Friday, 14 May 2010

My frozen princess

It doesn't matter how far I go, my heart still in the same place.
It doesn't matter how stand still I am, my mind never is.

I don't look back in regret, I don't look forward without awe.
For so many years I've been looking for the joy in the small things and luckily I found them now and then in unexpected places and ocasions.
What a nice life I am in, what a wonderful thing to live.

I would spend my entirely life just looking into your eyes and be restless if I could, but forgive me if I always want what I can't have, forgive me if all I have is never enough, I'll be bored by dawn and I'll leave without a sound. 

The truth is, i'm a trully free man, i'm part of the world in many senses, my soul is like the wind and my thoughts stays floating in the air, I use much of the signs that I see around me, trying to find reason, trying to find an answer for everything and most of all, for my existence.

I really can't answer why I can't let you go, i'm not sure myself and i don't have a proper answer neither, maybe is because I've never learned how to lose, never knew how to deal with it, or maybe I just can't find anyone capable of replace you. It's pratically impossible to share my secrets, to honestly laugh with someone else, and the pain of keeping it is too much.

I must stop daydreaming, I must carry on with my life like before, I shouldn't have try to show you that I was perfect cause I wasn't, I'm not.
I'm also must stop thinking that life is like in the movies, where great historys always ends well, after so long everyone get together and watch the sun goes down in a far away beach rolled up in blankets, that's not reality, even though romantic.

I have to thank you very much for being the engine in my life, to make me go farther than expected, for being this shadow beside me, the one who I talk all the time, the one who's my counselour, the one I love most and that doesn't really exist, only in my mind, my frozen princess.  

Thursday, 6 May 2010

Sertão

Acordo com o sol na cara, me vejo estatelado no chão, uso uma calça rala e ressecada, minhas botas gastas claramente anunciando o couro vindo do gado morto.

A dor me vem como ondas de calafrio e me contorso como se minha espinha tivesse vida própria, é a sede gritando em minha cabeça, são as gotas de vida se esvaindo de meu ser.

Caatinga me cerca por todo lado, urubus me vigiam do alto, um calango pára ao longe à me espiar, nem forças para uma pedra atirar eu tenho, o vento parece o sussuro da morte em meus ouvidos, nem direito à solidão eu tenho nessa hora difícil, morrendo com tamanha platéia e audiência elevada, o calango balança a cabeça frenéticamente como se concordando.

Até meus pensamentos eles ouvem.

Não existe poesia em morrer, tampouco boa rima ou bons versos. Só se pensa se vamos para um paraíso no céu ou se ficaremos ali para sempre onde a terra há de comer nossa carne como fez aos cavalos.

Quero meu chão batido de terra morna, quero grama verde e umida de orvalho, quero sombra de árvore e canto alegre de tiziu, soluço meus anseios em vão, nem eco me volta tamanha vastidão.

Nem de amor sobrevive esse sertão, quem dera de desejo sucumbisse esse peão, soltasse o último suspiro que o levasse à exaustão, trouxesse então a paz ao coração, mas não, só lhe resta esvair devagar pelo chão.

Vai se tudo até a alma, vai se embora sem a água, céu azul e sol potente, só me resta chorar as lágrimas de água ardente...

PS: Filmes de faroeste me trazem sonhos estranhos, preciso me lembrar na próxima vez de deixar um copo d'água do lado da cama...

Monday, 26 April 2010

Dias que se passam

Éramos felizes,
brigávamos feito loucos,
a universidade nos educava,
porém continuávamos tolos...

Ela ainda me faz chorar e eu ainda a faço sorrir e vice-versa...
Ela diz que eu amadureci, eu reconheço ela continua linda
discutimos o céu, a terra, a água e o ar, mas já nao brigamos mais
ela deve ter achado o príncipe do cavalo branco, pena meu
cavalo ser de outra cor.. talvez minha bela adormecida já estivesse acordada...
Dias que se passam sem passares por aqui, são dias que me desgraçam por me privarem de ti.

- - - - - - -

"Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distração animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar." - Alberto Caeiro

Friday, 23 April 2010

Verão

O inverno se foi e com ele minha depressão, minha amargura e as lágrimas ocasionais, foram embora também as chuvas geladas e os corações desesperados.

A inspiração da alma à luz me vem em forma de desenho, busco o pincel ali jogado, empoeirado, triste e árido, rabisco, faço traços simples e infantis, desenho o sol com sorriso de orelha a orelha, mesmo sabendo que o sol não tem orelha.

Vou ao piano, aquele senhor encrostado no canto da sala que sempre me desafiou, arrisco até me desentender, o senhor me responde em notas graves, rio como se meu estômago fosse explodir, no verão não se toca música de ninar, mesmo batendo as teclas em total falta de coordenação me soa blues, me soa samba, me soa alegria.

Sento na escada bem ali na porta e lembro quando era criança me perguntava o motivo dos mais velhos ficarem à olhar o nada por tanto tempo sentados nos bancos e sombras pela cidade, hoje no lugar deles entendo um pouco melhor a sabedoria e a simplicidade de apenas admirar o universo e seus truques.

Se o inverno é a estação da desilusão, a primavera da esperança, então o verão é a certeza, iluminação do ser, o fôlego do afogado.

Se pudesse criava um solário, um templo ao deus Sol e o recompensaria com visitas rotineiras, fecharia os olhos em respeito, sentiria força em seu calor que toca minha face, desenharia no ar com a ponta de meu dedo aquele sorriso de orelha à orelha, faria com que fosse reconhecido e
admirado.

No verão não há solidão, não há tristeza, não existe portas trancadas e pessoas esquecidas na sala, a rua de repente ganha vida, as crianças ressuscitam o campo de futebol, os velhos se põem a janela, pássaros não páram de tagarelar assim como a vizinha, os casais tiram férias e os solteiros fazem o carnaval.

Ah o verão =)


Friday, 9 April 2010

A mulher do jardim de rosas



Quando era pequeno vivi com meus avós, incrível como a lembrança me trás tão boas recordações.
Em frente a casa havia um pequeno jardim, onde minha avó cultivava suas plantas, mas o que mais chamava atenção eram suas rosas. Vermelhas e brancas, motivo de atenção dos passantes, hora ou outra pegávamos alguém esticando os braços pelo portão à tentar rouba-las, minha avó de bom coração costumava dizer as pessoas para que pedissem, pois a maneira certa de se tirar uma rosa era cortando à com tesoura, só assim continuariam a crescer saudáveis.

Minha tarefa e de meu avô era remover as ervas daninhas, adubar a terra e limpar os arredores, a poda era sempre feita por minha avó, com suas mãos habilidosas que até hoje não vi alguém.

Esse ritual costumava acontecer aos sábados pela manhã, seguido pela faxina da casa que brilhava todo fim de tarde, o cheiro do lustra móveis é o que mais me transporta para aquela época e lembrar a euforia com que eu recebia meus tios aos berros no portão quando vinham visitar me faz gargalhar à toa.
Logo após o ritual do sábado terminado, era a hora do meu avô abrir a cerveja dele no quintal e ficar ali sentado com seu radinho de pilha, ouvindo os clássicos jogos do tricolor dos anos 80, quando ainda tínhamos o Zetti, Raí e Telê Santana como ídolos.

Apesar de nunca ter sido fanático como meu avô, acabei torcendo pelo São Paulo pela admiração ao meu velho e por conta de um jogo de botão que ganhei com o brasão tricolor, psicólogo nato soube me ensinar muita coisa nos 17 anos que pude aproveitá-lo, minha matemática foi ajudada à base de jogos de escopa 15, ensinou me também truco e outros jogos mais de baralho assim como sua forma de viver a regras, horários, tudo à seu tempo devido e nada fora do lugar.

Alegria de meu avô era levar me pelo bairro mostrando com orgulho seu 1o. neto e companheiro, me fazia apertar as mãos gigantes de seus compadres pelas quitandas, supermercados e botequins da vila, homens judiados pela vida e naquele tempo desfrutando de suas aposentadorias merecidas. Ganhava como recompensa meus gibis, doces e coca-cola nessas andanças, me ensinou a barganhar e fazer negócios no ferro-velho, me ensinou a ser alguém de valor e a dar valor.

O homem austero e regrado um dia foi levado, deixou como seu legado o patriarquismo, a noção de que um homem tem que tomar conta de sua família e ter seus amigos sempre por perto, fazer nada mais que o bem e almejar nada mais que um teto e comida na mesa.

A mulher do jardim de rosas enviuvou, ela perdeu seu companheiro de longa data e eu perdi meu avô, foram se anos em luto, passávamos horas relembrando um ao outro sobre cada momento, as manhãs no barracão do quintal onde ela costurava freneticamente os colchoados e meu avô tirava rebarbas de panos e fiapos de costura, enquanto eu aproveitava algumas horas antes da escola deitado nos montes de tecido ouvindo moda de viola no radinho de pilha. Lembrávamos também das repreensões por conta de eu usar as ferramentas do velho sem supervisão, queria ser hábil como ele na marcenaria ou em suas invenções .

Dez anos depois foi a minha vez de deixar a minha avó, botei a mochila nas costas e vim para o exterior, com o coração partido dei adeus e tentei explicar que os tempos mudaram e que precisávamos complicar nossas vidas um pouco mais, ela então com sua fonte inesgotável de amor para com seus rebentos, plantou uma árvore em seu quintal a qual me representaria nesses anos de exílio.

Acredito que comigo longe ela deve estar podando esta árvore, assim como ela me podou no passado e me transformou em grande parte do que sou hoje, ao menos a parte boa, a outra ficou por conta do mundo.

Thursday, 4 March 2010

Tem que ir lá!! :-)

Muitos me perguntam o motivo pelo qual gasto tanto tempo nos lugares em que viajo.

Simples: sem sombra de dúvida passamos mais tempo longe do lugar em que realmente estamos do que no lugar em si, para que possamos sentir e realmente estar em sintonia entre corpo e mente tem de se dar determinado tempo para nos libertarmos de nós mesmos.

Em realidade começamos a viver nosso próximo destino antes mesmo de começarmos nossa jornada, quando planejamos o trajeto, reservamos vôo, hotéis, riscamos o mapa, pontos turísticos, de certa forma já vivemos aquele momento antecipadamente em nossas mentes e quando chegamos ao lugar de destino começam então batalhas épicas para achar o transporte até o hotel, a luta para confirmar a reserva que foi feita meses antes e a recepcionista não acha registro, depois ao desfazer a mala percebemos que esquecemos coisas vitais como bateria para câmera, carregador para o celular, filtro solar, chinelos e etc etc..

Ainda no primeiro dia começa a busca pelos cartões postais, lembranças para família e amigos, lembrar a lista de nomes e preferências nos leva não só longe dali, mas também em outro período e muitas vezes anos antes.

No segundo dia temos a adaptação ao clima local, comida, horários, nosso corpo nem sempre corresponde à nossa excitação pelo novo, bem ali naquele segundo dia muitos de nós também já começam a se preocupar com o orçamento da viagem, o que podemos e o que não podemos fazer com aquela quantia de dinheiro que separamos e totalmente ligado a esse fator vem a lembrança de nosso trabalho, projetos pendentes que ficaram em cima da mesa, o telefonema que ficou para trás para clarificar dúvidas de clientes, o sentimento de culpa por estar aproveitando a vida enquanto o escritório todo está ralando para cobrir sua falta ou mesmo o pensamento cruel de que teremos de voltar logo à aquele emprego odiado para fazer mais dinheiro e poder pagar as despesas feitas na viagem.

Terceiro dia e queremos nos atualizar, entrar em contato com o mundo, gastamos horas na internet vendo notícias e ao mesmo tempo relatando o dia-a-dia da viagem pelo chat com amigos e família, estamos tão empolgados com tudo de lindo que vimos que já queremos também colocar as fotos na internet pros outros verem (motivo bem claro que é para fazer inveja, quando na realidade você está perdendo seu tempo precioso da viagem pensando nesses outros, enquanto eles estão vivendo a vida deles e pensando bem pouco em você que está de férias...lembre se disso!!)

E então como que de repente a gente se vê no lugar, totalmente aptos à aproveitar cada segundo, já sabemos o cardápio daquele bom restaurante, a recepcionista do hotel só faz um alô quando passamos pelo hall de entrada ao invés de checar nossos documentos, conseguimos ir à pé sem se perder ao museu, já até temos nosso barzinho local onde o dono decorou nossos nomes, e sim, já é hora de ir embora...

Começa então o transtorno de arrumar as malas, achar lugar para as quinquilharias e bugigangas que irão juntar pó na estante de alguém do outro lado do mundo, imprimir a papelada para o vôo de volta e nossas mentes mais uma vez nos leva para os momentos futuros, fila no aeroporto, chateação alfandegária, horas de locomoção e por aí vai.

Se achamos que viagem por terra nos tirará desse terrível cenário e nos dará imagens maravilhosas do campo enquanto dirigimos ou vemos a vida passar da janela de um ônibus, não se engane, um pneu furado ou problema mecânico te trará tanto desespero como um vizinho de poltrona super-size-in-bad-mood que vai fazer você amaldiçoar muitas gerações daquele responsável por idéia tão original.

À algum tempo atrás li sobre um francês que viveu em meados de 1880, confinado em seu chateau numa vila remota no interior de seu país, o motivo era que ele simplesmente não suportava pessoas, vivia recluso com seus livros e seus empregados e certa vez saiu para o vilarejo a comprar pães quando teve pânico de súbito tamanha ignorância das pessoas ao seu redor, onde na realidade eram simples camponeses sem estudo ou qualquer finesse.

Decidiu então que não sairia mais de casa para tarefas mundanas, ainda assim fazia visitas exporadicas ao museu do Louvre, onde amanava qualquer desejo de ver o mundo exterior. Encontrava pelas galerias a perfeita reprodução dos destinos que um dia quisera visitar, Grécia, Roma, Amsterdã, tudo isso através de pinturas, arquitetura, esculturas, teoria a respeito do povo e sua cultura era simples de achar em livros, poupando assim todo esse traslado que era dez vezes pior naquela época e o mais importante, evitando as pessoas pelo caminho.

Dizia ele que a viagem em sua imaginação era certamente mais proveitosa e que não sentia desapontamento desse jeito, certo dia lendo à respeito de Londres sentiu uma vontade extrema de viajar, pediu aos empregados que fizessem sua mala e pegaria o trem que sairia de Paris.
C
hegando à Paris resolveu começar sua imersão na cultura, proximo à estação de trem havia uma grande comunidade inglesa de bares, restaurantes e cafés, onde se achavam todas as características figuras, o tempo estava fechado, frio e leve garoa, almoçou um prato típico inglês - purê de batatas com lingüiça ao molho, serviu se da famosa cerveja, ouviu conversas e piadas animadas entre os homens locais, percebeu como as mulheres tinham mãos e pés grandes para a proporção francesa, pele branquissima, bochechas rosadas, dentes tão grandes que pareciam os de cavalos e a maioria de estrutura óssea um tanto "forte".

Após algumas horas, sem muito pensar, pediu para que seus empregados colocassem toda bagagem novamente na carruagem pois iriam voltar ao chateau, já havia experimentado tudo aquilo que gostaria de ver e sentir em Londres, com a diferença de que não passaria por toda a chateação da viagem e a certeza de desapontamento ao chegar lá.

No caminho algo lhe ocorreu, toda vez que sentisse vontade de ver e sentir um lugar no exterior, iria simular o ambiente o mais fiel possível a realidade, chegando a ponto de um dia decorar todo seu quarto como uma cabine de um navio, deixando um aquário ao lado da cama com sais perfumados, fotos de belas praias penduradas na janela, até mesmo um mapa cartográfico era possível ver entre os livros de navegadores famosos, até o fim de seus dias ele viajou o mundo todo, dizia ele que se o tolo acredita estar em Roma ou Atenas só por ver um pilar com ramos de oliveira num palco de teatro parisiense, por que não ele daria a volta ao mundo em sua cabine particular ?

Descrevi o francês como o Nietshe depressivo em suas desculpas para fugir do mundo exterior que o atormentava, não estava de fato errado sobre desapontamentos, quem nunca imaginou chegar nas pirâmides do Egito e além delas ver apenas camelos, nômades e o deserto ? Com surpresa vem o Cairo imundo e cheio de pedintes como parte do pacote, preços absurdos para turistas, pobreza e risco de saúde.

Ainda assim não me esqueci de pequenos momentos de minhas viagens que fizeram tudo valer a pena, ao ver os canais holandeses na minha visita a Amsterdã, deitar na grama de seus parques e passar tardes preguiçosas lendo até o pôr do sol, a visão do Arco do Triunfo ao sair do portão do metrô em Paris, o picnic no gramado dos jardins do Chateau du Versailles, dirigir por entre montanhas congeladas das highlands escocesas, a vivacidade da Italia nostra e suas paisagens, longas horas nas estradas do sul da Irlanda onde vi o musgo à tomar conta de suas planícies e seus lagos cristalinos, o amanhecer na cidade perdida de Machu Picchu, o atravessar Portugal à pé pelo caminho de Santiago, o pisar na areia branca de Alicante, a cidade viva de Barcelona dentre tantos incontáveis momentos nesses anos de estrada.

Não podemos nos poupar dessas experiências, nesses caminhos podemos encontrar a mulher de nossas vidas, um amigo para a vida inteira, a inspiração para um livro, a coragem para mudar o rumo de nossas vidas, podemos extender nosso discernimento e compreensão do mundo à nossa volta, só precisamos nos dar a chance de tudo isso e o tempo necessário, passe uma semana naquela capital, um mês naquele paraíso, more por seis meses numa metrópole, more um ano onde falem outra língua, mas se for para passar um final de semana, lembre-se de deixar para trás toda responsabilidade, stress, peso desnecessário, preconceito e boa viagem !

PS: valeu pelo título Fer, se não fosse você pra me salvar só publicaria semana que vem !!!

Wednesday, 3 February 2010

Viajar é preciso...

Para muitos uma viagem começa quando se entra no carro, ônibus ou avião, não é o meu caso.

No meu caso tudo começa em forma de inspiração, ao poucos aquela curiosidade vai se formando em um sonho, alguns pequeninos e outros gigantescos, o passo seguinte ao sonhar acordado é abrir o mapa em minha frente e começar a traçar direções com meu dedo, fazendo linhas imaginárias entre os pontos A e B, as vezes entre A,B,C e por aí afora.

A empolgação então cresce ao chamar os amigos e numa mesa de bar contar os planos como se fosse estratégia de guerra, as infinitas possibilidades entre o caminho, chances de tantas coisas acontecerem e quanta história por ventura terei à viver.
Por diversas vezes inspirei alguns à me seguirem, seguir não, ir junto, leve diferença entre companheiros de viagem, e aposto que nenhum deles até hoje tenha se arrependido de por o pé na estrada. Apesar de tanto planejamento, sempre deixo espaço para o inesperado, caso contrário não poderia chamar de aventura, aventura ao meu ver é baseada em incertezas e certo grau de risco, se soubermos exatamente o que estamos fazendo à toda hora seriamos privados de emoção, arrancados do espirito aventureiro de ser.

Quando se começa a jornada nos sentimos culpados por ainda não ter saudade de casa e de quem ficou pra trás, sentimento comum entre muitos, mas conforme o tempo passa é natural que a saudade vem mesmo estando em um oásis, e dai não tem jeito, só melhora quando abrimos o portão de casa e corremos aos braços da família.

Já viajei de ônibus, avião, bicicleta, à pé, kombi, corcel II, fusca (acredite se quiser..e como era bom) mas o que me deu sempre mais sensação de estrada e liberdade foi viajar de moto.
Não tem hora nem clima errado, faça chuva, faça sol, por dentro do capacete vai ter um menino de asas sorrindo de ponta à ponta do mapa.
Mais interessante e importante que viajar de moto é viajar com algum amigo, mesmo que sejam horas de estrada e silêncio, é como se pudéssemos ler os pensamentos um do outro, quando as paisagens se abrem à nossa frente e o aceno de cabeça entre ambos vale mais que qualquer palavra pra tentar descrever tudo aquilo.

Foi em 2004 que conheci Ilhabela, planejei uns bons dias de férias e tempo para mim mesmo, diferente de todo mundo, minha ideia de conhecer a ilha seria dando a volta, mesmo que fosse por meio da mata à base de bússola.

Meu amigo-irmão de longa data, o Pedro, não precisou de muita história pra ser convencido, infelizmente pôde ficar só um final de semana o que bastou pra conhecermos a parte "civilizada" da ilha. Muitos mergulhos depois, cerveja à beira do mar azul cristalino e vários kilometros rodados nas curvas sem fim do sul da Ilha, fiquei sozinho com meu plano de fazer a travessia Bonete-Castelhanos, sem trilha marcada e diversos pontos onde o caminho confudia pelos pescadores andarem em zigue-zague para caçar e deixarem círculos de mato batido.
Nos momentos que passei dentro da mata, apesar de toda preparação, dias sem ver pessoas ao redor e com quem falar, jurei que nunca mais faria aquilo de novo, tendo toda certeza do mundo que sairia sem um arranhão, hoje mais maduro acredito que aventura não pode ser confundida com irresponsabilidade, afinal de contas muitas pessoas estariam à me esperar longe dali e sofreriam muito caso eu não voltasse.

Voltei e por incrível que pareça o maior risco da viagem toda foi o acidente de moto na estrada voltando pra casa, quando um motorista perdeu o controle e bateu com o carro à minha frente, fazendo com que eu voasse por cima de ambos e tendo uma suave aterrisagem no capô de um deles. Nem um arranhão e minha sorte continua mesmo após outros mais acidentes dos quais particularmente não fui responsável e sim vitima do acaso urbano.

Analisando melhor após alguns anos, creio que não seja tão irresponsável de minha parte se eu voltar pras florestas onde só haja eu, eu mesmo e a natureza, que não é tão selvagem se comparada com estradas urbanas, mas nas próximas prometo avisar meu destino e levar algum meio de comunicação ao invés de bússola e arco-e-flecha ;-)

"Cuando los hombres escupen a la Tierra, se escupen a ellos mismos.
Nosotros sabemos que la Tierra no pertenece al hombre, sino que el hombre pertenece a la Tierra. Todas las cosas estan unidas entre ellas, como la sangre que une a una misma familia
Todo está unido y lo que le ocurre a la Tierra, también le ocurre a los hijos de la Tierra"