Friday, 4 June 2010

Sem notícias de deus


No dia em que me tornei um viajante sem fronteiras houve um pacto silêncioso, como a venda da alma ao demônio, te prometi de minhas andanças os cheiros, os aromas, os postais, as canções em língua nativa, os amores, os poemas de estrada, retratos, prometi lembrar me de ti em todos os instantes.

Em troca você me deu saudade, o envelhecer longe de casa, me devolveu crianças crescidas, tirou me velhos amores, levou pessoas queridas, arrancou me o aconchego, me deu botas usadas e calças surradas, também me angustiou pela falta de notícias.

Algumas vezes ao longo dessa vida perdi o rumo, naqueles dias em que mesmo a bússola se confunde e não tem certeza de seu norte.

Procurei algo para me agarrar como marinheiro em busca da corda na tempestade, por incontáveis vezes nos encolhemos e abraçamos uns aos outros na espera pelo amanhecer, esperançosos  pela luz do dia, renascer do sol e da vida alheia.

E então tudo valeu a pena. Cada passo dado me trouxe nessa direção.
A direção que me leva de volta à casa, mesmo que seja um longo caminho, demorado e sofrido, mas que você deixou claro ter sido o começo e agora também será o fim, fim de uma jornada perpétua, mas como todo pacto, não será por muito tempo e logo tudo recomeça, ali será meu pouso e logo mais volto à estrada, te mando carta, te prometo tudo de novo, mas dessa vez, se possível, mande notícias.


Tuesday, 1 June 2010

Paraíso astral

Costumam dizer por aí que só nos inspiramos na tristeza, na solidão e nos momentos dificeis da vida, discordo.
Apesar de não acharmos muito tempo para empunhar a caneta e escrever por que estamos muito ocupados sendo felizes, ainda assim existe a necessidade de expressão, a vontade de botar para fora toda aquela ansiedade e aquilo que nos come por dentro, mostrar ao mundo o que nos move e o que nos torna felizes nesse dado momento.

Muitos devem concordar que existem fases na vida, fases boas e ruins, seja chamado de inferno astral ou simplesmente sete anos de azar por ter quebrado um espelho no passado, mas não se fala muito do paraíso astral, talvez seja por que quando chega esse período não levamos tanto em consideração.

Pois eu parei de levar em consideração o inferno astral, já levei essa fase em longas jornadas da vida e ficar ali no canto reclamando não me ajudou de nada, fingir entusiasmo ou felicidade com goles de vodka muito menos, então a quietude e o "deixar passar" prevaleceram, como os ursos tive minhas épocas de hibernação, saí da sociedade, conduzi me a uma bolha gigante onde só haviam minha pessoa e consciência para debater, usei esses momentos para aprender, até mais sobre mim mesmo, ou mesmo só para me entreter.

E de repente fez se a luz.

O paraíso astral então me chega, o sol sai, as pessoas se aproximam, levo um tempo mas acabo por baixar a guarda e me deixar levar com as ondas de positivismo, com a claridade do dia e contra todos os argumentos, deixo tudo de lado e me paro à escrever, o ser peculiar que vive dentro de mim aposta no diferente, nem todas as melhores obras do mundo vieram de fenômenos deprimidos, apesar de não conseguir citar facilmente os felizes, acredito existirem aos montes.

Deixo claro que não me deprimo, tampouco meus escritos do passado foram obras da escuridão de minha alma, mas preciso ser honesto e afirmar não ser um super-herói, mesmo por que os super-heróis da atualidade são tão problemáticos quanto qualquer José Ninguem que conhecemos.

Nesse momento de meu paraíso sou obrigado a dizer que estou feliz, não necessariamente "obrigado" à dizer, mas preciso ser responsável em gritar aos sete ventos, em escrever que é possível sim parar por um breve instante e tentar definir a alegria de viver, precisamos ser pacientes em nossas vidas e aceitar o que nos é dado, seja como lição, seja como férias para nossos pés.

A vida é curta para aqueles que a amam, a vida é longa para aqueles que a odeiam, mais clichê impossível, porém vendo o caipira feliz com sua vida longa à ver o tempo passar me inspira à fazer o mesmo, deixe o stress de lado, esqueça um pouco das contas no final do mês, se leve menos à sério, sorria à toa e aproveite mais seu paraíso astral, não se esqueça de dizer à todos a sua volta, caso contrário parecerá que vivestes em um inferno continuo.

Have a nice day, because I am having a nice one :-)

Friday, 14 May 2010

My frozen princess

It doesn't matter how far I go, my heart still in the same place.
It doesn't matter how stand still I am, my mind never is.

I don't look back in regret, I don't look forward without awe.
For so many years I've been looking for the joy in the small things and luckily I found them now and then in unexpected places and ocasions.
What a nice life I am in, what a wonderful thing to live.

I would spend my entirely life just looking into your eyes and be restless if I could, but forgive me if I always want what I can't have, forgive me if all I have is never enough, I'll be bored by dawn and I'll leave without a sound. 

The truth is, i'm a trully free man, i'm part of the world in many senses, my soul is like the wind and my thoughts stays floating in the air, I use much of the signs that I see around me, trying to find reason, trying to find an answer for everything and most of all, for my existence.

I really can't answer why I can't let you go, i'm not sure myself and i don't have a proper answer neither, maybe is because I've never learned how to lose, never knew how to deal with it, or maybe I just can't find anyone capable of replace you. It's pratically impossible to share my secrets, to honestly laugh with someone else, and the pain of keeping it is too much.

I must stop daydreaming, I must carry on with my life like before, I shouldn't have try to show you that I was perfect cause I wasn't, I'm not.
I'm also must stop thinking that life is like in the movies, where great historys always ends well, after so long everyone get together and watch the sun goes down in a far away beach rolled up in blankets, that's not reality, even though romantic.

I have to thank you very much for being the engine in my life, to make me go farther than expected, for being this shadow beside me, the one who I talk all the time, the one who's my counselour, the one I love most and that doesn't really exist, only in my mind, my frozen princess.  

Thursday, 6 May 2010

Sertão

Acordo com o sol na cara, me vejo estatelado no chão, uso uma calça rala e ressecada, minhas botas gastas claramente anunciando o couro vindo do gado morto.

A dor me vem como ondas de calafrio e me contorso como se minha espinha tivesse vida própria, é a sede gritando em minha cabeça, são as gotas de vida se esvaindo de meu ser.

Caatinga me cerca por todo lado, urubus me vigiam do alto, um calango pára ao longe à me espiar, nem forças para uma pedra atirar eu tenho, o vento parece o sussuro da morte em meus ouvidos, nem direito à solidão eu tenho nessa hora difícil, morrendo com tamanha platéia e audiência elevada, o calango balança a cabeça frenéticamente como se concordando.

Até meus pensamentos eles ouvem.

Não existe poesia em morrer, tampouco boa rima ou bons versos. Só se pensa se vamos para um paraíso no céu ou se ficaremos ali para sempre onde a terra há de comer nossa carne como fez aos cavalos.

Quero meu chão batido de terra morna, quero grama verde e umida de orvalho, quero sombra de árvore e canto alegre de tiziu, soluço meus anseios em vão, nem eco me volta tamanha vastidão.

Nem de amor sobrevive esse sertão, quem dera de desejo sucumbisse esse peão, soltasse o último suspiro que o levasse à exaustão, trouxesse então a paz ao coração, mas não, só lhe resta esvair devagar pelo chão.

Vai se tudo até a alma, vai se embora sem a água, céu azul e sol potente, só me resta chorar as lágrimas de água ardente...

PS: Filmes de faroeste me trazem sonhos estranhos, preciso me lembrar na próxima vez de deixar um copo d'água do lado da cama...

Monday, 26 April 2010

Dias que se passam

Éramos felizes,
brigávamos feito loucos,
a universidade nos educava,
porém continuávamos tolos...

Ela ainda me faz chorar e eu ainda a faço sorrir e vice-versa...
Ela diz que eu amadureci, eu reconheço ela continua linda
discutimos o céu, a terra, a água e o ar, mas já nao brigamos mais
ela deve ter achado o príncipe do cavalo branco, pena meu
cavalo ser de outra cor.. talvez minha bela adormecida já estivesse acordada...
Dias que se passam sem passares por aqui, são dias que me desgraçam por me privarem de ti.

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"Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distração animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar." - Alberto Caeiro

Friday, 23 April 2010

Verão

O inverno se foi e com ele minha depressão, minha amargura e as lágrimas ocasionais, foram embora também as chuvas geladas e os corações desesperados.

A inspiração da alma à luz me vem em forma de desenho, busco o pincel ali jogado, empoeirado, triste e árido, rabisco, faço traços simples e infantis, desenho o sol com sorriso de orelha a orelha, mesmo sabendo que o sol não tem orelha.

Vou ao piano, aquele senhor encrostado no canto da sala que sempre me desafiou, arrisco até me desentender, o senhor me responde em notas graves, rio como se meu estômago fosse explodir, no verão não se toca música de ninar, mesmo batendo as teclas em total falta de coordenação me soa blues, me soa samba, me soa alegria.

Sento na escada bem ali na porta e lembro quando era criança me perguntava o motivo dos mais velhos ficarem à olhar o nada por tanto tempo sentados nos bancos e sombras pela cidade, hoje no lugar deles entendo um pouco melhor a sabedoria e a simplicidade de apenas admirar o universo e seus truques.

Se o inverno é a estação da desilusão, a primavera da esperança, então o verão é a certeza, iluminação do ser, o fôlego do afogado.

Se pudesse criava um solário, um templo ao deus Sol e o recompensaria com visitas rotineiras, fecharia os olhos em respeito, sentiria força em seu calor que toca minha face, desenharia no ar com a ponta de meu dedo aquele sorriso de orelha à orelha, faria com que fosse reconhecido e
admirado.

No verão não há solidão, não há tristeza, não existe portas trancadas e pessoas esquecidas na sala, a rua de repente ganha vida, as crianças ressuscitam o campo de futebol, os velhos se põem a janela, pássaros não páram de tagarelar assim como a vizinha, os casais tiram férias e os solteiros fazem o carnaval.

Ah o verão =)


Friday, 9 April 2010

A mulher do jardim de rosas



Quando era pequeno vivi com meus avós, incrível como a lembrança me trás tão boas recordações.
Em frente a casa havia um pequeno jardim, onde minha avó cultivava suas plantas, mas o que mais chamava atenção eram suas rosas. Vermelhas e brancas, motivo de atenção dos passantes, hora ou outra pegávamos alguém esticando os braços pelo portão à tentar rouba-las, minha avó de bom coração costumava dizer as pessoas para que pedissem, pois a maneira certa de se tirar uma rosa era cortando à com tesoura, só assim continuariam a crescer saudáveis.

Minha tarefa e de meu avô era remover as ervas daninhas, adubar a terra e limpar os arredores, a poda era sempre feita por minha avó, com suas mãos habilidosas que até hoje não vi alguém.

Esse ritual costumava acontecer aos sábados pela manhã, seguido pela faxina da casa que brilhava todo fim de tarde, o cheiro do lustra móveis é o que mais me transporta para aquela época e lembrar a euforia com que eu recebia meus tios aos berros no portão quando vinham visitar me faz gargalhar à toa.
Logo após o ritual do sábado terminado, era a hora do meu avô abrir a cerveja dele no quintal e ficar ali sentado com seu radinho de pilha, ouvindo os clássicos jogos do tricolor dos anos 80, quando ainda tínhamos o Zetti, Raí e Telê Santana como ídolos.

Apesar de nunca ter sido fanático como meu avô, acabei torcendo pelo São Paulo pela admiração ao meu velho e por conta de um jogo de botão que ganhei com o brasão tricolor, psicólogo nato soube me ensinar muita coisa nos 17 anos que pude aproveitá-lo, minha matemática foi ajudada à base de jogos de escopa 15, ensinou me também truco e outros jogos mais de baralho assim como sua forma de viver a regras, horários, tudo à seu tempo devido e nada fora do lugar.

Alegria de meu avô era levar me pelo bairro mostrando com orgulho seu 1o. neto e companheiro, me fazia apertar as mãos gigantes de seus compadres pelas quitandas, supermercados e botequins da vila, homens judiados pela vida e naquele tempo desfrutando de suas aposentadorias merecidas. Ganhava como recompensa meus gibis, doces e coca-cola nessas andanças, me ensinou a barganhar e fazer negócios no ferro-velho, me ensinou a ser alguém de valor e a dar valor.

O homem austero e regrado um dia foi levado, deixou como seu legado o patriarquismo, a noção de que um homem tem que tomar conta de sua família e ter seus amigos sempre por perto, fazer nada mais que o bem e almejar nada mais que um teto e comida na mesa.

A mulher do jardim de rosas enviuvou, ela perdeu seu companheiro de longa data e eu perdi meu avô, foram se anos em luto, passávamos horas relembrando um ao outro sobre cada momento, as manhãs no barracão do quintal onde ela costurava freneticamente os colchoados e meu avô tirava rebarbas de panos e fiapos de costura, enquanto eu aproveitava algumas horas antes da escola deitado nos montes de tecido ouvindo moda de viola no radinho de pilha. Lembrávamos também das repreensões por conta de eu usar as ferramentas do velho sem supervisão, queria ser hábil como ele na marcenaria ou em suas invenções .

Dez anos depois foi a minha vez de deixar a minha avó, botei a mochila nas costas e vim para o exterior, com o coração partido dei adeus e tentei explicar que os tempos mudaram e que precisávamos complicar nossas vidas um pouco mais, ela então com sua fonte inesgotável de amor para com seus rebentos, plantou uma árvore em seu quintal a qual me representaria nesses anos de exílio.

Acredito que comigo longe ela deve estar podando esta árvore, assim como ela me podou no passado e me transformou em grande parte do que sou hoje, ao menos a parte boa, a outra ficou por conta do mundo.