calmaria invade o ser ali entre uma platéia da realeza.
...
Sexta-feira à noite, alguns anos se passaram, e incrível como todos eles se encontram em um mesmo lugar, em Londres na capital inglesa, no mesmo quarto no subúrbio do leste londrino, rodeados por livros nas prateleiras da parede, um piano eletrônico encostado num canto e o abajur no formato de globo terrestre ao lado da cama. O vinho continua aberto como de costume, a música varia entre lounge e jazz, celular já não toca como antigamente, o ódio deu lugar a paz interior mas a energia continua a mesma sem tirar nem por.

Às vezes me assusto com meus "eu's" ao decorrer do tempo, principalmente às sextas-feiras quando os dedos resolvem passear pelo teclado de meu computador...

Sunday 23 August 2009

Crime de Paixão


Alma
: ser independente da matéria e que sobrevive à morte do corpo, que se julga continuar viva após a morte do corpo, podendo o seu destino ser a beatitude celestial ou o tormento eterno. (Wikipedia.org)

Paixão: um sentimento intenso que ofuscaria a razão. (Wikipedia.org)

Não há dinheiro no mundo que compre uma alma gêmea, não há risada suficiente que mude uma opinião, não há beleza inerente que acumule paixão, simples assim, se nasce para o outro e vive-se uma jornada pela vida reconquistando aquela alma, mesmo que dividida em diversos seres, sejam pôres do sol, brisa leve ou chuva no rosto ao entardecer.

Desperte-a com um beijo, olhe nos olhos como se fosse a primeira vez, deixe cair lágrimas de vez em quando, mas que sejam verdadeiras e sinceras.
Se o dia nao foi tão bom, conte um drama mas se foi piada no café da tarde, monte um circo contando a história no jantar. Fantasie sua vida simplória, ou torne a rotina em um conto empolgante. Mas não a invente, a realidade quebrada é traiçoeira.

Uma namorada francesa um dia me contou a história do "Crime Passionel" (Crime de Paixão), que era o nome usado pela defesa em julgamentos na França do século 19 pelo crime cometido por conjuges ao assassinar o esposo ou esposa em casos de adultério. O que eu não sabia é que era uma defesa válida, na maioria dos casos os "assassinos" eram libertados ou pegavam pena de no máximo dois anos enquanto o outro estava abaixo de sete palmos! E acredite ou não, até poucos anos atrás continuava valendo, claro que em off monsieur.

De onde surge veneno esse que enlouquece e faz perder a cabeça, vontade de viver e a própria razão? E faz querer mais e mais de uma fonte inesgotável e gratuita? Juízes e tribunais pelo mundo tem mudado o nome do Crime de Paixão por "Insanidade Temporária", pois eles mesmos já sofreram um dia daquilo e sabem que aquela alma atormentada irá sofrer mais pela ausência de sua inspiração do que pelo martírio infringido pelos homens, que nada imposto à partir dali irá piorar ou aumentar sua dor.

Ao terminar com um amor você acaba perdendo metade de si e sua consciência. Como explicar tamanha coisa em razão?
Sem motivo aparente à não ser a separação? Não há lucro, proveito ou vantagem naquilo. Paixão não entra em disciplinas, nao serve como matéria dada, não há matemática que prove resultado tampouco fórmula concreta.
Vem e vai com tanta violência que nem mesmo o mais forte dos estivadores conseguiria suportar.

A dor do amor me pegou diversas vezes nesses meus anos, não demais, mas também não tão pouco que não me ferisse quase de morte. A dor física em minhas entranhas, enxaqueca sem fim, minhas forças se esvaindo como a morte lenta sob um relógio imaginário. Purgatório em vida se é que existe um outro underground.

Imagino o gênio dos grandes mestres, tamanha aflição à dar vida suas obras, enquanto essas nossas pequenas batalhas nos consomem por completo em nossos medíocres dia-a-dia.

Não queira um dia acordar para esse mundo de dor inconsolável em um crime por amor, mantenha a sanidade e serenidade para só se ver o belo, que se chore ao ouvir um canto e que cegue ao ver o amanhecer ou o entardecer em seu esplendor.

Meu desejo é que essa insanidade temporária se transforme num transe que o leve à criar como criado foi Davi por Michelângelo, êxtase profundo, resultado de extremo desconforto do ser, ao invés de caos e destruição do que é belo por natureza.

E apesar dos riscos, considere apaixonar-se pelo menos uma vez na vida...

Tuesday 4 August 2009

Traffic Lights

Minha experiência no Brasil com semáforos nunca foi muito boa, sempre más recordações, sempre alertas na mídia dizendo o quão perigoso era parar em determinados pontos da cidade grande e quantas pessoas perderam suas vidas ao longo dos anos tanto por respeitar o sinal de trânsito como também por desrespeitá-lo.
Uma das cenas mais fortes que já vi num semáforo foi em São Bernardo do Campo, recém chegado do interior com 19 anos de idade e tentando se adaptar aquela agitação do ABC Paulista, parado na fila de carros no sinal vermelho, vejo uma moto parar do lado do primeiro carro na fila, um Jeep Cherokee "zerado" como costumamos dizer no interior, o garupa na moto saca um revólver e bate no vidro da caminhonete, pede ao motorista qualquer coisa de valor, estando eu à 4-5 carros atrás na fila, só pude perceber que o motorista se negou à obedecer: carro blindado.
Quem dera nossos criminosos usassem sua inteligência e "esperteza" para o bem.
Ao perceber que o carro era blindado, o garupa desce e vai ao segundo carro da fila, que era um popular "bem acabado" porém com uma criança no interior, ao tirar o bebê de sua mãe aos gritos, volta ao carro blindado e ameaça matar a criança caso o executivo não o obedecesse, de longe vejo a mão de dentro do Jeep passar carteira, relógio, jóias, radio, bolsa e tudo o que fosse possível para comprar a vida do bebê.
Indignação, impotência e muitos outros adjetivos para incapacidade se passaram por minha cabeça naquela hora, e só restou me o alívio de ver aquela frágil criança viva chorando no meio fio, uma tragédia pior foi evitada e como diz minha avó: "Vão se os anéis, ficam os dedos."
Alguns anos depois, li em José Saramago a descrição de um homem parado no semáforo, enquanto todos os outros buzinam para que arranque e ele só responde: - Estou cego!
"os olhos do homem parecem sãos, a íris apresenta-se nítida, luminosa, a esclerótica branca, compacta como porcelana. As pálpebras arregaladas, a pele crispada da cara, as sobrancelhas de repente revoltas, tudo isso, qualquer o pode verificar, é que se descompôs pela angústia." retirado do "Ensaio sobre a Cegueira" - José Saramago
Esse é um dos primeiros parágrafos de um livro que mostra à que ponto chega o ser humano em uma situação caótica, que por tão forte e convincente demonstração de que sem sombra de dúvida aquela literatura se tornaria verídica num caso real, deixou essa marca em minha pessoa como um acaso triste de semáforo, afortunadamente apenas na ficção do velho escritor Português.
O terceiro evento em um semáforo está bem fresco em minha memória, aconteceu hoje cedo, do outro lado do mundo, bem aqui em Londres, no bairro onde moro.Parado no meio da rua estava um carro simples, de cor azul mas irrelevante a marca, também por que não à levei em conta, o fato é que estava lá, parado quando o sinal já estava no verde, carros buzinavam atrás e quando cheguei naquele ponto com minha moto, ele, o sinal, já havia fechado novamente. Percebi que o motorista do carro de trás havia descido e foi checar o motivo da greve adiante.
Percebo que o tal ao olhar dentro do carro, saca de seu celular e com certo desespero tenta abrir o carro parado ao mesmo tempo que disca algo em seu telefone.Paro ao lado, respeitando o sinal vermelho e olho também dentro do carro por curiosidade, imaginando algum novato no volante que para minha surpresa era uma mulher entre seus 30-40 anos de idade, estática, caída de lado segura pelo cinto de segurança e com olhos parados como se estivessem me questionando, ela olhava exatamente na direção onde eu estava, mirava me os olhos, como se enxergasse minha alma.
Nesse momento alguém tenta abrir a porta do passageiro, todas trancadas. Alguém grita que os paramédicos estão à caminho, naquela mesma avenida tem um hospital, mesmo assim me dói ver que a mulher está lá, provavelmente sem ouvir a buzina dos apressados, poderia ter sido um ataque cardíaco, alguma daquelas veias que bombeiam sangue ao coração pode ter entupido e penso o quão aquele cinto de segurança tem ajudado a agravar a situação à cada segundo que passa.
Não penso duas vezes, tiro meu capacete, boto em meu ombro e quebro o vidro do passageiro. Ouço gritos de desaprovação, alguém diz para não mexer no "corpo", outro fala que serei preso por algum tipo de atentado ao bem alheio.Na minha cabeça de analista de sistemas, me vem o seguinte fluxograma:
- Abrir a porta para entrar o ar;
- Apoiar a cabeça e o tronco da pessoa e soltar o cinto de segurança ;
- Checar respiração, colocá-la em posição horizontal e começar massagem cardíaca.

Quando estava prestes a pedir ajuda para deitá-la o resgate chegou com a equipe de paramédicos, prontamente entreguei a situação aos profissionais e esperei o resultado, ninguém mais buzinava mas ainda ouvia desaprovação aos meus atos.

Em poucos segundos ela foi conduzida de maca à ambulância, um dos paramédicos voltou e agradeceu pelo suporte dizendo que minha atitude pode ter sido fundamental no salvamento de uma vida. Pergunto se ela vai ficar bem, ele me passa o telefone de onde estão à caminho e um código para checagem, visto que ainda não sabíamos a identidade da mulher.

Algumas horas atrás sem conseguir pensar em outra coisa, ligo e recebo a notícia de que Rose Parker Smithson está se recuperando daquilo que foi diagnosticado como AVC de baixo nível, o que significa que ela não terá nenhuma sequela e possivelmente viverá uma vida normal daqui para a frente.

O paramédico disse para eu não me preocupar que o governo vai pagar o vidro do carro que eu quebrei =)

Sunday 2 August 2009

A cidade sombria


Londres roubou minha alma, destitui me da vontade própria, sugou qualquer resquício de humanidade que outrora restava dentro de mim. She whispers in my ear:"I want you so bad..." e como em um transe sob sussuro vampiro, deixo levar pela névoa do amanhecer caótico da megalópole.
A cidade tem vida própria, não é jovem e castiga os homens que a cada dia cravam mais e mais feridas em seu solo, cicatrizes para o sempre, ela não dorme e cobra um preço alto pelos seus serviços.
Os corpos vazios e sem vontade vagam por entre vielas dia e noite, criaturas tomadas de seus habitats e abduzidas pelo fósforo das lâmpadas incadescentes, transeuntes com pensamentos obscuros à minha volta, smells like old spirit, smells like cheap vodka and cigarettes.
Vejo personagens dos meus piores pesadelos se tornarem realidade, eles se aproximam, famigerados, te cheiram, te questionam, empurram, puxam, gritos silenciosos que fazem doer a cabeça, o estômago revira, sem saída e o metrô já fechou. Corre, pega o ônibus, terríveis night-buses, o sanatório lá no final da radial leste parece até matinê no cinema se comparado com os indivíduos que ali se aglomeram, um achou que esbarrou e solta "sorry mate", outro que não foi esbarrado larga "what's wrong with you geezer?", a menina moça no fundão berra: "quebra a cara dele!*"(*tradução livre para dar ênfase), o busker resolve dar uma palhinha, mesmo tendo seus tendões inflamados por tocar 12 horas incessantes em Picadilly Circus, nem Bob Marley apazigua tamanho ego...
Bus driver ameaça parar, executivo que dormia percebe que seus pertences já não o pertencem, o punk ajeita o fone de ouvido e retoma sua meditação, o casal percebe que a oportunidade era boa e agora é arriscar demais, a senhora com o carrinho de feira não sabe o que está fazendo ali, o pastor de uma igreja duvidosa muito menos, alguém me dá tapinhas no ombro e pergunta: "esse vai para Wood Green, lá pro norte?" respondo: "Sim, claro"
Moro no sul, e até agora estou tentando entender se respondi de sacanagem, se foi por pura despretensão ou completa ignorância da verdade.
Os primeiros raios de luz se mostram, meus olhos desacostumados começam a doer, preciso chegar logo, a cripta me aguarda, o sarcófago é meu refúgio, o cheiro do antigo e do embolorado me fazem falta, minha pele aquosa teme a luz que está por vir e o estômago continua revirando.
Meu ponto de ônibus.
Preciso pedir peloamordedeus para que o mano em um conjunto de moleton e boné virado dê um passo para o lado e me deixe passar, preciso disputar a porta do ônibus com o senhor que quer entrar por ali também, um sujeito idoso que está à caminho da feira, o motorista começa a movimentar o ônibus, com uma capoeira me esquivo do mano, deslizo pela lateral da porta onde o senhor está praguejando seu reumatismo inconsolável.
Alcanço minha rua, abro minha porta, tiro o sapato, subo as escadas, o sol começa a tomar conta da escada, preciso ser rápido, meu quarto...
At least safe and sound, prometo à mim mesmo que nunca mais vou beber...
... pelo menos até o próximo final de semana.

Thursday 30 July 2009

Os livros e eu

"Livros são espelhos, só se vê neles o que já está dentro de você." retirado do livro "The Shadow of the Wind" - Carlos Ruiz Zafón

Meu primeiro livro foi aos 8 anos de idade, tenra idade para se começar a ler e um tanto prematuro, mas como fui cobaia da minha tia que na época fazia o magistério, acabei não só aprendendo a ler bem cedo, como ganhei um livro chamado "Os Barcos de Papel" - José Maviael Monteiro, da então famosa coleção Vagalume.

A história de alguns garotos que ao brincar com seus barcos em um lago próximo a uma caverna, resolveram desbravar o interior da mesma e acabaram se perdendo e daí então vivendo uma aventura digna de Indiana Jones. Nessa história, a maioria dos garotos que eram ricos e tinham seus barcos com motores, zombavam de um pobre coitado que sem dinheiro, acabava por construir seus navios em papel, como toda história com fundo moral, o desfecho do salvamento de todos eles foi graças à engenhosidade do moleque pobre, que vendo o fluxo da água indo por entre as rochas da caverna teve a idéia de então soltar seus barcos para que saíssem até o lago, de onde os pais pudessem notar que ainda estavam vivos e de alguma forma tentando se comunicar.

Engraçado como vinte anos depois, ainda me lembro como se fosse ontem todo o enredo daquela história e o quanto eu queria estar entre eles, com esse livro descobri um mundo à parte, onde pude desbravar o universo sem sair do meu sofá, dali para ler toda aquela coleção foi um pulo, à cada livro lido, tentava de alguma forma reproduzir as peripécias dos personagens, acredito que cada história trazia um colorido à minha vida, uma idéia à ser posta em prática.
Como não via a hora de acabar a leitura para poder tornar aquilo real, acabei desenvolvendo o que algum espertinho tirou vantagem e criou até um curso chamado "leitura dinâmica", algo que ensina o indivíduo a ler determinadas páginas em poucos segundos e gerar um resumo mental. Acabei aprontando cada uma que até hoje minha família não acredita como eu era capaz de "inventar" tais maquinações, respondo facilmente: livros...
Quem dera nossas crianças de hoje tivessem a paciência para ler como tantos de nós tivemos no passado, o mundo deles seriam tão mais "criativos", de certa forma tão mais proveitosos...

Um dos motivos pelo qual tive de aprender a ler rapidamente foram os finais de semana em Piracicaba, tínhamos família lá e na casa da minha tia-avó havia uma pequena biblioteca pessoal da minha prima, um tesouro sem tamanho era como eu descrevia tudo aquilo, porém geralmente chegavamos na sexta-feira e voltavamos no domingo à noite, sendo assim precisava devorar cada livro nesse período de tempo, pois não tinha costume de pedir emprestado e até mesmo por que minha prima não permitia. Nada demais, devorei a coleção inteira e sinto uma saudade imensa do cantinho onde eu me escondia dos primos e ficava quietinho em meu mundo particular.

Toda minha família apostava que eu um dia seria Advogado, pois diziam eles que todo Advogado era um leitor compulsivo, e que para ser um Advogado, tinha que gostar de ler muito como eu. Não discordo das teorias, mas acabei mesmo é virando médico, doutor em computadores, vendi minha alma ao Bill Gates e arrendei meu coração ao Steve Jobs (não vivo mais sem meu Ipod).
Mas voltando aos livros, o último que acabei de ler, chamado The Shadow of the Wind, conta a história de um garoto filho de um livreiro que é levado pelo pai à um "Cemitério dos livros esquecidos", para que escolha um entre o labirinto de corredores daquele lugar secreto e que o guarde para a vida inteira. Se já não fosse interessante pelo fato de o lugar ser guardado à sete chaves, ser conhecido apenas pelos célebres livreiros de uma Barcelona em meados de 1945 e que a tradição do descobrimento era passado de pai para filho, ainda assim a história vem cheia de paixão em todas as formas, tem início após o garoto ter escolhido um livro que foi destinado ao exílio, e que pela curiosidade de seu novo dono, acabou sendo perseguido durante anos, tendo em seu encalço personagens pra lá de curiosos.

Quando tinha a mesma idade que o garoto do livro, costumava ir à biblioteca no centro da cidade, a aventura começava por pegar o ônibus sozinho e conseguir fazer todo o trajeto sem me perder, ao chegar lá ficava meio bobo, pasmo com tantas opções, de certa forma em minha cabeça achava que tudo aquilo era meu, o que não deixa de ser verdade, era tudo do público em geral, mas gostava de pensar assim, meu. O silêncio era algo confortante e ao mesmo tempo enlouquecedor ver tanta gente no mesmo lugar, e todos respeitando o sagrado local.

Os anos passaram, hoje leio em três línguas diferentes, querendo começar uma quarta, e se faltam horas em meu dia para dar conta de minhas leituras, imagina o quanto de tempo falta para tentar reviver cada história...


Monday 27 July 2009

Nunca é tarde demais...

Diálogo retirado do filme "O misterioso caso de Benjamin Button"

"For what it's worth, it's never to late,

or in my case, too early, to be whoever you want to be.

There is no time limit, start whenever you want.

You can change or stay the same.
There are no rules to this thing.

We can make the best or the worst of it.

I hope you make the best of it.

And I hope you see things that startle you.

I hope you feel things you never felt before.

I hope you meet people with a different point of view.

I hope you live a life you're proud of.

If you find that you're not,

I hope you have the strength to start all over again."

(tradução livre)

"Para aquilo que vale a pena, nunca é tarde demais,

ou no meu caso, muito cedo, pra ser quem você quiser.

Não existe limite de tempo, comece quando você quiser,

Você pode mudar ou continuar o mesmo.
Não existe regras pra esse tipo de coisa.

Nós podemos fazer o melhor ouo pior de tudo isso.

Eu espero que você faça o melhor.

E espero que você veja coisas que te assustem.

Eu espero que você sinta coisas que nunca sentiu antes.

Eu espero que você conheça pessoas com ponto de vista diferente.

Eu espero que você viva uma vida em que se orgulhe.

e se você descobrir que não,

Eu desejo que você tenha a força pra começar tudo de novo..."

Sunday 19 July 2009

Não é todo dia que se chega aos 30...

Hoje, 19 de Julho - Domingo, é aniversário desses dois aí da foto, Anelise e Anderson (Ane e Gaúcho pros íntimos), um casal de irmãos gêmeos que ganhou um irmão pentelho à muuuitos anos atrás e que até hoje os atormenta.

Ao invés de simplesmente mandar um recadinho no Orkut dizendo o de sempre - "PARABÉNS, feliz Aniversário, tudo de bom, muita felicidade, muita saúde, dinheiro e sucesso", (não que eu deseje o contrário) preferi relembrar alguns momentos desses anos em que nos conhecemos, e tentar expressar um pouco do motivo pelo qual nos consideramos família por opção, por escolha própria e livre arbítrio.

Poderia ligar também, mas como toda família gaúcha que se preze, provavelmente estarão bem ocupados com o churrasco e qualquer distração com telefone só iria queimar a carne.

Tudo começou em 1900 e bolinha, não vou falar exatamente o ano senão me sentirei velho, acabamos nos conhecendo por acaso de amigos em comum, galera que brincava junto na rua, a famosa gangue juvenil que andava em bandos pelo bairro, haviam chego de Passo Fundo no Rio Grande do Sul à pouco tempo e moraram primeiramente no mesmo bairro que eu, e como toda boa amizade, levou-se alguns anos pra gerar aquela confiança e maturidade de amizade verdadeira.

Tínhamos as mesmas bicicletas eu e o Gaúcho, porém a minha era um tanto velha e a corrente escapava direto, engraçado era o quanto eu ficava bravo quando a gente saía pra passear e paquerar as menininhas e a minha bike resolvia dar pau, lembro do quão bravo eu ficava dos moleques dando risada da situação, eu pulando em cima da bicicleta como um homem das cavernas, tentando em vão destruí-la com minha f'úria e até hoje ele faz questão de me lembrar da cena.

A gangue juvenil também tinha um esporte bem perigoso que era o Polícia - Ladrão com armas de pressão do Paraguay, quando não treinavamos com os gatinhos da vizinhança acabavamos por tentar acertar as costas dos parceiros e daí já viu, só encrenca. Por morar no interior tínhamos vastas regiões verdes pra explorar e montar cenários de guerra, azar o nosso foi quando sem querer nossas armas de pressão atingiram uma colméia fenomenal de abelhas assassinas, escapamos por pouco e mesmo assim muita gente ficou com alguns ferrões pra contar a história.

Curtíamos também entrar em lamaçal e ficar escorregando de toda forma imaginavel, além é claro, das guerrinhas de barro que doíam tanto quanto as armas de pressão do Paraguay.
Essa foto foi numa dessas aventuras, tirada pela dona Lourdes - mãe dos gêmeos e minha mãe postiça, um pouco antes de tomarmos um banho de mangueira no jardim da casa deles, acredito que tenha sido em 1991-1992.

Fomos Escoteiros também, aprendemos a dirigir na mesma época, devíamos ter uns 15-16 anos de idade e nossos pais tínham um Corcel II, fazíamos apostas ridículas só pra se aparecer pras menininhas (uma delas foi que eu deveria passar de bike na frente de uma multidão com a calça abaixada mostrando a bunda, não me pergunte o que isso somou em popularidade com elas..).

Tivemos uma equipe de DJ's, onde cada um entrava com algum equipamento e expertise pra fazermos os "bailinhos", e quando chegou a época do colégio, sem ninguém ter combinado, acabamos estudando juntos - mesma classe, nos formamos técnicos eletrônicos, nesse meio tempo eu e o Anderson acabamos trabalhando juntos na mesma assistência técnica, dividimos marmita, pão pullman com mortadela ou presunto e mussarela e toddynho, muitas risadas se seguiram nesse tempo e então tivemos nossos primeiros carros, depois nossas motos - e que motos - mesma cilindrada (mas a minha sempre andava mais ;-), nossas carreiras seguiram cada uma pra uma direção mas cada qual com seu caminho direcionado, não longe um do outro, nada diferente na procura pela felicidade.

Em momentos de crise na adolescência eu sonhava morar com eles, fugir de casa era sempre uma possibilidade (nem todo mundo é perfeito, nem todo mundo é são à todo o tempo), e pra mim essa família era e é um exemplo de relacionamento, claro que hoje mais maduro vejo claramente que minha família também era e é perfeita, só dependia de perspectiva.

A Ane sempre foi a irmã que eu não tive, alguém que me deu conselhos sobre como "xavecar" as garotas, me deu conselhos (que eu quase nunca escutei, sempre fui teimoso), e que sempre tirou sarro das minhas bochechas, mesmo assim nunca guardei mágoa, só uma vez que dei um susto nela que valeu pelo resto da vida, e essa história, eu sempre deixo pra ela contar...

Hoje esses dois estão casados, a Ane esperando o Raul, seu primeiro filho, e ambos felizes com o sorriso chegando nas orelhas, cada um com seu par ideal, cada qual com seu sucesso pessoal e acredito que na soma desses 30 anos de idade, estamos indo por um bom caminho, e sinto um orgulho de tê-los como parte da minha vida.

Parabéns e tudo de bom,
Checha (apelido derivado de "boCHECHA" que eles me deram carinhosamente na infância)

Friday 17 July 2009



Thanks God it's Friday =)

Engraçado como religião e paganismo se misturam sem que muita gente perceba, pois hoje em dia todo Americano ou Inglês bufa pelas ruas logo pela manhã "Thanks God, it's FRIDAY !" seja ele cristão, ateu ou torcedor do corinthians.

A explicação pode ser um tanto complicada, visto que Friday vem da palavra antiga inglesa "frigedæg", que significa dia de Frige a forma Anglo-Saxonica de Frigg, uma tradução Alemã do Latin "dies Veneris" = dia de Vênus.

O que poucos sabem é que nos tempos antigos, numa era bem distante, os pagães determinavam cada dia da semana pelo culto à um Deus, que hoje conhecemos como os Astros, Lua, Sol, Marte, Vênus e por aí adiante, com a criação do calendário da forma como conhecemos hoje pelos Romanos, tivemos a adaptação e tradução pra muitas línguas, fundindo assim religiões, cultos pagães e criando um monte de gente que não vê a hora da Sexta-feira chegar.

Como ninguém é de ferro, fui ao cinema depois da labuta e apesar do meu constrangimento em convidar amigas ou amigos pra ir ver o novo Harry Potter, surpresa foi a minha ao chegar e encontrar uma fila gigante na porta do cinema, detalhe: de ADULTOS !! Parei por algum instante e percebi que havia lido a primeira edição do Harry Potter à 10 anos atrás, e assim como os atores do filme cresceram, tanto eu como todo mundo também, independente da idade que temos hoje, muitos que leram anos atrás a história do bruxinho, querem ver suas mirabolantes criações mentais se tornarem carne e osso na telona, incrível mesmo é saber o final da trama e continuar batendo cartão à cada estréia, coisas do ser humano.

Enquanto esperava a hora de entrar na sessão, passei pela livraria mais próxima, meu paraíso estava em liquidação, achei um livro de receitas italiano só de macarrão, um livro gigante sobre a vida e arte de Michelângelo e um sobre personagens considerados heróis pela humanidade, pessoas de carne e osso que desde a antiguidade vem inspirando muita gente com seus feitos e glórias. Minha biblioteca por aqui tem aumentado exponencialmente, ao mesmo tempo que olho minhas prateleiras com orgulho, me dói saber que vai ser um sufoco levar tudo isso pra casa (verdadeira casa, Brasil..).

Hoje durante o dia, em meu break-time, estava eu sentado na sala de espera do hospital lendo Charles Dickens (resolvi atacar de clássicos da literatura inglesa, nada fácil diga-se de passagem) quando um senhor me abordou, sutilmente puxou conversa, vendo meu capacete do lado perguntou que moto era a minha, disse-lhe que era uma Honda econômica e sem adrenalina, então ele abriu um sorriso de poucos dentes, contou-me em meia hora um resumo de seus 82 anos, disse também que até hoje pilota sua moto, uma Triumph de 900 cilindradas comprada zero KM em 1957, porém com supervisão de seu filho de 41 anos que não o permite ultrapassar os limites de velocidade.

Teimoso como uma criança, confidenciou que uma vez na estrada, difícil para seu filho é segurá-lo em rédeas curtas, é o momento dele, a prova de que com espírito jovem e rebelde latente se vai ao longe e em duas rodas. Quando comprei o livro sobre os heróis da humanidade, pensei nesse senhor, que virou naquele momento de minha tarde monótona meu herói particular, alguém que com 82 anos continua audaz, vivenciando cada segundo da mesma forma que fazia à 40-50 anos atrás, inspirando pessoas e mostrando que com força de vontade tudo se pode.

Pobre Cazuza que perdeu seus heróis quando morreram de overdose...

Thursday 16 July 2009

O nascimento de uma alma

"o nascimento de uma alma é coisa demorada
nao é partido ou jazz, em que se improvise
não é casa moldada lage que suba facil
a natureza da gente não tem disse me disse




no balcão do butiquim a prosa ta parada
não se fala da vida não acontece nada
se não faltasse trabalho no meio do barulho,
o dia sobra e sobra muito
papo de surdo e mudo... "

Assim como na música d'O Rappa "Papo de Surdo e Mudo", acho que a criação de um blog parte do mesmo princípio, de que o nascimento é coisa demorada, não é partido ou jazz que se improvise, longe de ser fácil tanto como subir lage em casa pré-moldada.

Se a prosa no butiquim tá parada, então esse vai ser um espaço onde colocarei algo pra movimentar e pra se falar da vida, pois tenho percebido que o dia tem sobrado na minha, e essa sobra à partir de hoje será preenchida com algumas linhas, pensamentos, idéias, contos e histórias passadas.

Já tive à alguns anos atrás alguns fotologs, coisa de adolescente (nada de errado com isso, porém acredito que naquela época os textos devem ter sido um tanto rebeldes), mas após algum tempo acompanhando o blog de dois Jornalistas amigos meus : Rimene Amaral e Aline Leonardo, acabei criando essa vontade de escrever de novo, de compartilhar uma risada do passado, um choro do presente e uma esperança do futuro (não necessariamente nessa ordem dos acontecimentos), e creio que chegou a hora de desmantelar o teclado do computador diariamente.

Não esperem uma ótima ortografia como de meus amigos Jornalistas, apesar de minha paixão pela língua materna, minha língua Portuguesa "do Brasil" (como dizem aqui na Europa), que tanto amo e aprecio, já faz algum tempo que não à tenho em uso, então peço perdão em adiantado.

O nome do blog veio da frase que desde muitos anos atrás tenho usado, O mundo é meu quintal, prova disso é o não ter medo de correr por esses pastos, sejam eles verdes, cinzas, queimados pela neve ou amarelados pelo sol, e provavelmente no decorrer dos dias vocês perceberão o quanto essa frase está marcada em meu sub-consciente, o quanto meu coração busca orientar meu ser por entre diferentes culturas, povos, paisagens e momentos coletados nesse infinito globo com tanto pra se ver.

Ficarão aqui registrados fatos, acontecimentos e detalhes não só do meu dia-à-dia, mas de muita gente ao meu redor e de lugares por onde tenho passado, coisas que considero importante não ficar no esquecimento, quisera eu poder ter esse papo num butequim, mas como em toda moeda tem duas faces, na minha moeda tenho de um lado a alegria de ser um andarilho e na outra à de ser um distante amigo.

Como teoricamente uma página da internet, como esse blog, não fala e não escuta, levo essa brincadeira como um "Papo de Surdo e Mudo", valeu Falcão pela inspiração, e mesmo não falando ou escutando, teremos espaço de sobra pra comentários, sintam-se à vontade pra preenchê-lo !