Thursday 6 May 2010

Sertão

Acordo com o sol na cara, me vejo estatelado no chão, uso uma calça rala e ressecada, minhas botas gastas claramente anunciando o couro vindo do gado morto.

A dor me vem como ondas de calafrio e me contorso como se minha espinha tivesse vida própria, é a sede gritando em minha cabeça, são as gotas de vida se esvaindo de meu ser.

Caatinga me cerca por todo lado, urubus me vigiam do alto, um calango pára ao longe à me espiar, nem forças para uma pedra atirar eu tenho, o vento parece o sussuro da morte em meus ouvidos, nem direito à solidão eu tenho nessa hora difícil, morrendo com tamanha platéia e audiência elevada, o calango balança a cabeça frenéticamente como se concordando.

Até meus pensamentos eles ouvem.

Não existe poesia em morrer, tampouco boa rima ou bons versos. Só se pensa se vamos para um paraíso no céu ou se ficaremos ali para sempre onde a terra há de comer nossa carne como fez aos cavalos.

Quero meu chão batido de terra morna, quero grama verde e umida de orvalho, quero sombra de árvore e canto alegre de tiziu, soluço meus anseios em vão, nem eco me volta tamanha vastidão.

Nem de amor sobrevive esse sertão, quem dera de desejo sucumbisse esse peão, soltasse o último suspiro que o levasse à exaustão, trouxesse então a paz ao coração, mas não, só lhe resta esvair devagar pelo chão.

Vai se tudo até a alma, vai se embora sem a água, céu azul e sol potente, só me resta chorar as lágrimas de água ardente...

PS: Filmes de faroeste me trazem sonhos estranhos, preciso me lembrar na próxima vez de deixar um copo d'água do lado da cama...

2 comments:

  1. é ... muito árco antes de ir pra cama, dá uma sede danada!!! hehehe
    Lindo e poético texto, Cris. Parabéns!
    bj

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  2. 1 surpresa 1 pessoa com seu perfil me acompanhar...alias,adorei no seu perfil falar q gosta de hobbies estranhos.Obrigada pela gentileza

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