Friday, 23 April 2010

Verão

O inverno se foi e com ele minha depressão, minha amargura e as lágrimas ocasionais, foram embora também as chuvas geladas e os corações desesperados.

A inspiração da alma à luz me vem em forma de desenho, busco o pincel ali jogado, empoeirado, triste e árido, rabisco, faço traços simples e infantis, desenho o sol com sorriso de orelha a orelha, mesmo sabendo que o sol não tem orelha.

Vou ao piano, aquele senhor encrostado no canto da sala que sempre me desafiou, arrisco até me desentender, o senhor me responde em notas graves, rio como se meu estômago fosse explodir, no verão não se toca música de ninar, mesmo batendo as teclas em total falta de coordenação me soa blues, me soa samba, me soa alegria.

Sento na escada bem ali na porta e lembro quando era criança me perguntava o motivo dos mais velhos ficarem à olhar o nada por tanto tempo sentados nos bancos e sombras pela cidade, hoje no lugar deles entendo um pouco melhor a sabedoria e a simplicidade de apenas admirar o universo e seus truques.

Se o inverno é a estação da desilusão, a primavera da esperança, então o verão é a certeza, iluminação do ser, o fôlego do afogado.

Se pudesse criava um solário, um templo ao deus Sol e o recompensaria com visitas rotineiras, fecharia os olhos em respeito, sentiria força em seu calor que toca minha face, desenharia no ar com a ponta de meu dedo aquele sorriso de orelha à orelha, faria com que fosse reconhecido e
admirado.

No verão não há solidão, não há tristeza, não existe portas trancadas e pessoas esquecidas na sala, a rua de repente ganha vida, as crianças ressuscitam o campo de futebol, os velhos se põem a janela, pássaros não páram de tagarelar assim como a vizinha, os casais tiram férias e os solteiros fazem o carnaval.

Ah o verão =)


Friday, 9 April 2010

A mulher do jardim de rosas



Quando era pequeno vivi com meus avós, incrível como a lembrança me trás tão boas recordações.
Em frente a casa havia um pequeno jardim, onde minha avó cultivava suas plantas, mas o que mais chamava atenção eram suas rosas. Vermelhas e brancas, motivo de atenção dos passantes, hora ou outra pegávamos alguém esticando os braços pelo portão à tentar rouba-las, minha avó de bom coração costumava dizer as pessoas para que pedissem, pois a maneira certa de se tirar uma rosa era cortando à com tesoura, só assim continuariam a crescer saudáveis.

Minha tarefa e de meu avô era remover as ervas daninhas, adubar a terra e limpar os arredores, a poda era sempre feita por minha avó, com suas mãos habilidosas que até hoje não vi alguém.

Esse ritual costumava acontecer aos sábados pela manhã, seguido pela faxina da casa que brilhava todo fim de tarde, o cheiro do lustra móveis é o que mais me transporta para aquela época e lembrar a euforia com que eu recebia meus tios aos berros no portão quando vinham visitar me faz gargalhar à toa.
Logo após o ritual do sábado terminado, era a hora do meu avô abrir a cerveja dele no quintal e ficar ali sentado com seu radinho de pilha, ouvindo os clássicos jogos do tricolor dos anos 80, quando ainda tínhamos o Zetti, Raí e Telê Santana como ídolos.

Apesar de nunca ter sido fanático como meu avô, acabei torcendo pelo São Paulo pela admiração ao meu velho e por conta de um jogo de botão que ganhei com o brasão tricolor, psicólogo nato soube me ensinar muita coisa nos 17 anos que pude aproveitá-lo, minha matemática foi ajudada à base de jogos de escopa 15, ensinou me também truco e outros jogos mais de baralho assim como sua forma de viver a regras, horários, tudo à seu tempo devido e nada fora do lugar.

Alegria de meu avô era levar me pelo bairro mostrando com orgulho seu 1o. neto e companheiro, me fazia apertar as mãos gigantes de seus compadres pelas quitandas, supermercados e botequins da vila, homens judiados pela vida e naquele tempo desfrutando de suas aposentadorias merecidas. Ganhava como recompensa meus gibis, doces e coca-cola nessas andanças, me ensinou a barganhar e fazer negócios no ferro-velho, me ensinou a ser alguém de valor e a dar valor.

O homem austero e regrado um dia foi levado, deixou como seu legado o patriarquismo, a noção de que um homem tem que tomar conta de sua família e ter seus amigos sempre por perto, fazer nada mais que o bem e almejar nada mais que um teto e comida na mesa.

A mulher do jardim de rosas enviuvou, ela perdeu seu companheiro de longa data e eu perdi meu avô, foram se anos em luto, passávamos horas relembrando um ao outro sobre cada momento, as manhãs no barracão do quintal onde ela costurava freneticamente os colchoados e meu avô tirava rebarbas de panos e fiapos de costura, enquanto eu aproveitava algumas horas antes da escola deitado nos montes de tecido ouvindo moda de viola no radinho de pilha. Lembrávamos também das repreensões por conta de eu usar as ferramentas do velho sem supervisão, queria ser hábil como ele na marcenaria ou em suas invenções .

Dez anos depois foi a minha vez de deixar a minha avó, botei a mochila nas costas e vim para o exterior, com o coração partido dei adeus e tentei explicar que os tempos mudaram e que precisávamos complicar nossas vidas um pouco mais, ela então com sua fonte inesgotável de amor para com seus rebentos, plantou uma árvore em seu quintal a qual me representaria nesses anos de exílio.

Acredito que comigo longe ela deve estar podando esta árvore, assim como ela me podou no passado e me transformou em grande parte do que sou hoje, ao menos a parte boa, a outra ficou por conta do mundo.

Thursday, 4 March 2010

Tem que ir lá!! :-)

Muitos me perguntam o motivo pelo qual gasto tanto tempo nos lugares em que viajo.

Simples: sem sombra de dúvida passamos mais tempo longe do lugar em que realmente estamos do que no lugar em si, para que possamos sentir e realmente estar em sintonia entre corpo e mente tem de se dar determinado tempo para nos libertarmos de nós mesmos.

Em realidade começamos a viver nosso próximo destino antes mesmo de começarmos nossa jornada, quando planejamos o trajeto, reservamos vôo, hotéis, riscamos o mapa, pontos turísticos, de certa forma já vivemos aquele momento antecipadamente em nossas mentes e quando chegamos ao lugar de destino começam então batalhas épicas para achar o transporte até o hotel, a luta para confirmar a reserva que foi feita meses antes e a recepcionista não acha registro, depois ao desfazer a mala percebemos que esquecemos coisas vitais como bateria para câmera, carregador para o celular, filtro solar, chinelos e etc etc..

Ainda no primeiro dia começa a busca pelos cartões postais, lembranças para família e amigos, lembrar a lista de nomes e preferências nos leva não só longe dali, mas também em outro período e muitas vezes anos antes.

No segundo dia temos a adaptação ao clima local, comida, horários, nosso corpo nem sempre corresponde à nossa excitação pelo novo, bem ali naquele segundo dia muitos de nós também já começam a se preocupar com o orçamento da viagem, o que podemos e o que não podemos fazer com aquela quantia de dinheiro que separamos e totalmente ligado a esse fator vem a lembrança de nosso trabalho, projetos pendentes que ficaram em cima da mesa, o telefonema que ficou para trás para clarificar dúvidas de clientes, o sentimento de culpa por estar aproveitando a vida enquanto o escritório todo está ralando para cobrir sua falta ou mesmo o pensamento cruel de que teremos de voltar logo à aquele emprego odiado para fazer mais dinheiro e poder pagar as despesas feitas na viagem.

Terceiro dia e queremos nos atualizar, entrar em contato com o mundo, gastamos horas na internet vendo notícias e ao mesmo tempo relatando o dia-a-dia da viagem pelo chat com amigos e família, estamos tão empolgados com tudo de lindo que vimos que já queremos também colocar as fotos na internet pros outros verem (motivo bem claro que é para fazer inveja, quando na realidade você está perdendo seu tempo precioso da viagem pensando nesses outros, enquanto eles estão vivendo a vida deles e pensando bem pouco em você que está de férias...lembre se disso!!)

E então como que de repente a gente se vê no lugar, totalmente aptos à aproveitar cada segundo, já sabemos o cardápio daquele bom restaurante, a recepcionista do hotel só faz um alô quando passamos pelo hall de entrada ao invés de checar nossos documentos, conseguimos ir à pé sem se perder ao museu, já até temos nosso barzinho local onde o dono decorou nossos nomes, e sim, já é hora de ir embora...

Começa então o transtorno de arrumar as malas, achar lugar para as quinquilharias e bugigangas que irão juntar pó na estante de alguém do outro lado do mundo, imprimir a papelada para o vôo de volta e nossas mentes mais uma vez nos leva para os momentos futuros, fila no aeroporto, chateação alfandegária, horas de locomoção e por aí vai.

Se achamos que viagem por terra nos tirará desse terrível cenário e nos dará imagens maravilhosas do campo enquanto dirigimos ou vemos a vida passar da janela de um ônibus, não se engane, um pneu furado ou problema mecânico te trará tanto desespero como um vizinho de poltrona super-size-in-bad-mood que vai fazer você amaldiçoar muitas gerações daquele responsável por idéia tão original.

À algum tempo atrás li sobre um francês que viveu em meados de 1880, confinado em seu chateau numa vila remota no interior de seu país, o motivo era que ele simplesmente não suportava pessoas, vivia recluso com seus livros e seus empregados e certa vez saiu para o vilarejo a comprar pães quando teve pânico de súbito tamanha ignorância das pessoas ao seu redor, onde na realidade eram simples camponeses sem estudo ou qualquer finesse.

Decidiu então que não sairia mais de casa para tarefas mundanas, ainda assim fazia visitas exporadicas ao museu do Louvre, onde amanava qualquer desejo de ver o mundo exterior. Encontrava pelas galerias a perfeita reprodução dos destinos que um dia quisera visitar, Grécia, Roma, Amsterdã, tudo isso através de pinturas, arquitetura, esculturas, teoria a respeito do povo e sua cultura era simples de achar em livros, poupando assim todo esse traslado que era dez vezes pior naquela época e o mais importante, evitando as pessoas pelo caminho.

Dizia ele que a viagem em sua imaginação era certamente mais proveitosa e que não sentia desapontamento desse jeito, certo dia lendo à respeito de Londres sentiu uma vontade extrema de viajar, pediu aos empregados que fizessem sua mala e pegaria o trem que sairia de Paris.
C
hegando à Paris resolveu começar sua imersão na cultura, proximo à estação de trem havia uma grande comunidade inglesa de bares, restaurantes e cafés, onde se achavam todas as características figuras, o tempo estava fechado, frio e leve garoa, almoçou um prato típico inglês - purê de batatas com lingüiça ao molho, serviu se da famosa cerveja, ouviu conversas e piadas animadas entre os homens locais, percebeu como as mulheres tinham mãos e pés grandes para a proporção francesa, pele branquissima, bochechas rosadas, dentes tão grandes que pareciam os de cavalos e a maioria de estrutura óssea um tanto "forte".

Após algumas horas, sem muito pensar, pediu para que seus empregados colocassem toda bagagem novamente na carruagem pois iriam voltar ao chateau, já havia experimentado tudo aquilo que gostaria de ver e sentir em Londres, com a diferença de que não passaria por toda a chateação da viagem e a certeza de desapontamento ao chegar lá.

No caminho algo lhe ocorreu, toda vez que sentisse vontade de ver e sentir um lugar no exterior, iria simular o ambiente o mais fiel possível a realidade, chegando a ponto de um dia decorar todo seu quarto como uma cabine de um navio, deixando um aquário ao lado da cama com sais perfumados, fotos de belas praias penduradas na janela, até mesmo um mapa cartográfico era possível ver entre os livros de navegadores famosos, até o fim de seus dias ele viajou o mundo todo, dizia ele que se o tolo acredita estar em Roma ou Atenas só por ver um pilar com ramos de oliveira num palco de teatro parisiense, por que não ele daria a volta ao mundo em sua cabine particular ?

Descrevi o francês como o Nietshe depressivo em suas desculpas para fugir do mundo exterior que o atormentava, não estava de fato errado sobre desapontamentos, quem nunca imaginou chegar nas pirâmides do Egito e além delas ver apenas camelos, nômades e o deserto ? Com surpresa vem o Cairo imundo e cheio de pedintes como parte do pacote, preços absurdos para turistas, pobreza e risco de saúde.

Ainda assim não me esqueci de pequenos momentos de minhas viagens que fizeram tudo valer a pena, ao ver os canais holandeses na minha visita a Amsterdã, deitar na grama de seus parques e passar tardes preguiçosas lendo até o pôr do sol, a visão do Arco do Triunfo ao sair do portão do metrô em Paris, o picnic no gramado dos jardins do Chateau du Versailles, dirigir por entre montanhas congeladas das highlands escocesas, a vivacidade da Italia nostra e suas paisagens, longas horas nas estradas do sul da Irlanda onde vi o musgo à tomar conta de suas planícies e seus lagos cristalinos, o amanhecer na cidade perdida de Machu Picchu, o atravessar Portugal à pé pelo caminho de Santiago, o pisar na areia branca de Alicante, a cidade viva de Barcelona dentre tantos incontáveis momentos nesses anos de estrada.

Não podemos nos poupar dessas experiências, nesses caminhos podemos encontrar a mulher de nossas vidas, um amigo para a vida inteira, a inspiração para um livro, a coragem para mudar o rumo de nossas vidas, podemos extender nosso discernimento e compreensão do mundo à nossa volta, só precisamos nos dar a chance de tudo isso e o tempo necessário, passe uma semana naquela capital, um mês naquele paraíso, more por seis meses numa metrópole, more um ano onde falem outra língua, mas se for para passar um final de semana, lembre-se de deixar para trás toda responsabilidade, stress, peso desnecessário, preconceito e boa viagem !

PS: valeu pelo título Fer, se não fosse você pra me salvar só publicaria semana que vem !!!

Wednesday, 3 February 2010

Viajar é preciso...

Para muitos uma viagem começa quando se entra no carro, ônibus ou avião, não é o meu caso.

No meu caso tudo começa em forma de inspiração, ao poucos aquela curiosidade vai se formando em um sonho, alguns pequeninos e outros gigantescos, o passo seguinte ao sonhar acordado é abrir o mapa em minha frente e começar a traçar direções com meu dedo, fazendo linhas imaginárias entre os pontos A e B, as vezes entre A,B,C e por aí afora.

A empolgação então cresce ao chamar os amigos e numa mesa de bar contar os planos como se fosse estratégia de guerra, as infinitas possibilidades entre o caminho, chances de tantas coisas acontecerem e quanta história por ventura terei à viver.
Por diversas vezes inspirei alguns à me seguirem, seguir não, ir junto, leve diferença entre companheiros de viagem, e aposto que nenhum deles até hoje tenha se arrependido de por o pé na estrada. Apesar de tanto planejamento, sempre deixo espaço para o inesperado, caso contrário não poderia chamar de aventura, aventura ao meu ver é baseada em incertezas e certo grau de risco, se soubermos exatamente o que estamos fazendo à toda hora seriamos privados de emoção, arrancados do espirito aventureiro de ser.

Quando se começa a jornada nos sentimos culpados por ainda não ter saudade de casa e de quem ficou pra trás, sentimento comum entre muitos, mas conforme o tempo passa é natural que a saudade vem mesmo estando em um oásis, e dai não tem jeito, só melhora quando abrimos o portão de casa e corremos aos braços da família.

Já viajei de ônibus, avião, bicicleta, à pé, kombi, corcel II, fusca (acredite se quiser..e como era bom) mas o que me deu sempre mais sensação de estrada e liberdade foi viajar de moto.
Não tem hora nem clima errado, faça chuva, faça sol, por dentro do capacete vai ter um menino de asas sorrindo de ponta à ponta do mapa.
Mais interessante e importante que viajar de moto é viajar com algum amigo, mesmo que sejam horas de estrada e silêncio, é como se pudéssemos ler os pensamentos um do outro, quando as paisagens se abrem à nossa frente e o aceno de cabeça entre ambos vale mais que qualquer palavra pra tentar descrever tudo aquilo.

Foi em 2004 que conheci Ilhabela, planejei uns bons dias de férias e tempo para mim mesmo, diferente de todo mundo, minha ideia de conhecer a ilha seria dando a volta, mesmo que fosse por meio da mata à base de bússola.

Meu amigo-irmão de longa data, o Pedro, não precisou de muita história pra ser convencido, infelizmente pôde ficar só um final de semana o que bastou pra conhecermos a parte "civilizada" da ilha. Muitos mergulhos depois, cerveja à beira do mar azul cristalino e vários kilometros rodados nas curvas sem fim do sul da Ilha, fiquei sozinho com meu plano de fazer a travessia Bonete-Castelhanos, sem trilha marcada e diversos pontos onde o caminho confudia pelos pescadores andarem em zigue-zague para caçar e deixarem círculos de mato batido.
Nos momentos que passei dentro da mata, apesar de toda preparação, dias sem ver pessoas ao redor e com quem falar, jurei que nunca mais faria aquilo de novo, tendo toda certeza do mundo que sairia sem um arranhão, hoje mais maduro acredito que aventura não pode ser confundida com irresponsabilidade, afinal de contas muitas pessoas estariam à me esperar longe dali e sofreriam muito caso eu não voltasse.

Voltei e por incrível que pareça o maior risco da viagem toda foi o acidente de moto na estrada voltando pra casa, quando um motorista perdeu o controle e bateu com o carro à minha frente, fazendo com que eu voasse por cima de ambos e tendo uma suave aterrisagem no capô de um deles. Nem um arranhão e minha sorte continua mesmo após outros mais acidentes dos quais particularmente não fui responsável e sim vitima do acaso urbano.

Analisando melhor após alguns anos, creio que não seja tão irresponsável de minha parte se eu voltar pras florestas onde só haja eu, eu mesmo e a natureza, que não é tão selvagem se comparada com estradas urbanas, mas nas próximas prometo avisar meu destino e levar algum meio de comunicação ao invés de bússola e arco-e-flecha ;-)

"Cuando los hombres escupen a la Tierra, se escupen a ellos mismos.
Nosotros sabemos que la Tierra no pertenece al hombre, sino que el hombre pertenece a la Tierra. Todas las cosas estan unidas entre ellas, como la sangre que une a una misma familia
Todo está unido y lo que le ocurre a la Tierra, también le ocurre a los hijos de la Tierra"

Thursday, 21 January 2010

Inverno


Éramos jovens e irresponsáveis, e essa era a beleza de tudo aquilo.
Brincávamos com os sentimentos uns dos outros, e nossos corações se recuperavam da noite pro dia.

Ela era alguém que sempre estava ali, até o dia em que a notei, na verdade até o dia em que ela me deu aquela pulseira de praia que ela usava desde o verão passado.

Não conseguia distinguir entre o cheiro dela e o perfume do sabonete que ficaram gravados naquela tira de couro trançado, o que sei é que a mistura foi fatal para me encantar de tal jeito que me deixou hipnotizado por anos à fio.

Alguns anos e muitos poemas depois à conquistei, e pude sentir aquele perfume em seu moletom, seu travesseiro, seus cadernos e em seus cabelos.

Fazia de minhas músicas preferidas nossos hinos de amor, vivíamos mais de sonhos do que de dinheiro, dinheiro era excasso e não importava muito na verdade, era a época de ouro dos amantes que sonhavam em morar numa cabana e viver de amor.

Abandonávamos nossos amigos em troca de mais momentos à sós e eles nos perdoavam porque também estavam no mesmo barco, geralmente em outro braço daquele mesmo mar.

Mentíamos descaradamente para termos nossas fugas para aquele lugar secreto, e não importava tanto,afinal éramos irresponsáveis mesmo.

Sentávamos lado a lado na roda gigante daquela festa junina, e sem vergonha eu gritava do alto que a amava.

Junto com aquele inverno vieram as responsabilidades e a inocência deixou aquele lugar.
A simplicidade deixou aquela cabana e os corações desenhados nas paredes de madeira foram se apagando com o passar do tempo, até o dia em que só restou o vazio e o assovio do vento lá fora.

Outros verões vieram, o sol brilhou em nossas almas, mas todo inverno lembro me com carinho daquela fotografia pendurada naquela cabana hoje abandonada...


Friday, 15 January 2010

Dono do meu destino, capitão da minha alma

Devaneio da minha alma, força que extrai me da realidade, arrasta me por sólo infértil dessa terra maltratada.

Insanidade dizem ser a definição daquilo que não sabemos explicar em forma comum, a inabilidade de comunicar nossas idéias, portanto todos nós em dado momento somos considerados insanos, mas não se deve confundir insanidade com a falta de controle.

Insanidade ao meu ver talvez seja aquele momento em que eu tenho guardado na memória e que não consigo traduzir, ver o sol nascer à beira mar, os pés descalços com aquele leve desconforto da areia entre os dedos, a brisa da madrugada vindo de encontro trazendo aroma de algas marinhas, a solidão momentânea e a rápida sensação de que se está sozinho no mundo enquanto todo o mundo dorme.

Mas isso tudo é de fato fácil falar, difícil é mesmo o que se passa por trás dos olhos naquele momento, naqueles breves suspiros por entre uma respiração e outra, o tentar achar significado pelo motivo de tão bem estar e o por quê não conseguimos eternizar tudo aquilo.

Alguns insanos ao decorrer de suas vidas levaram sorte e acabaram definidos como gênios, seriam eles capazes de traduzir ao total tudo aquilo que realmente se passava em suas cabeças ? Quando falavam sozinhos, estariam eles tentando argumentar consigo mesmos por falta de alguém insano tanto quanto eles próprios ?

Até que ponto conseguimos ensinar nossa psique e adestrar nosso subconsciente à nosso favor e à ponto de atravessarmos aquela linha imaginária que conhecemos como limites ? Seriamos capazes de não mais adoecer em nossos corpos e mentes apenas com a força do pensamento e pelo livre arbítrio ?

"Não importa o quão estreito seja o portão e quão repleta de castigos seja a sentença, eu sou o dono do meu destino, eu sou o capitão da minha alma".
- última parte do poema Invictus escrito por William Ernst Henley.

Um século depois de escrito, o poema "Invictus" foi o que manteve acesa em Nelson Mandela a esperança e a sanidade enquanto aprisionado em Robben Island cumprindo pena de trabalhos forçados.

Após ler a biografia de Mandela, e ter uma pequena porcentagem da idéia do tamanho que de fato esse personagem tem na história mundial, me deparei com esse poema, que trás palavras de força e determinação, e que não importa se ficaremos presos em nossas celas por 27 anos, seja ela numa África aterrorizada ou num escritório dentro de um arranha-céu, o importante é manter a sanidade da forma em que você acredita.

"Fora da noite que me encobre,
Negro como o poço de polo a polo,
Agradeço ao que os deuses possam ser.
Pela minha alma inconquistável.

Nas garras das circunstâncias.
Eu não recuei e nem gritei.
Sob os golpes do acaso.
Minha cabeça está sangrando, mas não abaixada.

Além deste lugar de ira e lágrimas.
Só surge o horror da sombra,
E ainda a ameaça dos anos
Encontra e me encontrará sem medo.

Não importa o quão estreito seja o portão,
quão repleta de castigos seja a sentença,
eu sou o dono do meu destino,
eu sou o capitão da minha alma"


William Ernst Henley (1849-1903)

Friday, 4 December 2009

Freezing cold outside...

It's freezing cold outside and here I am grabbing my cup of cappuccino with one hand and typying in my brand new phone with the other, thinking: "it's about time to try to write in English"...

It's not like writing an essay, nothing really technical but also very hard to do because usually I talk about feeling and sometimes I'm still thinking that I'm not comfortable with that. Expressing feelings is one of the most dificult thing for people even in their own language, and then you sum the fear of grammar errors and mispellings.

One of my English friends were asking me so many times to tell her what exactly I've been writing so often in my blog, and to translate it for her, of course. She was sort of disapointed when I said that mostly Brazilians friends were the ones who I write for.

She encourage me to write now and again, not just to practice what I learned, but to open my mind in other ways to express myself when I feel that my native tongue doesn't have the words to do that.

She also said that as long as I'm doing it with beggining, middle, putting an end and some sense, I will be ok.

I don't want to let my Brazilians friends down doing that, once again I can tell that some day I'm gonna talk about all this historys over a bar table having a good round of drinks.

Today is just another cold day like every winter in England, with the difference that sun is shining this morning, this kind of light (even cold) cheer us all up, putting a smile on people's faces.

These past days were so rainy that I was close to buy my flight ticket straight to home land, but somehow I realize how fond of rain I am, suddenly I accepted the weather not as a misfortune, but as a weird gift from the sky above, to wash all this dirty on earth.

This quote about the dirty was in the Taxi Driver's movie when DeNiro took a guy, who was running for New York's major election, for a ride. Incredible how so many years on and we still battling corruption and evil all around us.

I'm not radical in these terms like DeNiro's character was, and to be honest, my intention in talk about the rain is to show people that if you are prepared for any kind of situation, you will be fine and now I know that putting good water proof clothes on I can even enjoy that moment, I took myself singing and smiling in the rain, when everyone else were cursing and in no mood outside my world.

The reason why I believe is once you have chosen your path this means that you have to walk all this way down to find peace, you will just have to do it and much better if smiling than raising hell.

Our lives run fast, faster then we thought when younger, and a good way to spend it is enjoying every moment, don't take it from self-help books, find it from your inner self, don't force a situation, if you smile when you are not feeling like you will end up with some pretty bad marks on your cheeks.
There's no recipe for this magic, it will happen some day in your life, I really hope that it happens to you (or had happened) in this early stage.

Finally, I want to thank Emma, this very friend of mine, for inspiring me with her smile and childish behavior, pushing me to cross the line between two languages promising that I'll do it over and over again, despite the weather =)