Friday 31 December 2010

Amor, Amor



Numa véspera de ano novo, o ideal seria falar sobre esperanças e votos para o início do mesmo, talvez palavras estimulantes que trarão coragem e novos planos.

Mas prefiro falar de amor, o amor tem me acontecido desde sempre, tem me aparecido vez ou outra, intensamente ou apenas suave como um vento do final de tarde, começa e acaba como nas histórias dos contos de fadas, às vezes acontece a rotina bem no meio como no filme da sessão da tarde, de vez em quando na noite vem o esturpor em chama como o fogo do inferno, amanhece e o mundo se torna azul como o paraíso.

O homem vê amor em lugares estranhos, alguns amam o dinheiro, outros seu carro, muitos a namorada, a mãe, um lugar e por aí vai. Amar é um adjetivo prático, tão prático que tem sido banalizado com o passar do tempo, o coração do homem tem se tornado um buraco sem fundo onde tudo cabe, claro que em nossos cérebros temos uma calculadora mágica que cria valores diferentes para cada amor, sem ao certo saber o que exatamente esse sentimento representa.

Meus amores aconteceram, não foram banais, não foram passageiros, alguns continuaram por longo tempo em meu coração, nesse buraco sem fundo que se expande mas que mesmo sem fundo, se acha cada memória, lembra todo acontecido. Tem épocas que me apaixono à cada cinco minutos e essas paixões se tornam amores repentinos, como aquela mulher no metrô, aquela que trocou olhares, curiosos, tentou lembrar se me conhecia de algum lugar, lá de longe no vagão solta um sorriso tímido, eu já a amava sem saber, divido meu tempo, aquele ócio no balanço hipnotizante da carruagem, com ela entre breves olhares em nossos livros e levantando novamente os olhos, tentando disfarçar o interesse, talvez ela já estivesse amando também, talvez só estivesse confusa, quem sabe eu a lembrava um ex-namorado, alguém que ela amou muito, acho que a palavra amor se tornaria comum em nossas vidas caso eu criasse a coragem de ir falar com ela.

Numa próxima estação ela desce, olha de fora, vê o trem continuando seu rumo, no princípio devagar, depois mais rápido, vai me seguindo com os olhos, agora já não mais com aquele sorriso quieto e cativante, parecia mais uma tristeza da alma, aquela que deixa o rosto calmo, o corpo semi-presente e as mãos inquietas. Pouco mais de um segundo e ela se foi, sem um nome tentei me agarrar ao livro, mas seu rosto tornava a aparecer em minhas páginas, um rosto sem nome, um amor sem endereço, amor que tantas pessoas procuram a vida inteira e achamos no metrô, mas que vai embora da mesma forma com que veio, num sopro de vento no túnel que não será o do esquecimento.

Ficou o vazio, preenchido com aquela dor que não machuca mas que faz lacrimejar, o coração esvaziou como que de repente, achou o fundo e se tornou compartimento, tem gavetas e cabides, rótulos e agora está pronto novamente para ser preenchido.

Chego ao fim desse ano assim, vazio, não na forma com que você esteja pensando, da forma ruim, digo vazio mas pronto para um novo ano, coração vazio, mente aberta, alma pronta. Hoje fecho os olhos na última noite de um ano sem igual, para então acordar em um novo mundo, num recomeço do amor, pronto para o que vier, e prometi à mim mesmo não deixar o amor descer na próxima estação sem antes pedir seu telefone. Feliz Ano Novo Amor, esteja você onde estiver.





Saturday 4 December 2010

Amanhecer em Hamburg

cold,dark,lights,snow,winter-8d2a300ca2cab2dad693b261ea0b9de6_m.jpg (215×184)Entre a escuridão em que me encontrava, havia um faixo de luz que me incomodava, algo fora do normal que insistia em chamar me a atenção, não conseguia distinguir se era vida ou apenas uma lanterna mirada em meus olhos.

Em um esforço sem igual abri os olhos, o relógio a beira de minha cama piscava em verde fosforescente seis e quinze da manhã e seus dígitos brilhantes queimavam minha retina como fogo queima o ar.

Saí daquele transe em que nos encontramos quando dormimos profundamente por horas à fio e não sabia onde estava. Escuro, fora o barulho do motor de uma geladeira todo o resto do mundo à minha volta era silêncio, sentia me confortável mas muito próximo ao chão, e então me dei conta do frio quando movi os cobertores, como se o mundo tivesse acabado e estivesse meu corpo no limbo de um nada, esse mesmo corpo entra em convulsão de tosse ao respirar o ar gélido dessa manhã no limbo.

O frio me faz incapaz de pensar, não quero pensar em nada, só preciso ficar ali mais tempo, debaixo dos cobertores e voltar ao meu transe, mas a curiosidade me faz mover, levantar e procurar reconhecer aquele limbo, acho uma cortina e abro sem sequer respirar, não acredito no que vejo, branco eterno na escuridão lá de fora.

Toco a janela e as pontas de meus dedos começam a congelar imediatamente, por instinto saio de perto daquele vidro que mais parece um portal para o imenso nada que existe lá fora, ainda assim continuo tentando entender aquela vastidão em frente aos meus olhos, vejo uma praça com árvores secas e cinzas, galhos cobertos de neve branca como algodão, alguns bancos de madeira, daqueles em que os namorados abraçam e se beijam quando não tem ninguém olhando, mas não nessa hora, não nesse frio.

Entre algumas árvores e arbustos vejo esquilos à correr, primeira forma de vida nesse nada que imagino ser meu sonho, apesar da janela congelar meus dedos pareceste bem real, até mesmo o coelho que corre de repente e atravessa em longos saltos aquele espaço do nada me faz coçar os olhos e tentar entender o que é tudo aquilo.

Num ímpeto da alma, resolvo que quero sair dali, quero voltar a vida como era antes, quente, suada, rebelde, barulhenta e iluminada, ao mover me mais rápido tropeço num candelabro, chuto uma garrafa de vinho vazia, me enrosco em travesseiros espalhados ao redor, aquele espaço em que me encontrava parecia um universo sem fim, sem cantos ou prateleiras, nem sinal de porta ou maçaneta.

Entro em pânico e num salto em direção oposta à janela para o nada, toco algo parecido com madeira, como uma parede em vertical, conclui aquilo ser uma porta, a porta para a vida, minha escapada para os campos verdes e coloridos, longe longe daquele branco perpétuo, procuro a maçaneta, torço lentamente e naquele silêncio concreto o ranger daquele mecanismo bárbaro de metal me entrega e alguém fala comigo, pergunta o que eu estou fazendo, por que estou indo embora e deixando aquele lugar, meu pânico aumenta e vira crise, medo, frio na espinha que vem de dentro e não tem nada à ver com o limbo lá de fora, viro rapidamente a maçaneta e saio daquele lugar esquecido pelo tempo, uma fina luz vem daquilo que parecia um corredor, continuo sem entender.

Vejo uma cozinha moderna, frutas na mesa, uma caixa de pizza vazia deixada sobre um microondas, copos manchados de vermelho, possivelmente manchas do vinho que veio daquela garrafa em que chutei no universo em que me encontrava, e então a voz mais perto, sussurrando em meu ouvindo, querendo saber meus planos, não podia cair em seus truques, não agora que já estava quase lá, quase de volta a vida, pronto para respirar ar quente e encher meu corpo de humidade e calor, viver cada segundo como se fosse o último e não deixar que aquele chamado fosse meu último segundo.

Então ela toca minha mão, fria mas carinhosamente, beija me o rosto, abraça me tocando seu corpo ao meu e pede me para voltar à cama, diz me que o aquecedor provavelmente quebrou de novo e que iria acender a lareira, apesar de muito cedo, se eu procurava por outra garrafa de vinho, o lugar ideal seria no sótão, mas em todo caso o abridor estava bem ali na minha frente, na cozinha.

Decido por um copo d'água, resmungo algo incompreensível sobre jet-lag e volto para o aconchego daqueles cobertores, sem medo algum de cair naquele limbo outra vez, porém desligo o relógio com medo de seguir aquela luz novamente.


Thursday 25 November 2010

Goodbye Indochina !!

Alguns meses se passaram e nesses últimos dias já me sentia um local, um estrangeiro local, por melhor dizer. Explico, por mais enraizado que estejamos na cultura desses países asiáticos, se não possuímos as características físicas e modos orientais , seremos para sempre "farang", estrangeiros.

Fui acostumado a pequenas doses nesse mundo velho, criei um formato geral das pessoas e seus hábitos, por mais parecidos que sejam entre as fronteiras de países pequenos, se notarmos com cuidado veremos quão diferente são as populações, mesmo entre Norte-Sul de um mesmo país vemos diferenças substanciais e interessantes.

Ser chamado de "farang man" pelas ruas da Thailandia me fazia dar risada, não pela palavra em si, mas pela malícia em que as mulheres locais se referem aos homens estrangeiros, aqueles que podem salva-las de um futuro pobre, simples e talvez leva-las para um mundo de riquezas e luxurias pela América ou Europa. Minha risada era honesta, não perniciosa ou julgadora, mas pela sensação de ser aliciado pelas ruas tanto por profissionais do sexo como por mulheres simples locais sempre deixou uma impressão calorosa, o contato humano que não se têm em outros lugares do mundo.

Sobre a culinária, ahh a culinária !! O despertar do paladar pelos mercados e ruas sujas foi algo do outro mundo, mesmo com a imundice ao redor, para olhos bem treinados não foi difícil achar o que era higiênico e saudável. A riqueza da mistura entre culinária oriental misturada com a ocidental devido as colônias do passado fazem você ter sonhos a noite, tachos imensos de sopa com ervas e pimentas me deixaram com água na boca, os molhos e condimentos que só se encontram nessa parte do mundo ficarão guardados no meu paladar para sempre.

Mas não são só flores, a rapidez em que os paraísos escondidos tem decaído através do turismo desenfreado me deixaram com um aperto no peito. As manchas de óleo deixadas pelos barcos que levam e trazem turistas de hora em hora tem danificado o azul turquesa e o verde pérola das águas desse mundo velho, as garrafas plásticas e outros objetos deixados para trás vem causando grande impacto negativo nas praias que eram idílicas até poucos anos atrás. E todos nós somos parte disso. Por mais consciente que eu e você sejamos, por mais que tenhamos cuidado com nosso lixo quando viajamos, ainda assim precisamos nos locomover, precisamos pisar naquele paraíso e ver com os próprios olhos e nesse ato deixamos mais que pegadas, fica também o toque da civilização, o que era antes nativo e perpétuo agora é caminho, trilha e facilidades como banheiro e bar à beira da praia.

Tem também as tragédias, tamanha beleza não vem de graça, muitos lugares daqui são magníficos por serem produto de vulcões ativos no meio do oceano, movimento de placas tectônicas   , tsunamis, tufões, vendavais, terremotos entre outros fenômenos naturais que modificam a paisagem através dos séculos. Nesse acaso vem o castigo da população que sofre à cada ocorrência, e se já não bastasse os fenômenos naturais tem também o histórico de guerras, instabilidade econômica e religiosa, a diversidade desses povos tem gerado tensão desde o início dos tempos e as fotos não são nem um pouco bonitas.

A maneira como parte da população mercante da região que chamamos de Indochina tenta tirar proveito do viajante ocidental também é algo à se notar. A idéia de que os ocidentais possuem mais riqueza e por esse motivo sóbrio somos obrigados a gastar o dobro do que é justo é degradante para a imagem de um povo batalhador, mas persiste e não acabará tão cedo. Mesmo sendo isso normal e esperado em países sub-desenvolvidos e de terceiro mundo, sempre acreditei serem os asiáticos mais cientes e razoáveis, mas da mesma forma que turistas tem se aproveitado dos prazeres e deixado sua marca, voltam para casa com uma sensação de terem sido enganados por diversas vezes.

Pensamento filosófico: Os ocidentais não enfrentam fila, se juntam todos e forçam sua vez em empurrões meio educados, isso vem da valorização do grupo ao invés do indivíduo. Aqui se tem o ditado de que o prego que se destaca será o primeiro à ser martelado, sendo assim todos procuram ser o mais parecido com o próximo possível, usam as mesmas roupas, fazem as mesmas coisas e procuram todos terem o mesmo nível intelectual, uma sociedade normalizada. Particularmente acredito que me lembra muito o comunismo, ditando regras silenciosas de comportamento, restringindo indivíduos de mostrarem seus talentos e se destacarem na multidão, diminuindo o passo do desenvolvimento social e perspectiva de idéias inovadoras.

Julgamentos à parte, minha experiência foi a mesma dos pioneiros de séculos passados, chegando na Ásia e sendo facilmente reconhecido como "farang man", tendo a barreira da comunicação mas o poder da mímica e expressão facial, a delícia da simplicidade ao andar descalço e comer com as mãos sentado no chão entre famílias locais, ser tratado como figura famosa pelas ruas onde "farang man" é mais alto e branco que todos os outros ao redor, tendo fotos tiradas e crianças puxando pelo braço ou tocando nossos rostos em curiosidade.

Isso tudo me trouxe paz, algo no espírito que vai me fazer refletir pro resto da minha vida, algo valioso que tem de ser degustado na hora certa, num período de transição e de crescimento pessoal, quando precisamos de tempo para pensar e decidir o que queremos realmente para nossas vidas no futuro, um ponto de balanço para medirmos o quanto de calma e stress podemos suportar e o quão valioso é o investimento de tempo livre e ocioso em determinada época de nossa vivência nessa terra de encantos e mistérios.

Adeus Indochina, vou me embora dessa terra com doce saudade, histórias para contar além mar e uma vontade de ficar que só é vencida pela saudade de minha terra natal.

Thursday 11 November 2010

Privação do ser

A estrada para o sucesso às vezes percorre misteriosos caminhos. Hoje a tarde fui chamado de "Brasileiro misterioso" por pessoas que conheci em minhas viagens e não misteriosamente digo com convicção que atingi o sucesso de minhas metas de médio prazo sem muito mistério. Complicado conectar tudo isso que acabei de escrever ? Imagina viver tudo isso então.

O sucesso nem sempre é aquilo que se explica no dicionário e o que as pessoas possuem em mente, a palavra sucesso pode ser reinventada e colocada de uma forma menos política ou corporativa, a palavra sucesso pode ser taxada como algo que preenche a alma, aquele gosto de água doce na boca de quem foi náufrago em águas salgadas por meses, quem sabe até anos.

Foram alguns anos de minha vida que dediquei à privação de certas coisas para chegar à determinado lugar, aprendi isso com tantas pessoas que difícil é citar tais exemplos, o mais próximo é meu pai, que por um bom tempo trabalhando fora para nos sustentar tinha de ir dormir mais cedo para esquecer a fome e economizar o dinheiro do jantar. 

Comecei a trabalhar bem cedo, por opção e não necessidade, não havia necessidade pois meus pais trabalhavam para nos dar sustento e educação, bem rigorosa mas que deu base para os anos que vieram, e desde cedo aprendi o valor do dinheiro e também aprendi o valor que o dinheiro não tem, se é que você me entende. O valor que as coisas materiais perdem depois de sua empolgação, depois do sentimento de que você conquistou e está ali a seu dispor, seja na garagem, na sala de estar ou na cozinha.

Bem cedo aprendi também que mesmo tendo tudo, às vezes não temos nada, um carro sem seguro pode sumir entre seus dedos se acidentado ou roubado, mas sua vida ainda estará lá independente de dinheiro ou seguro. Não sou hippie apesar de respeitar a opinião de quem é, não prego que a vida só é válida se minimalista, o dinheiro é importante, o capitalismo faz o mundo girar, pelo menos no lugar em que nascemos e somos acostumados, dependemos da troca do papel e da moeda pelo nosso sustento por que já não temos como caçar e pescar, necessitamos de dinheiro por que no futuro o médico vai ser caro, já nos esquecemos dos curandeiros e seus chás e dependemos quase sempre de enlatados, então não confunda as coisas, não semeie sonhos criativos de vida perfeita em comunidade numa vila de pescadores, uma dor de dente vai fazer você voltar à civilização num piscar de olhos.

E nunca, nunca julgue aquele que trabalha e estuda sem parar com extremismo, pois aquele tem suas razões ramificadas em seu ser, queimadas a ferro e fogo em sua pele pela visão crua do mundo ao seu redor, pois ele já está cansado de ver a vida de seu próximo ser tomada pela necessidade e desamparo que a vida moderna trás consigo. 

Nesses dias que venho passando tento justificar à mim mesmo o motivo pelo qual tenho sido tão agraciado com uma vida que todo ser humano gostaria de ter, viajar pelo mundo, experimentar novas culturas, conhecer novas pessoas, ter novas paixões e amores, acordar naturalmente com a luz do sol pela janela de uma cabana à beira-mar, não ter hora nem compromisso, ler e escrever quando me dá vontade, resumindo, tento achar justificativa por ser feliz agora.

Mas e quando eu estava lá no exército das 6 às 8 da manhã, indo direto pro trabalho que teria de ter começado às 8 e que compensava o atraso na hora do almoço, para então sair às 6 da tarde e chegar no colégio à tempo da primeira aula, rezando conseguir uma carona no final das aulas para chegar em casa às 11 da noite, caso contrário seria quase uma hora à pé ? Tendo de engolir a comida para sobrar tempo de ver um pouco de TV, engraxar o coturno e me barbear para às 4:30 da manhã pegar o ônibus para o quartel ? Por que naquela época eu não procurava justificativa para os sofrimentos ? Quando minha mãe me acordava de madrugada no sofá adormecido com o coturno em meu colo, por que eu não me justificava ou pedia desculpa pelo meu sofrimento ?  E quanto à úlcera que tive nesse meio tempo com apenas 19 anos de idade ? 

Por que então depois do exército resolvi ir trabalhar em outra cidade, e continuar por alguns anos aquele martírio de acordar ainda mais cedo, indo dormir ainda mais tarde porque escolhi uma profissão diferente da que exercia e dependia de mais estudo ?

Também não tentei me justificar quando decidi voltar e fazer faculdade, sem emprego mas com determinação e ter de economizar cada centavo para pagar a mensalidade, depois de formado quando era hora de ter paciência e então começar a criar raízes mais uma vez me coloquei numa posição nem um pouco confortável.

Foi em Londres uma das experiências mais pesadas em minha vida, mais uma vez por vontade própria, me deprivei de meu ser, de quem eu era, para me tornar o que sou hoje, alguém que queria aprender mais, alcançar ainda mais e chegar onde poucos chegaram. O preço foi alto, anos de reclusão longe da família e amigos, economia exagerada, frio, depressão, falta de calor humano e carinho verdadeiro, carga horária de trabalho exagerada e irresponsável, horas de estudos insuportáveis e a perda de meu humor característico.

Mas tudo valeu à pena. Nesses longos anos também existiram tempos de paz e felicidade que ficaram mais fortes na memória apesar de mais escassos, devido à toda essa privação os resultados foram gratificantes, recompensantes e que hoje tem me proporcionado muito mais do que eu desejava no começo, hoje possuo coisas que nenhum governo pode me tirar, que a falta de dinheiro tampouco irá me preocupar e que derrubou toda e qualquer fronteira desse mundo.

Acredito que estou empatado agora, depois do vendaval veio a bonança, depois do inferno o paraíso, agora é tratar de planejar os próximos passos pros próximos 10 anos, e dessa vez, o que vier será mais fácil e se não for, não será novidade e se for novidade, que não só eu mas você também tenha saúde para enfrentar de cabeça erguida lembrando que no fim do arco-íris existe um pote de ouro.

Nessa tarde me chamaram de "Brasileiro misterioso" quando contei grande parte dessa história para uma roda de amigos, todos irlandeses e que diziam não acreditar eu ser Brasileiro pelo meu sotaque irlandês, depois de um mês viajando entre eles absorvi a conversação e suas particularidades assim como eu fazia no passado quando passava minhas férias no sítio e mudava constantemente meu palavreado entre o caipira e o menino da cidade, esse foi um dos resultados de minha longa jornada, mas deixei bem claro ser Brasileiro sim, com muito orgulho, com muito amor e que não desiste nunca, mesmo que tenha de me privar de vez em quando.

Tuesday 2 November 2010

Bangkok - Khao San Road

A primeira vez em que botei minha atenção em Bangkok foi quando assisti o filme "A Praia", o personagem principal - Richard, narrava sua chegada a cidade depois de uma longa viagem vindo dos EUA, surpresa a minha foi quando li o livro que deu origem a história contando ser ele na realidade britânico, talvez por Leonardo Di Caprio não ter a facilidade em fazer o sotaque o roteirista deva ter achado melhor mudar o ponto geográfico do personagem.

Ele começa a narrativa falando sobre Khao San Road, a rua dos mochileiros: suja, milhões de "westerners", locais vendendo todo tipo de coisa, motoristas de tuk-tuk puxando pelo braço, barulho, música pop thailandesa vindo de todo lado, barracas de comida vendendo Pad-Thai por menos de 1 dólar, muito álcool, casas de massagem e insaciáveis olhares em busca de sexo e diversão.

Minha primeira impressão ao chegar aqui foi exatamente a mesma.
O grupo de mochileiros que eu viajava se dissipou e acabei chegando em Bangkok com duas inglesas do grupo, elas já haviam passado por aqui no inicio da viagem e sabiam alguns lugares decentes pra ficar, conseguimos um quarto triplo por 8 dólares cada, sem sinal de ratos ou baratas, comecei bem minha experiência thailandesa.

Mas durou pouco, elas - minhas amigas inglesas - estavam a caminho das ilhas ao Sul da Thailandia, ficariam apenas uma noite e depois eu teria de me virar pra achar um lugar só pra mim. Nessa primeira noite achamos um casal de irlandeses que viajaram conosco pelo Vietnã e Camboja, eles vieram mais cedo pois tinham de encontrar outros 14 irlandeses amigos que planejaram viajar juntos pela Ásia e então juntei me à eles. Não sei onde eu estava com a cabeça...
A fama irlandesa de serem beberrões não é a toa, ainda mais quando eles acham um pub irlandês fora de casa, e Khao San Road possui o "Mulligans", tradicionalíssimo e ponto de encontro dos caras. 

Sempre tive amizade com irlandeses, são fanfarrões e muito parecidos com brasileiros em seu humor e forma de se divertir, não demorou e eu já tinha acostumado meu ouvido ao sotaque forte de Galway (região sudeste da Irlanda de onde esse grupo veio) e até mesmo consegui adaptar meu sotaque ao deles pra facilitar a  conversação, depois de alguns baldes de whisky/rum e coca-cola a gente fala até Alemão fluente meu amigo...      

A noite passou rápido demais e quando percebi estávamos todos cantando e dançando com dezenas de locais ao redor de uma banda de rua, as músicas eram incompreensíveis em Thai, mas o som era agradável e ritmado, deviam estar tocando os top-hits pois os locais cantavam apaixonadamente.

O sol já estava ardendo quando resolvi voltar pro meu hotel, meus amigos irlandeses -  Demian, Rachael, Thomas, Michael, Michella, Michelle, Ayline, Gemma, Dan, Chris, Callum, Jason, Evy e Jackie rumaram para o deles onde estavam juntos, e quando chego ao meu quarto a porta trancada, as inglesas tinham voltado mais cedo e já estavam dormindo à séculos. Não muito alegres abriram a porta, dormi por umas duas horas e então fizemos o check-out no hotel, elas estavam de partida pras ilhas e eu numa nova jornada para achar um hotel bom, bonito e barato, tarefa quase impossível.

De ressaca e com uma alergia do sol que nem vampiro tem, saí em busca de uma nova casa, não poderia ficar com os irlandeses pois hotel com piscina no terraço aqui custa em média 30-40 Euros por noite, eu estava disposto a pagar 5-10 dólares. Andei por todo lado como um zumbi e a cada hotel que entrava lembrava do filme "A Praia", lugares que pareciam depósitos de lixo, camas afundadas e cheirando mofo, paredes feitas de compensado de madeira ( se ouve tudo o que acontece do outro lado ), e a maioria dos quartos sem janela com ventiladores quebrados.

Um dos primeiros hotéis que passei custava apenas 4 dólares por noite, achei ser um dos regulares, pois ao redor da Ásia é um valor comum, mas não no caso de Bangkok, engano meu, tinha de dividir o quarto com hóspedes indesejados, ao abrir a porta um batalhão de baratas correu pra dentro do colchão e uma tropa de ratos saiu pela janela (sim, esse quarto tinha janela!), minha expectativa de encontrar um lugar bom e barato começava a ir por água abaixo.

Depois de horas nessa jornada, consegui algo razoável, 12 dólares com banheiro comunitário, nunca fui tão feliz na minha vida, mas terei de economizar em outros aspectos, o mochileiro precisa manter seu orçamento ao redor de 10 dólares por dia, caso contrário vai a falência. Apesar de ser um bom lugar, continuo ouvindo tudo o que acontece no quarto do lado, não acho tomada pra recarregar meu IPod, resta botar o protetor auricular e ler um pouco pra conseguir dormir, em menos de 5 minutos eu entrava em coma por diversas horas.

Acordei já eram 7 horas da noite, uma fome que mordia meu estômago por dentro, saí em busca dos irlandeses e não foi difícil acha-los no "Mulligans", todos haviam passado o dia dormindo ao redor da piscina e tinham queimaduras nem um pouco confortáveis, brancos como todos irlandeses, pareciam muito como tomates levados ao forno, mais motivo para beber e dar risada.

Compramos comida e bebidas no supermercado e voltamos pro hotel deles, não foi difícil passar despercebido no meio de 14 irlandeses pela recepção, vi que as recepcionistas já não estavam agüentando mais tanto barulho e desistiram de pedir pra se comportarem, logo estávamos na piscina do hotel 4 estrelas com uma vista maravilhosa de Bangkok e a insanidade da Khoa San Road 15 andares abaixo, mais uma vez agradeci aos céus por ser tão abençoado em minhas viagens e fechei minha segunda noite em Bangkok sem dormir e com um shot de sangue de cobra. Ainda fico vários dias por aqui, e então rumo para "A Praia", ou melhor, para "As Praias", mas prometi a mim mesmo não ser tão irlandês nos próximos dias...  

Monday 18 October 2010

Halong Bay, Vietnam


"Find what you love and let it kill you."

Emptiness. Laying on the beach for hours just staring at the sky, can't find anything but blues and clouds, makes me wonder how easy is living, how boring is not moving.

Few days ago, far from here I was at this place, a beautiful and unique bay, doing the same thing, floating in that blue turquoise water in the middle of the night just staring at the stars, what a moment, knowing how deep that place was, not knowing what could be under water, all this made me feel so full of life, couldn't stop smiling like a child.

This kind of a moment is so intense that you just forget about everything, you don't want to eat, you don't want to sleep, you don't want to rest, you do want to freeze that moment like in a paint and stay there forever, with your arms wide opened, your lungs full of air and just pretending that you are flying around.

Everyone's back at the boat, sleeping, dreaming in a magic swinging of the waves, and I was out there, living the real thing, and suddenly I saw it, lights everywhere under me, first I was afraid and then I realise what that was: phosphorescence. 

Phosphorus is a bacteria that can be found around South Asian's sea, and it produces exquisite lights underwater when you move around it, and as lucky as I never imagined I could be, found myself swimming in one of the most beautiful places in the world involved in shiny and bright light, alone. No witness, only my being. 

Who knows when this sort of a thing is going to happen again, hard to say, once in a lifetime experience, probably will be part of conversations around friends, when everyone's response will be an open mouth and disbelief, some asking desperately to explain or to show photos, some of them just thinking that I'm trying to show off with made up stories from abroad, but the truth is, I'll never be able to really explain what a feeling that was.

One day I'll be back at the office again, in my desk, behind my computer, boiling my brain, stressing my nerves and trading my soul, and that memory will be my resort, I'll fish a smile whenever I need it, I'll heal my body with that good feeling and I'm gonna buy my soul back whatsoever, because my soul was blessed that night and can't be traded for silly money.

Saturday 16 October 2010

Trilhas sonoras da estrada e para a vida

Numa viagem pelas montanhas do Laos, eu pensava comigo qual seria a religião do motorista, o quão parecido com paraíso seria o lugar em que ele imaginava ir após sua morte, e qual seria a qualidade de vida que ele levava naquele momento a ponto de avaliar qual seria melhor, pois a velocidade em que ele levava seu ônibus naquelas curvas à beira de precipícios me deixou bem preocupado.

A última vez que experimentei tamanha aventura foi no Peru, num taxi dirigido por um japonês doido por Roberto Carlos e que dizia a todo momento o quão "hermosas" eram as montanhas de picos nevados. Nunca imaginei que seria tão complicado e "peligroso" ir em busca de uma passagem de trem para Machu Picchu.

Ultimamente uma de minhas preocupações é a trilha sonora para minhas viagens, parece bobo mas quando se volta pra casa é bom ter aquela música como parte da lembrança, ou mesmo quando toca no rádio inesperadamente e a recordação do lugar vem automaticamente, não tem preço. Lembro das caminhadas pela Chapada Diamantina na Bahia acompanhadas por Morcheeba, da trilha sonora de Marie Antoinette na França e Renato Russo pela Itália afora, acho então que Jack Johnson tem sido uma boa escolha para o Laos até agora.

Venho guardando Jimmy Hendrix pro Vietnam - campos de arroz, cheiro de pólvora no ar, sangue na vegetação, helicópteros passando sob sua cabeça no ar e pacotes de Marlboro amarrados no capacete, guerra meu irmão, Vietcongues por todo lado e Hendrix na cabeça, aposto que muito americano morreu por lá sem ao certo distinguir a diferença entre o som da metralhadora e a guitarra de Hendrix.

Thailandia ? Bob Marley meu amigo, nada mais, nada menos..

Dica para serras intermináveis e curvas ao longo de montanhas : barriga vazia, garrafa d'água e uma caixa de chicletes. Diga adeus as náuseas.

Tenho a impressão de que o interior dos países são todos iguais ao redor do mundo, população ribeirinha vivendo da pesca e morando em casas de pau à pique, outros morando nas encostas dos morros sobrevivendo dos animais que criam e dos vegetais que plantam, crianças na faixa dos 2 aos 5 anos de idade vivendo livremente soltas por todo lado, gente transportando todo tipo de coisas em baús de palha nas costas ou na cabeça, entre mil outras semelhanças que já vimos no sertão brasileiro ou que bem sei existe nos altiplanos bolivianos.

Seriam eles, os simples habitantes, capazes de experimentar a vida urbana e algum dia desistir e voltar as suas origens, vivendo de pouco saneamento básico e higiene, sem a modernidade de hoje em dia, desligar-se do materialismo que consome milhões de pessoas nas grandes capitais ? Como seria se houvesse essa opção depois do choque cultural e adaptação, teriam eles a coragem de largar tudo e voltar ?

Difícil dizer. Seria mais ou menos como o pássaro capturado, apesar de ter a mordomia de uma casa, água, comida e alguém sempre assobiando ao seu redor, provavelmente passaria a vida lembrando do quão extenso era o céu, quanta falta lhe faria seus mergulhos em queda livre e sua liberdade acima de tudo. Fácil é entender as razões pelas quais o inverso acontece, tantos suburbanos deixando a cidade em busca desses refúgios da pré-história.

Eu mesmo já me perguntei diversas vezes, seria muito fácil minha adaptação em tais lugares, viveria como pescador, plantaria, caçaria e teria todo o tempo do mundo para meu amor e meus filhos, mas daí vem a família e amigos, que moram lá longe nas cidades grandes, a falta deles me mataria, me faria querer ter mais, um carro, mais dinheiro pra poder visitá-los e então todo o plano vem por água abaixo.

Bom, por enquanto sigo pelas tortuosas estradas da vida, hora me matando de estudar e trabalhar, hora aproveitando cada segundo que essa vida me reserva...

Laos, primeiras impressoes e minas-terrestres

Laos, aposto que você nunca ouviu falar deste lugar, estou certo ?

Quente, árido, comida apimentada, cerveja barata e resquícios de várias guerras por todo lado, essa é a primeira impressão quando se chega na capital, Vientiane.

Embaixadas fortemente guardadas mostram também quantos países tentaram conquistar e manter Laos como base logística na Ásia, interessante mesmo é ver o quanto de francês ficou em nome de ruas, monumentos e prédios ao redor.

Fato: Os Estados Unidos gastaram 9 milhoes de dolares por dia bombardeando Laos durante a guerra do Vietnam que acabou em 1975, porem muitas dessas bombas e minas terrestres continuam ao redor espalhadas pelos campos, vilarejos e estradas, fazendo desde 1973 12.000 vitimas com estimativa de ainda existir centenas de aparatos nao detonados.

Laos e conhecido hoje como um dos paises mais bombardeados no mundo, e os Estados Unidos gasta 1 milhao de dolares por "ano" tentando ajudar as vitimas e o desarmamento desses dispositivos.

Turista x Viajante: A diferença entre o turista e o viajante é que um necessita algo para fazer, um mercado para comprar, um museu para visitar, um monumento para tirar foto, sempre a necessidade de "ter de fazer algo", enquanto o viajante apenas precisa sentir o lugar, parar numa esquina e ver o tempo passar, ver o trânsito caótico levantar poeira e não se intimidar em ficar ali observando, tirando suas conclusões, imaginando o dia-a-dia daqueles que por ele passa, buscando à todo momento sintonizar sua vida naquele momento, ao invés de parecer apenas um objeto deslocado, algo fora do normal, uma explosão de branco em fundo preto, ou molho de tomate derramado sobre toalha branca, assim como o turista ocasional parece para a população local.

O viajante ajuda da mesma maneira o desenvolver do lugar em que passa, assim como os turistas ele precisa se hospedar, precisa se locomover e precisa também se alimentar, mas ele se torna um foco menos presente, menos óbvio, um ser nem tão onipresente como a maioria, que precisa se identificar como alguém de fora, alguém que não pertence ali, alguém que na maioria das vezes procura a vantagem entre seu dinheiro e a moeda local para se satisfazer em luxuria, enquanto os menos afortunados se desgastam para sobreviver.

Sobre a felicidade nas pequenas coisas: Em Laos vemos pobreza por todo lado, mas não creio existir fome, e por incrível que pareça, esse povo está sempre sorrindo.

Lembrei me de minha infância no sítio vendo as crianças desse país correndo selvagem por todo lado, vivendo à beira de estradas onde caminhões passam a centímetros desses pequeninos seres, e eles apesar de tão jovens, acredito em torno de seus 2-5 anos de idade, sabem exatamente como se proteger, talvez por que nunca souberam o que é um videogame.

Se um dia for eleito presidente, criarei uma lei proibindo videogames, permissão só para maiores de dezoito anos.

Partir

Preciso de novos amores para compor como preciso do ar que respiro, necessito dessa chama de paixão para mais alto voar, no dia em que essa fonte se esgotar faço um filho, quero aprender o que é amar alguém que sou eu fora de mim mesmo, e dessa fonte imagino que inspirações nunca irão se acabar.


Tenho amigos que me inspiram e sei que à alguns também o faço, fato é que muitos deles são mesmo amigos não pelo respeito, mas pelo que compartilhamos nessa vida, seja um dia em que dormi em seus sofás, seja naquela noite em que fizemos a fogueira para esquentar a conversa.

O respeito vem junto com o tempo, dizem termos de cuidar bem dos nossos velhos amigos pois aos 30 você já não terá tanto tempo assim para o tê-los, terá sim bons amigos, mas não aqueles da adolescência que cresceram juntos, que puderam passar tardes jogando conversa fiada sentados na calçada ou brigando por amenidades.

Ah que falta me fazem eles, os amigos, quiçá um dia entendam esse mundo de saudade e distância, e que me perdoem o deixar e o partir, mas um dia isso passa, e se não passa, comigo os levo.

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Wednesday 8 September 2010

Dubai

País: Emirados Arábes Unidos
Emirado: Dubai
Incorporado (cidade): 9 Junho 1833
Independente do Reino Unido: 2/12/71
População: 2,262,000
Area 4.114 km² 
Moeda: UAE Dirham
PIB: US$37 Bilhões 
Renda per capita: US$44 mil/ano
"Produz de 50,000 à 70,000 barris de óleo por dia"

Com esses dados em mente, não era para eu ter me impressionado ao chegar nesse lugar quente, seco, diferente e rico.

Claro que ao chegar num oásis no deserto é de se esperar temperatura de 35 graus às 6 da manhã, mas já fiquei confuso ao iniciar o vôo com a Emirates onde a classe econômica era mais parecida com a executiva, tvs individuais, todos os filmes que estão no cinema disponíveis, serviço de bordo indescritível (até a comida foi boa! Carneiro ao molho com arroz ao curry e vinho selecionado!).

Surpresa a minha também foi ver no sistema de tv a possibilidade de assistir por uma câmera instalada no bico do avião a decolagem em tempo real, a mesma imagem que o piloto tem, e depois de decolar existe outra embaixo na aeronave que nos permite ver os países pelos quais sobrevoamos, imagina só ter visto Romênia, Turquia e Iraque ?

Enfim, no aeroporto de Dubai vi o que é luxo, cascatas em todo lugar, arquitetura que nem se compara, lojas vendendo ouro e diamantes como se fosse atacado de 1.99 reais !! Vi carros caríssimos sendo descarregados dos aviões e árabes endinheirados passando por todo lado.

Se não fosse tão quente e seco eu até pensaria em morar, mesmo o cafezinho expresso custando 30 euros ;-)

Wednesday 1 September 2010

O dia em que eu saí de casa

Saí de casa era noite ainda, ônibus lotado até o ponto onde tinha de apanhar a conexão pro aeroporto, fui vendo Londres pelos olhos de quem talvez não volte mais, primeiro passou meu bairro, logo passei o pub onde trabalhei alguns anos (e esses anos voaram...), coincidência ou não o ponto da conexão era bem ali do lado, na Bishopsgate em frente a Liverpool Street Station.

Sigo o caminho até o aeroporto de Stanstead, 45 minutos não mais que isso, chego logo faço o check-in, tempo de sobra para ir até o portão de embarque, como combinado o vôo sai no horário (pontualidade britânica ?).

Passei pelos longos minutos de fila pra embarcar no avião, lógico que Ryanair (aquela companhia que é tão barata que já pensa em cobrar pra usar o banheiro durante o vôo), pouca gente, ninguém na poltrona do lado (isso só acontece em vôos que duram 50 minutos), e então o comandante Bryan diz que partirá.

Deixo então o solo britânico rumo à Alemanha, me vem algo como alivio, metade felicidade, metade tristeza, mas não me vem as lágrimas, não dessa vez, talvez por que realmente ali não era minha casa, pelo menos não de verdade em primeiro lugar no meu coração. O sereno deixou os vidros do avião molhados e ao se movimentar aquela água correu lisa em gotas, ali então deveriam ser as minhas lágrimas, talvez fosse Londres tentando me dizer algo, talvez fosse só um saudosismo apressado, não sei.

Cheguei então em Frankfurt, imigração mais que tranqüila, sem perguntas ou firulas, só o estampido de mais um carimbo no passaporte. O dia é bonito, 8 graus com sol (ótimo todavia), mais um ônibus de conexão para o aeroporto principal, o plano será guardar a mochila num locker, pegar o primeiro busão rumo ao centro e ver a vida passar, na Alemanha.

Depois do almoço e de um café tradicionalmente alemão, rumo ao Frankfurt Rhein-Main Airport, de lá serão boas 7 horas de vôo até Dubai, pra então trocar de avião e mais 7 horas até Singapura. Dois dias para chegar à Ásia, nada mal.

So far, so good :-)

Wednesday 25 August 2010

So long...

So this is goodbye, London.
I wish you all the best, trully.
There was the best of times, there was the worse of times, I ought to say.
No more expensive nights out, no more cheap days in, nevermind the beautiful weather.

I cannot say how much important you are for me London, you gave me everything in those years, friendship, love, regret sometimes, life and death, gave me also wisdom and stupidity, you opened my eyes for a different world, now I can see through a window that not so many people are able to, and I'm glad I was the chosen one.

So many times my head has been spinning and aching for you, London, uncountable times, and I'm still sick of thinking why I sold my youth to live with you, my dirty lady.

Cold mornings, opening the blinds with a nice coffee in my hands, just getting ready for work, looking all the neighbourhood passing by, feeling lonely with the thoughts flying around, no more.

Let's keep it simple, shall we? You used me, I used you, now we go our way.

I'm gonna miss this, moments like right now, sitting in a busy coffeeshop well branded with all the buzz around, people from everywhere in the world speaking languages and me, writing words out of nowhere, mostly with a sense of solitude.

Solitude, that is something that I've learned here, and thank God I'm not short back home, mind you! this was my choice and I can't complaint, just saying.

When one wants to know a place for real, one needs to live in there for a couple of years, that's my best quote about it, and I did myself. I wish I could do it more often, unfortunately our lives are quite short for such enterprise and I assume I'm not that courageous guy who would trade a family life for a "free of strings" forever. Long ago me and my dear old friends used to say that we could have a perfect life when grown ups if we could carry or houses like snails, all that we need kept in a rucksack. 

Now, we can see that it's not so easy, the house is getting heavy and heavier, not to mention if there's another "snail" partner going along with you, female snails can't carry their houses on their own, how about the little ones after 9 months? I definitely can't sacrifice ones comfort for my pleasure in wander the world.

Again, there's no partner, there's no kids yet, but one day I surely will become a family man, I hope so.
Maybe one day my children will read this and they will be thankful for I decided to step out of the track and got back to the normal-way-of-life, and doing so I might find time to conceive them and tell them all the adventures as lullabies and tales before sleep, giving them the gift of free will and theirs fathers hunger of road.

So that's it London, instead of Paris, Crete or Berlin, you're my loved one, you're mine and I've been yours all the way, from me I promise you I'll write about you every now and then to remind myself of you, for old times sake, never letting you fall in the limbo that consumes memories and hand-written pages.

So that's it London, so long my dear.

      

Wednesday 4 August 2010

O Alladin lusitano


Acordei com a luz do sol, meus olhos ardiam como se tivesse pimenta soprada, procurei a garrafa d'água ao lado da cama e esbarrei num litro de vinho, o típico "do Porto", já quase vazio da noite anterior e provavelmente cheio de ar e diálogos intelectuais da mesa do jantar.

A prioridade da semana foi pão e vinho, como fora a de Marcelino (o do "pão e vinho"), a água foi esquecida e fui obrigado a enfiar a cabeça debaixo da torneira no banheiro para aplacar a sede. Não sei dizer se o gosto ruim foi da água encanada ou mesmo do cabo de guarda-chuva da ressaca.

Apesar de ser muito cedo, algo em torno das nove da manhã, já suava em bicas com aquele calor português, resultado também da culinária excepcional e acalorada dessa terra. Tomo meu banho, não acho coragem para fazer a barba e apenas visto minha camisa meio surrada, minhas havaianas e uma bermuda daquelas confortáveis para poder bater perna pelas redondezas.

Não sou muito bem recebido pelo gajo recepcionista do hostel, imagino que sua postura se deve aos meus brados durante a noite anterior em seu pátio, eloquente como todo bom bebedor de vinho, havia discutido desde nossa independência até a política atual, passando brevemente por críticas as novelas enlatadas trazidas aqui de bom coração.

Não meio sem jeito, tento ignorar o olhar fulminante do sujeito, faço um aceno com a mão e saio pela viela rumo às ladeiras portuárias, entro numa padaria e peço meu capuccino, se possível num copo descartável para que não interrompesse minhas andanças.
Sigo caminho e paro de propósito nas escadarias da igreja de São Ildefonso, bonita e antiga igreja com suas paredes forradas de azulejos pintados, todas pinturas em azul, um dos cartões postais da cidade do Porto.

Fico ali sentado por longos minutos vendo a vida passar e pela vida também passavam zumbis, "-são iguais em todo lugar do mundo." penso comigo, aquelas pessoas tomadas pela rotina da estafa, onde o limite é quase sempre a sexta-feira, um pouco mais e eles caem duros no chão, sem vida, sem razão e sem sentir o gosto do mundo. Passam voando por meus olhos, tento me entreter achando familiaridade entre brasileiros e portugueses, quase tudo a mesma coisa, à parte do jeito meio torto de pensar português, que nos trouxe tantas piadas e histórias cômicas.

Uma senhora pára em minha frente e despeja algumas moedas de euro em meu copo de capuccino, diz "- Que Deus me abençoe, que eu tenha mais sorte na vida e que um dia eu saia daquela situação." por algum momento eu procuro achar o motivo daquilo, será que ela tinha lido meus pensamentos e queria mesmo era que eu sumisse dali com o dinheiro do ônibus? Tentou ela sabotar meu café para que eu tomasse meu rumo? Ou seria mesmo uma esmola e ela achando que eu fosse um mendigo tentou dar uma força e um empurrão naquela vida bandida? Fiquei com a última opção. Sem tempo de achar a velhinha na multidão e explicar que não era nada daquilo, que apenas tive uma noite regada à álcool, fui tirado de meus pensamentos por um menino do alto de seus oito-nove anos de idade. 

"- Ei, você está atrapalhando meus negócios, aquela senhora sempre me dá essas moedas que você ganhou. As moedas são minhas, poderia me devolver?"
Não pensei duas vezes e passei lhe o copo, ele olhou com uma cara fechada e aparentando nojo, não tinha muito o que eu fazer, ele sobe as escadarias da igreja correndo e volta logo em seguida brincado com as moedas limpas e brilhantes.
Perguntei o que ele tinha feito, se havia pêgo algum pano para enxugar as moedas e tirar o café, ele então respondeu que as lavou numa piazinha na entrada da igreja e secou com um pano que achou no altar. A pia nada mais era do que a pia da água benta e o pano no altar já se pode imaginar. "- Os portugueses são portugueses desde pequenininhos", pensei comigo.

Alberto - era o nome dele quando perguntei, também me dissera que pedia dinheiro pois precisava ajudar em casa, mesmo sendo filho único passava aperto com a mãe dona de casa e seu pai bêbado, que durante o dia descia o braço no menino se ficasse muito tempo dentro de casa, a escola era uma alternativa cara e distante em seus pensamentos. Apesar de arredio como todo menino de sua idade pode ser, Alberto me espantou por sua curiosidade e carisma, queria saber de onde vim, quem era, o que fazia e por quê eu falava engraçado.

Passei algum tempo matando sua curiosidade e contando algumas histórias do além mar, ele então me disse que a única coisa que lembrava da escola e que ele gostava, era a hora em que a professora contava estórias, dizia que naquela hora ele viajava longe, via lugares em sua imaginação que o permitia esquecer as surras e privações.

Comecei então a contar a estória de Alladin e o gênio da lâmpada, mas não entrava em sua cabeça a figura daquele povo com seus turbantes e tapetes voadores, me pedia para descrever tais personagens como se fossem alguém de sua vizinhança. Disse que Alladin era praticamente como ele, enrolei em sua cabeça uma blusa de moletom que tinha comigo, perguntei se conhecia algum tio gordo em que pudéssemos basear a figura do gênio, ao que lhe vem o seu Manoel lá da padaria.

"- Manoel? Ah não, tenta um outro nome, não podemos contar a estória de Alladin com um gênio chamado Manoel!" 

Me vem então com "Simeão", o dono do butequim onde seu pai tinha conta que nunca pagava, homem robusto, avental sempre sujo de sangue por conta do matadouro clandestino nos fundos de seu bar, lápis enfiado por cima da orelha como provando-se português dos bons. Semeão então virou nosso gênio, aquele que aparecia quando tinha sua lâmpada, ou garrafa, esfregada por Alladin. Chamo a lâmpada mágica de garrafa por que também foi difícil fazer Alberto imaginar uma lâmpada como a que conhecemos, à ele só vinha a cabeça a lâmpada que nos ilumina a sala, cozinha, quarto e banheiro.

Expliquei que na estória de Alladin, ele tinha apenas três desejos prometidos pelo gênio da "garrafa", e que caso Alladin fizesse pedidos mesquinhos, o resultado seria ter seus pedidos atendidos de forma maléfica ou que trouxesse infortunio pra quem os pediu, sendo praticamente o inverso do que ele queria, sendo assim, avisei caso um dia ele - Alberto - encontrasse também uma "garrafa" encantada, que fizesse seus pedidos sabiamente, pra evitar o pior.  

Quando terminei meu conto em grande parte inventado, tentei saber se Alberto havia entendido e sacado o fundo moral da coisa, ao que o garoto me responde que a vida ali não é tão diferente do que nas Arábias, seu pai era também um Alladin, o qual encontrou sua garrafa mágica no botequim do seu Simeão, o qual provavelmente era o gênio à quem concedia tantos pedidos, como as porções de pescada frita, costelinhas de porco e a cachaça para acompanhar, que é claro, vinha sem parar de sua garrafa mágica, mesmo sem ter de esfregar.

Não tive muito o que argumentar com o garoto, mas disse que ele poderia sim ser o Alladin dali também, mas que procurasse a magia numa garrafa de leite na padaria, e que apesar da minha relutância, que o seu Manoel fosse o gênio, quem sabe o gordo padeiro não seja um descendente dos Árabes e Mouros que estiveram ali por tanto tempo ?

Disse adeus e saí em busca do seu Simeão, quem sabe ele poderia me atender alguns pedidos também do alto de seu palácio lusitano e me deixasse descansar em seu tapete mágico... 

Saturday 31 July 2010

Segredos

Guardo aqui dentro o segredo do meu amor, guardo também o segredo do meu desacordo, junto também tem o do desapego e o do endoidecer calado.

Calo para que torne segredo, pois se falasse, segredo não mais o seria, seria sim um boato, caso fosse um sussurrado, demorado é o segredo guardado, à sete chaves daqueles no armário.

Vinha Maria a todo dia, com seus segredos e tormentos, veio José, com seus risos e também o seu mé, foi se João, que sem fósforo ficou sem balão, balão que continha segredos, que não se queimaram e ficaram no chão.

Quantos mais segredos se foram aos céus, não como os de João, que por azar se esparramam pelo chão, mas e os de Cristina, todos bordados nos véus, véus estes levados ao vento, na ciranda de seu firmamento, vai lá sem demora, se enrosca no pé de amora, se finda na curva do vento.

Segredos são só palavras, palavras raras são essas, daquelas que não se houve muito, daquelas que se fala pouco, segredos são mesmo o nada e o tudo, dependendo da hora e do turno.

Segredos são recém nascidos no berço da vida, segredos são monstros dos calabouços, inocente guardado o do berço, terrível, vil, malicioso esse de monstro, cresce com olhos vermelhos e boca de bafo, barba de mentira e chifre de verdade.

Segredos são frutos do pé de manga, segredos são caroços da ameixa seca, um dia foram folhas da macieira, hoje jazem numa garrafa de erva-cidreira, hortelã segredo foi, Jasmim se queixou à mim, segredo não me contam, contai vos eu segredo meu, ao que do outro lado descobriram, do outro lado de meu jardim.

Já não guardo mais segredos, ou ao menos os guardo na seção do esquecimento, lá onde se perdem, lá onde estarão seguros para sempre, continuarão sendo segredos pelo resto da eternidade, e se um dia descobrirem o segredo da eternidade, pobre de mim, que terei segredos de uma infinidade.

Friday 30 July 2010

Eu estou no Brasil

Chego cedo no balcão de check-in da TAM, apesar de alguns anos atrás sentir certo conforto por ser atendido em minha língua nativa, dessa vez não faz tanta diferença, apenas me soa confortável a boa postura portuguesa mas ainda me intriga o uso do gerúndio por atendentes de qualquer instituição.

Com o "jeitinho brasileiro" a moça diz ter conseguido modificar minha poltrona pra um lugar com menos barulho, estava posicionado ao lado da turbina e convenhamos, mais de oito horas de vôo com aquele zumbido não seria fácil, mas o preço da passagem me faria agüentar calado.

Já em pleno ar, ocorre que um casal aparentemente gringo tem seu bebe aos berros, pobre criança que mal sabia onde estava, mas que fez todos ao redor lembrarem com angústia onde cada um de nós estava e estaria sujeito à aturar. Mais uma vez, pelo valor do ticket, eu teria até que cantar nana-neném sorrindo.

Nem todos tem esse pensamento, quando sorrindo ironicamente e falando em forte sotaque brasileiro a vizinha de poltrona diz: "- Puta que o pariu esses gringos hein, bota um remédinho nesse leite que a péste dorme até amanhã!"

A delicadeza brasileira chama atenção de alguns, poucos erguem as sombrancelhas em espanto, alguns até balançam a cabeça afirmativamente, mas o susto veio quando a mãe "gringa" pula nos cabelos da vizinha, falando palavrões em alto e bom português, deixando as comissárias de bordo em posição complicada, pessoas tentavam apartar a briga, foram para o chão (o cinto de segurança não estava conectado naquele momento), o negócio foi digno de vale tudo da televisão.

Após longos minutos de briga alguém conseguiu separar as duas e com o aviso do capitão caso a baderna não parasse, voltaríamos de onde partimos, instalou-se a paz, mas não sem antes colocarem a mulher em um assento bem longe da família supostamente "gringa", ao que acabou sendo aquele lugar do lado da turbina.

O episódio me fez lembrar meu vôo de volta da Alemanha em 2001, quando eu e alguns colegas do trabalho voltávamos de um projeto e conseguimos apenas assentos separados.  Quando vi o sujeito que seria meu vizinho por longas doze horas de viagem, o típico Albert Eistein, fiquei apavorado, logo fiz alguns comentários perjorativos em pleno português ao meu colega que estava algumas fileiras atrás: "-Tomara que esse alemão seja uma excessão e tenha tomado banho!" não contente, continuei: "-Se a gente fuçar essa barba, aposto que até coelho sai!" e por aí foram alguns bons minutos de piadinhas..

Passaram se horas e o tal Eistein havia terminado a leitura do seu Deutsche Welle, vem a comissária de bordo com o jantar, peço minha gororoba em inglês rasgado e o tio "Albert" em pleno alemão. Terminada minha ceia, deixo um pãozinho de lado, ao que vem a chance do cientista maluco perguntar: "- Você já terminou? Posso ficar com seu pãozinho? Se importaria?"
O cara era professor universitário, brasileiro filho de alemães, palestrando em um simpósio na Alemanha. Minha resposta foi um sim com a cabeça. Fiquei ainda por algumas oito horas sem olhar para o lado, de vergonha e por tamanha falta de tato.

Acredito então ser comum em nós brasileiros essa peculiaridade de debochar estrangeiros em nossa língua, o que nos trás ocasiões extremamente delicadas e não tão saudáveis. 

Mas voltando ao vôo atual, eu já me sentia no Brasil em meio aquele barraco. Aproximando se do destino, após a mensagem do capitão sobre temperatura e hora local, os brasileiros natos se revelam e começa um coro lá do fundo: "-EEEEU SOU BRASILEIROOO, COM MUITO ORGULHOOO, COM MUITO AMOOOOR!!!", impossível não entrar na festa, para muitos é a alforria de anos longe da família, de trabalho suado juntando o dinheirinho, é a hora de matar a saudade do feijão com arroz, mas muitos de nós estão mesmo é voltando das férias, do trabalho no exterior pago pela empresa, mas não impede de sentir o patriotismo arrepiar na pele e cantar juntos.

Pouco antes da aterrissagem, um parceiro que conheci na fila do banheiro, filho de Goiás, me interpela e bota seu cartão em meu bolso, lembro da conversa que tive na fila, ele me oferecera ótimas oportunidades lá "no Goiás", bons alqueires por poucos mil reais, disse ele já ter hectares de tantos anos enviando suas economias para o cunhado investir e que Goiás seria o estado emergente nos próximos anos.

Deixo o avião e lá vem mais fila, checagem do passaporte na alfândega. A policial federal encarregada de checar minha brasileidade me olha de cima a baixo, faz cara de quem comeu e não gostou, faz perguntas óbvias e eu não muito pra amigos, pergunto se o problema é a barba? Explico rapidamente que o frio na Europa é extremo naquela época, mesmo sendo 40 graus no Brasil, e ela continua martelando seu computador em busca de meus dados. Sempre imaginei que ao passar na alfândega de nosso país, seria o mais tranquilo dos processos, uma vez que somos naturais dali, o que diverge das muitas vezes que passei por aeroportos ao redor do mundo, mas logo me dou por vencido e aceito que mesmo aqui na minha terra, serei revirado do avesso para poder ter feijão com arroz.

Pelo breve reflexo dos óculos da agente federal, pude ver que ela jogava paciência em seu computador. Nãããão!! Só no Brasil pra isso ser verídico!! Mas fico calado e tenho de me controlar, ela então olha pela enésima vez para meu passaporte e para minha cara e diz: "- É, só a barba mesmo, o resto condiz com sua pessoa." "Obrigado." - penso eu.

Sigo para o hall de retirada das bagagens, nem preciso dizer que não estavam lá, que parte foi extraviada, parte foi danificada, que escuto o segurança no saguão gritando com alguém tentando sair com mala de outro (que deus me perdoe, mas parecia o parceiro Goiâno), e após horas de caos, me vejo em território brasileiro, placas em português, humidade de quase 100% no ar, aquele bafo quente no rosto vindo do asfalto e taxistas enfurecidos e insandecidos me puxando pelo braço.

Ouço uma voz conhecida aos berros em um orelhão próximo, o parceiro Goiâno perguntava à alguém como que podia seu cunhado não ter enviado um táxi depois de tanto dinheiro que lhe havia dado, achando inacreditável tal tratamento com quem ficou fora por longos dez anos. Repetindo o que a voz do outro lado da linha falava, à plenos pulmões tentava entender o que aquilo significava, que seu cunhado já não era mais cunhado à uns bons oito anos. Caiu estatelado no chão. Coisas do Brasil, pensei comigo.

Mais Brasil que o taxista parando no caminho para perguntar qual o caminho para a estação do metrô impossível.
Mais Brasil ainda foi o moleque no semáforo fazendo acrobacia, vem mancando até o carro e num discurso bem rápido e impecável dizia que poderia estar roubando, matando, mas que estava ali pedindo uma ajuda honestamente, que não fumava e que preferia comida do que dinheiro, sua mal formação física o impedia de trabalhar e ir a escola que era longe. Jogo lhe uns trocados pelo sorriso espontâneo e desdentado, e ele sai correndo dando pulos de alegria, engraçado mesmo era ele não mancar. Ao longe grita: "- Ei tio, tem um cigarro aí?"
Tremendamente Brasil são os caras na beira da estrada já no meu caminho para casa, sentados em pedras propositalmente bem posicionadas com placas dizendo "CHAPA", penso como seria explicar tal profissão e sua natureza à um gringo.

Chego em casa e é domingo, mulherada na cozinha preparando o macarrão, o assado e suas saladas, os homens na sala vendo o programa de esporte, todos exatamente como eu havia os deixado alguns anos atrás, e isso me trás um conforto e uma felicidade cômoda. A criançada vem correndo lá do quintal com suas espadas feitas de fiapo de tábua de construção, capacetes de papelão e o cachorro vem junto tropeçando por entre as pernas dos pequenos. Gritam pelo tio, pedem para ajudar arrumar o cabelo das bonecas, pedem pra jogar bola na rua, e acabamos no tapete brincando de fazer montinho. Então eu sinto do fundo do coração que agora sim, eu estou no Brasil.

Mas até lá, fica o sonhar acordado. 

Brasil, ó meu Brasil, tenha se um ou mais reunidos em teu nome, brasileiros ali estarão! 



     

Wednesday 28 July 2010

Pai nosso


A primeira vez que vi meu pai chorando, ao menos à vez em que eu me lembro, foi quando meu avô morreu, Purfírio. Ele não era pai de meu pai e sim seu sogro. O amor entre os dois era de pai pra filho, o tratamento pelo que presenciei desde nascido era esse mesmo, um pai para meu pai, um filho para meu avô.

No dia em que o velho faleceu, meu pai foi até a igreja me avisar, estava prestes à fazer minha 1a comunhão e lá estava eu aprendendo os sacramentos. Senti algo errado ao ver os olhos verdes de meu velho marejados e vermelhos, mas ainda sem uma lágrima.
Naquela noite fiquei em casa, trancado. Não queria ver ninguém e só queria que os dias passassem. Prometi a mim mesmo não chorar, ser forte e também não queria vê-lo em seu funeral, ao que trouxe minha mãe aos berros em meio ao seu pranto.

Sem maneira de contradizer a dona Tere, no outro dia me botam no carro e vou até a casa de meus avós onde se desenrolava o velório. Aceno para os tios, primos, parentes e amigos pelo portão, de cara percebo quem é o piadista da vez, pois velório sem piada, não é velório e dizia que meu avô estaria lá no céu naquele momento gritando truco na orelha de seu compadre Plácido, o famoso Prácidinho que havia falecido à pouco tempo. Entro na sala e vejo ali dentro daquele lugar aparentemente confortável um senhor de semblante calmo, bigode bem aparado, terno bem afeiçoado e suas mãos enrugadas dobradas por sobre a barriga magra.

Forte como prometido, fiquei ali, parado observando aquele que também foi meu pai, que me levou de mãos dadas tantos anos para a escola, para o supermercado, para a banca de jornal e para os butecos do bairro, aquele que me ensinou a jogar baralho e me mostrou algumas regras de futebol, o velho sem muita paciência que me ensinou segredos de marcenaria e que me deixou tantas ferramentas de herança. E nenhuma lágrima minha escorria. E então vejo meu pai na porta, sozinho em suas lágrimas, meu super-herói derrotado... e então minha força também se foi.

Da sala se ouvia o choro inconsolável de minha avó que vinha do quintal, amparada por suas irmãs. O ritmo de minhas lágrimas aumentavam de acordo com aquela tristeza, e ela me dizia: "- O vô se foi fio, o vô se foi, e agora ?" "Agora" perguntava eu em pensamentos, ao procurar consolo em meu velho, só achava os olhos verdes afundados naquele mar de lágrimas.

Anos se passaram, o conforto de certa maneira veio à todos naturalmente, ainda penso muito em meu avô e em seus ensinamentos, trago dele parte de suas implicâncias, também trago um chaveiro que ele pendurava no retrovisor de seu Fusca, uma pequenina faca em miniatura guardada em um coldre de couro, entre outras lembranças.

Chegou então o dia em que fui embora, deixei casa, família e uma vida para trás e botei o pé no mundo atrás de aventuras, naquele dia não me perdoei por mais uma vez trazer meu velho à lona, seus olhos tranquilos e verdes marejaram novamente, deixou ir porém não sem antes me abraçar tão forte que relembrei o motivo pelo qual achava ele ser meu super-herói. Homem bom esse que até hoje não vi igual, alguém que em sua simplicidade, honestidade e tranquilidade faz com que o mundo pareça fácil.

Mas um dia eu falhei, no dia em que o pai de meu pai se foi, eu não estava lá, estava aqui, longe, bem longe. Não nos conhecíamos direito, eu e meu outro avô, coisas difíceis de se explicar em família, mas tivemos pouco contato. Sei que o "seo" Zé Amaro foi alfaiate, dos bons, costurava dia e noite, andava de bicicleta barra-forte, a qual eu e meus primos roubávamos de vez em quando para descer a ladeira de sua casa, nos raros eventos em que nos reuníamos. 

Achava engraçado quando o vô Amaro confundia os nossos nomes e sempre invertia, já era um sinal do tal Alzeheimer. Muitos anos depois, foi também vencido pelo cansaço de suas pálpebras, e eu, eu não estava lá para ver os olhos verdes de meu pai marejados e poder dizer que nesse momento, nesse momento eu seria forte e o abraçaria como um dia ele fez comigo, e diria que tudo iria ficar bem.

Mas não demora pai, eu to voltando.

Friday 23 July 2010

Meu primeiro amor

 
O nome dela era Cibelle.
Eu tinha aproximadamente dez anos de idade e ela, acredito, por volta de quatorze-quinze.
Eu devia estar na 4ª série e estudávamos na mesma escola, ela vivia sentada pelos corredores com suas amigas, jogando conversa fora entre uma risada escancarada e outra.

Nunca à tinha notado, éramos praticamente de mundos diferentes, sua turma nos tratava como se não existíssemos e não fazíamos questão de dar atenção, à não ser quando os caras mais velhos vinham roubar nosso lanche, aí a história era outra, com certeza voltaria pra casa com um olho roxo e com fome.

Engraçado como a vida de alguém aos dez anos de idade parecia ser tão complicada, já existiam naquela época pressões, necessidade de ser aceito numa sociedade (mesmo que fosse a sociedade estudantil juvenil), e o desejo de ser mais velho e poder sacanear com os mais novos.

Até o dia em que ela me parou no corredor. Perguntou meu nome, quantos anos eu tinha, onde eu morava, de repente me deu um beijo na bochecha e saiu gargalhando com as amigas.
Naquele exato momento quase entrei em estado catatônico, não falava, não respirava, não sabia onde eu estava ou para onde ia.

No meio da confusão na classe após o intervalo, com todos querendo saber o que tinha acontecido, acabei descobrindo que uma das meninas da minha classe era prima daquele ser encantado, e o nome dela era Cibelle.

À partir daquele dia comecei a escrever cartas para ela, desde rabiscos sonhadores no caderno até colagens com letras recortadas do jornal, passava horas planejando como ter acesso à máquina de escrever da minha tia para poder datilografar frases singelas, simples mas cheias de amor.

Fui pêgo por minha tia incontáveis vezes furtivamente criando meus poemas em sua máquina de datilografar e aquilo me deixava em apuros, fora a vergonha, sempre fui bem tímido e fechado em relação à meus amores.

Aquele amor platônico durou algum tempo, até ela se formar e ir pro colegial em outro lugar e me deixar pra trás com meus sonhos encantados, já naquela época achava que um homem poderia morrer de amor, à vi pelas ruas, de mãos dadas com outros caras, de sua idade ou mais velhos, usavam calça xadrez com velcro na cintura, jaquetas de motoqueiros e topete ao melhor estilo John Travolta em "Grease", enquanto eu tinha meu cabelo no pior estilo "reco" militar cortado por um amigo do meu avô e ainda calçava sandálias!!!

Meu Deus, sandálias!! Onde minha mãe estava com a cabeça? Aquilo poderia ter me traumatizado pro resto da vida!!Mas superei e hoje ainda aqui estou, mas já não calço mais sandálias...

Passados alguns anos à encontrei, bem ali no meu bairro, já uma mulher, com sua família, trabalhava na loja de materiais elétricos de seu pai, seu corpo já bem robusto pelo parto de três filhos, a saia enorme e os cabelos muito longos resultado de sua mudança de religião, mas apesar de todas as mudanças, aquele rosto ainda era do meu anjo salvador, daquele meu primeiro amor.

E eu? Eu vestia minha jaqueta de motoqueiro, com minha namorada esperando lá fora em minha moto, batendo o pé no chão e perguntando qual a dificuldade em escolher uma lâmpada... 

Thursday 8 July 2010

Do outro lado, depois que escureceu


Acordei de madrugada, devia ser por volta das 4 da manhã, meio frio, sonolento e a rua silênciosa lá fora, um carro ou outro se ouvia lá de longe, provavelmente alguém indo trabalhar com o vidro do carro aberto para espantar o sono, som no último volume e as mãos acompanhando as batidas no volante, sei bem, já fui um deles.

Levanto me como que por um impulso descomunal, vou ao banheiro, lavo o rosto, me acho um pouco mais velho que ontem, os cabelos brancos têm aparecido com mais frequência e noto alguns contornos diferentes no meu rosto. Coloco uma calça jeans qualquer, visto uma camiseta, jogo uma camisa por cima, procuro meu gorro, acho o AllStar, lembro de pegar o Ipod, pronto, já posso sair... mas peraí, pra onde?

Alguns dias atrás tinha lido sobre algumas dicas de fotografia, por algum motivo guardei na memória sobre os melhores horários para se fotografar, na realidade, horários incomuns ou que os preguiçosos não se dispunham, que seria ao alvorecer, ao sair do sol, quando o mundo disperta.

Achei esse o motivo pelo qual me levantei tal hora, mesmo sem ter certeza, resolvi seguir pra estação de trem mais próxima, e ficar lá, vendo o tempo ir. Tirei fotografias mentais por horas, pois não tinha a minha câmera, o que há de errado comigo? Não sei dizer, esqueci o que mais precisava ali.

Mas minhas fotografias mentais eram tão boas e de melhor qualidade que nem me importei, até gravação de voz tinha, cada vez que relembrei uma foto vinha com minha narração dizendo o que eu sentia e o que aquele momento eternizado representava.

Vi gente, senhores de idade sem teto, vi trabalhadores, vi a turma da limpeza, mulheres da noite, homens que não eram da noite mas que à sustentavam. Alguns chegavam já com seus cafés nas mãos, outros se encostavam nos pilares da estação e aproveitavam poucos minutos para um sono inocente, enquanto moleques levavam suas carteiras sem inocência alguma.

Não vi sorrisos, mas vi preocupação nos olhares de quem lia o jornal, não vi gente chegando, talvez por que fosse muito cedo, talvez por que fosse ponto final, talvez mesmo é por que fosse até ponto de partida, mas aí já não saberia dizer, continuo fotografando a vida alheia.

E então surge ela, alguém num vestido negro que não se encaixa na pintura, ou foto, como queira. Anda como se flutuasse, linda, corpo esguio, rosto de pele clara e olhos fundos, cabelos negros esvoaçantes, vem em minha direção e me olha diretamente nos olhos, começa a me doer o coração, tenho palpitação e suador, minhas mãos ficam geladas, sinto tontura e ela então põe a mão no meu ombro.

Foi então que eu morri.
Foi o momento em que eu passei dessa pra melhor, foi quando chorei e a mãe não viu, sem nenhum aviso, só aquela certeza que se tem na vida, que uma hora ela acaba, ali, bem ali onde eu estava, onde sem razão e tão cedo eu cheguei, pra acabar assim, escuridão.


Não teve dor gente, não teve sangue ou acidente, foi rápido e simples, nem sei se virei estatística ou se apareci no noticiário, também não sei qual foi a causa-mortis ou seja lá o que os laudos dizem. Só sei que acabou, cessou, parou, extinguiu, esvaiu, fugiu de mim o ar e não tinha mais com o que respirar ou mesmo motivo para tal.


Fiquei assim por algum tempo, e então por uma outra força descomunal abri os olhos novamente, claridade, vida, barulho, ar, apego e sonolência. Foi tudo um sonho (ou pesadelo).
Bom estar de volta. Mas interessante foi aquela paz do sonho, o simples escurecer sem dor. Ainda é cedo, muito cedo pra isso e espero que todos que se foram tenham tido essa paz ao escurecer.

Ao que me vem ao pensamento agora não é o fato de ter tido um sonho bizarro onde morria, e sim que mesmo morrendo eu estava de viagem marcada, lá na estação, e de trem.

Thursday 17 June 2010

Inspiração


Já era hora de eu voltar a escrever para o que realmente meu blog é dedicado, viagens e experiências ao redor do mundo.

Apesar de escrever tanto à respeito de sentimentos, momentos e amizades, dificilmente conto sobre eu mesmo, e nesse momento da minha vida sinto essa necessidade, de dizer meus medos, anseios e vontades.

Meu tempo nessa minha morada em Londres está se esgotando, foram longos 3 anos de aventuras, estudos, bonança e dificuldades, logo mais parto daqui para talvez não mais voltar, quem sabe uma visita rápida daqui uns anos? De qualquer maneira vou para meu próximo destino: Ásia

Em poucos meses saio daqui em direção à minha casa, Brasil, porém vou pelo caminho mais longo, quero antes ver o que tem lá do outro lado do mundo e experimentar, não somente tirar fotos e provar comidas diferentes, preciso andar nessa terra batida e conversar numa língua que não entendo, quero me sentir uma criança de 5 anos que não sabe ler, escrever e poderá pouco se comunicar, preocupado com todo risco que existe num mundo novo, como quando somos crianças e temos medo de atravessar a rua, será assim pra mim daqui pouco tempo, já se imaginou atravessando a rua numa caótica Nova Delhi na India? Experimentando algo que você não consegue identificar numa feira no Vietnam? Entrando em águas límpidas que podem conter tubarões assassinos na Thailandia?

Isso tudo me faz querer ir, não é síndrome de Peter Pan, vontade de continuar criança, mas sim a vontade de crescer mais à partir de novas experiências que não temos acesso em nosso dia-a-dia no ocidente, mas nesse momento o meu medo é querer ir rápido demais, lembrando a todo momento que o destino final é minha casa, meu porto seguro, família e amigos. Preciso tirar essa ansiedade da minha cabeça e procurar viver os dias que virão, preciso criar a paciência dos idosos e a curiosidade das crianças para que essa fórmula funcione.


Apesar de minha vida aparentar ser toda sobre viagens, ledo engano. Muito do meu tempo é creditado em se preocupar com futuro, carreira, ambições e como inspirar as pessoas à sair do sofá, tarefa tão difícil. Quando as pessoas dizem querer ver o mundo por meus olhos, busco contar tudo pela metade mas com pontos chaves para instigar à ir com as próprias pernas, apesar de parecer impossível para quem tem sua família e contas no final do mês, existe sempre uma porta aberta para esse mundo que só depende de você atravessar e seguir andando.

Como dizia antes, minhas viagens podem ser um tanto épicas em proporções, mas são apenas algumas semanas ou no próximo destino, meses, mas o resto do tempo é trabalhando, estudando e tentando achar um balanço em não se tornar 100% viajante como muitos americanos que trabalham 2 anos para viajar 1 (nada errado com isso, questão de escolha e opinião), mas também quero não me tornar o cara do escritório que trabalha 12 horas por dia e leva trabalho pra casa no final de semana, sempre sonhando como seria a vida pescando em Bali.

Preciso sim atingir um nível de intelecto e profissionalismo que me permita escolher durante minha vida quando dispender esse tempo em determinada opção, não apenas por que entrei na corrida corporativa e agora tenho de manter meu status e estilo de vida, nesse exato momento descobri que o bem mais precioso na vida do homo sapiens desse século é o "tempo". Muitos de nós ao invés de pensar nos benefícios que teremos ao ter um tempo de férias, pensamos primeiramente em quanto deixaremos de ganhar ou quanto perderemos estando longe do trabalho descansando, e então ponderamos que precisamos pagar esse "preço" por que será saudável e teremos mais energia para continuar a corrida no resto do ano, soa familiar?

A fórmula que encontrei nesse meio tempo foi estudar primeiro, obter algo com que você possa barganhar, usar seu conhecimento para gerar renda, depois de botar alguns "skills" em sua bagagem, trabalhe duro para conseguir o dinheiro mas não o deixe subir a cabeça, não perca o foco, lembre se que é apenas um meio para se conseguir os fins, ache tempo para ler e se mantenha informado, veja seus amigos nem que seja uma vez por mês, e então você aprendera o valor da amizade, dará importância aquele único final de semana que conseguiu livre e depois, quando chegar ao seu objetivo financeiro, viva o que sonhou, mas não disperdice, aprenda o valor daquilo que suou para ter, e ache a simplicidade em tudo o que procura, na maioria das vezes a felicidade vem junto no pacote.

E então, recomece tudo de novo, mude a agenda, refaça o calendário, estude mais, dance mais, conheça mais gente, deixe as pessoas de cabelos em pé quando contar seus próximos planos, e o melhor de tudo, convença essas pessoas à ir com você :-)

Durante as próximas semanas vou procurar passar para o blog tudo o que ocorre na cabeça de alguém que está não só prestes à seguir viagem para longe e por mais tempo do que uma simples férias, mas também o que é voltar à casa, deixar a estabilidade de lado e começar novamente do zero, e nesse meio tempo vou tentar te convencer não só a sair do sofá, mas também a inspirar outros à fazer.o mesmo .Comece devagar, vá a praça e veja o tempo passar, pegue a família e vá ao interior, nem que seja para almoçar na praça da matriz, perca um tempo num museu qualquer, passe a tarde na biblioteca da cidade, convide velhos amigos à tomar um café, redescubra sua vizinhança andando por ruas que não fazem parte do seu trajeto, escolha um destino no mundo e pesquise à respeito na internet, veja mapas no Google, faça de contas que você vai amanhã, e depois me diga se essa pulga de viajar não te mordeu =)

Inspire-se