Thursday, 4 March 2010

Tem que ir lá!! :-)

Muitos me perguntam o motivo pelo qual gasto tanto tempo nos lugares em que viajo.

Simples: sem sombra de dúvida passamos mais tempo longe do lugar em que realmente estamos do que no lugar em si, para que possamos sentir e realmente estar em sintonia entre corpo e mente tem de se dar determinado tempo para nos libertarmos de nós mesmos.

Em realidade começamos a viver nosso próximo destino antes mesmo de começarmos nossa jornada, quando planejamos o trajeto, reservamos vôo, hotéis, riscamos o mapa, pontos turísticos, de certa forma já vivemos aquele momento antecipadamente em nossas mentes e quando chegamos ao lugar de destino começam então batalhas épicas para achar o transporte até o hotel, a luta para confirmar a reserva que foi feita meses antes e a recepcionista não acha registro, depois ao desfazer a mala percebemos que esquecemos coisas vitais como bateria para câmera, carregador para o celular, filtro solar, chinelos e etc etc..

Ainda no primeiro dia começa a busca pelos cartões postais, lembranças para família e amigos, lembrar a lista de nomes e preferências nos leva não só longe dali, mas também em outro período e muitas vezes anos antes.

No segundo dia temos a adaptação ao clima local, comida, horários, nosso corpo nem sempre corresponde à nossa excitação pelo novo, bem ali naquele segundo dia muitos de nós também já começam a se preocupar com o orçamento da viagem, o que podemos e o que não podemos fazer com aquela quantia de dinheiro que separamos e totalmente ligado a esse fator vem a lembrança de nosso trabalho, projetos pendentes que ficaram em cima da mesa, o telefonema que ficou para trás para clarificar dúvidas de clientes, o sentimento de culpa por estar aproveitando a vida enquanto o escritório todo está ralando para cobrir sua falta ou mesmo o pensamento cruel de que teremos de voltar logo à aquele emprego odiado para fazer mais dinheiro e poder pagar as despesas feitas na viagem.

Terceiro dia e queremos nos atualizar, entrar em contato com o mundo, gastamos horas na internet vendo notícias e ao mesmo tempo relatando o dia-a-dia da viagem pelo chat com amigos e família, estamos tão empolgados com tudo de lindo que vimos que já queremos também colocar as fotos na internet pros outros verem (motivo bem claro que é para fazer inveja, quando na realidade você está perdendo seu tempo precioso da viagem pensando nesses outros, enquanto eles estão vivendo a vida deles e pensando bem pouco em você que está de férias...lembre se disso!!)

E então como que de repente a gente se vê no lugar, totalmente aptos à aproveitar cada segundo, já sabemos o cardápio daquele bom restaurante, a recepcionista do hotel só faz um alô quando passamos pelo hall de entrada ao invés de checar nossos documentos, conseguimos ir à pé sem se perder ao museu, já até temos nosso barzinho local onde o dono decorou nossos nomes, e sim, já é hora de ir embora...

Começa então o transtorno de arrumar as malas, achar lugar para as quinquilharias e bugigangas que irão juntar pó na estante de alguém do outro lado do mundo, imprimir a papelada para o vôo de volta e nossas mentes mais uma vez nos leva para os momentos futuros, fila no aeroporto, chateação alfandegária, horas de locomoção e por aí vai.

Se achamos que viagem por terra nos tirará desse terrível cenário e nos dará imagens maravilhosas do campo enquanto dirigimos ou vemos a vida passar da janela de um ônibus, não se engane, um pneu furado ou problema mecânico te trará tanto desespero como um vizinho de poltrona super-size-in-bad-mood que vai fazer você amaldiçoar muitas gerações daquele responsável por idéia tão original.

À algum tempo atrás li sobre um francês que viveu em meados de 1880, confinado em seu chateau numa vila remota no interior de seu país, o motivo era que ele simplesmente não suportava pessoas, vivia recluso com seus livros e seus empregados e certa vez saiu para o vilarejo a comprar pães quando teve pânico de súbito tamanha ignorância das pessoas ao seu redor, onde na realidade eram simples camponeses sem estudo ou qualquer finesse.

Decidiu então que não sairia mais de casa para tarefas mundanas, ainda assim fazia visitas exporadicas ao museu do Louvre, onde amanava qualquer desejo de ver o mundo exterior. Encontrava pelas galerias a perfeita reprodução dos destinos que um dia quisera visitar, Grécia, Roma, Amsterdã, tudo isso através de pinturas, arquitetura, esculturas, teoria a respeito do povo e sua cultura era simples de achar em livros, poupando assim todo esse traslado que era dez vezes pior naquela época e o mais importante, evitando as pessoas pelo caminho.

Dizia ele que a viagem em sua imaginação era certamente mais proveitosa e que não sentia desapontamento desse jeito, certo dia lendo à respeito de Londres sentiu uma vontade extrema de viajar, pediu aos empregados que fizessem sua mala e pegaria o trem que sairia de Paris.
C
hegando à Paris resolveu começar sua imersão na cultura, proximo à estação de trem havia uma grande comunidade inglesa de bares, restaurantes e cafés, onde se achavam todas as características figuras, o tempo estava fechado, frio e leve garoa, almoçou um prato típico inglês - purê de batatas com lingüiça ao molho, serviu se da famosa cerveja, ouviu conversas e piadas animadas entre os homens locais, percebeu como as mulheres tinham mãos e pés grandes para a proporção francesa, pele branquissima, bochechas rosadas, dentes tão grandes que pareciam os de cavalos e a maioria de estrutura óssea um tanto "forte".

Após algumas horas, sem muito pensar, pediu para que seus empregados colocassem toda bagagem novamente na carruagem pois iriam voltar ao chateau, já havia experimentado tudo aquilo que gostaria de ver e sentir em Londres, com a diferença de que não passaria por toda a chateação da viagem e a certeza de desapontamento ao chegar lá.

No caminho algo lhe ocorreu, toda vez que sentisse vontade de ver e sentir um lugar no exterior, iria simular o ambiente o mais fiel possível a realidade, chegando a ponto de um dia decorar todo seu quarto como uma cabine de um navio, deixando um aquário ao lado da cama com sais perfumados, fotos de belas praias penduradas na janela, até mesmo um mapa cartográfico era possível ver entre os livros de navegadores famosos, até o fim de seus dias ele viajou o mundo todo, dizia ele que se o tolo acredita estar em Roma ou Atenas só por ver um pilar com ramos de oliveira num palco de teatro parisiense, por que não ele daria a volta ao mundo em sua cabine particular ?

Descrevi o francês como o Nietshe depressivo em suas desculpas para fugir do mundo exterior que o atormentava, não estava de fato errado sobre desapontamentos, quem nunca imaginou chegar nas pirâmides do Egito e além delas ver apenas camelos, nômades e o deserto ? Com surpresa vem o Cairo imundo e cheio de pedintes como parte do pacote, preços absurdos para turistas, pobreza e risco de saúde.

Ainda assim não me esqueci de pequenos momentos de minhas viagens que fizeram tudo valer a pena, ao ver os canais holandeses na minha visita a Amsterdã, deitar na grama de seus parques e passar tardes preguiçosas lendo até o pôr do sol, a visão do Arco do Triunfo ao sair do portão do metrô em Paris, o picnic no gramado dos jardins do Chateau du Versailles, dirigir por entre montanhas congeladas das highlands escocesas, a vivacidade da Italia nostra e suas paisagens, longas horas nas estradas do sul da Irlanda onde vi o musgo à tomar conta de suas planícies e seus lagos cristalinos, o amanhecer na cidade perdida de Machu Picchu, o atravessar Portugal à pé pelo caminho de Santiago, o pisar na areia branca de Alicante, a cidade viva de Barcelona dentre tantos incontáveis momentos nesses anos de estrada.

Não podemos nos poupar dessas experiências, nesses caminhos podemos encontrar a mulher de nossas vidas, um amigo para a vida inteira, a inspiração para um livro, a coragem para mudar o rumo de nossas vidas, podemos extender nosso discernimento e compreensão do mundo à nossa volta, só precisamos nos dar a chance de tudo isso e o tempo necessário, passe uma semana naquela capital, um mês naquele paraíso, more por seis meses numa metrópole, more um ano onde falem outra língua, mas se for para passar um final de semana, lembre-se de deixar para trás toda responsabilidade, stress, peso desnecessário, preconceito e boa viagem !

PS: valeu pelo título Fer, se não fosse você pra me salvar só publicaria semana que vem !!!

Wednesday, 3 February 2010

Viajar é preciso...

Para muitos uma viagem começa quando se entra no carro, ônibus ou avião, não é o meu caso.

No meu caso tudo começa em forma de inspiração, ao poucos aquela curiosidade vai se formando em um sonho, alguns pequeninos e outros gigantescos, o passo seguinte ao sonhar acordado é abrir o mapa em minha frente e começar a traçar direções com meu dedo, fazendo linhas imaginárias entre os pontos A e B, as vezes entre A,B,C e por aí afora.

A empolgação então cresce ao chamar os amigos e numa mesa de bar contar os planos como se fosse estratégia de guerra, as infinitas possibilidades entre o caminho, chances de tantas coisas acontecerem e quanta história por ventura terei à viver.
Por diversas vezes inspirei alguns à me seguirem, seguir não, ir junto, leve diferença entre companheiros de viagem, e aposto que nenhum deles até hoje tenha se arrependido de por o pé na estrada. Apesar de tanto planejamento, sempre deixo espaço para o inesperado, caso contrário não poderia chamar de aventura, aventura ao meu ver é baseada em incertezas e certo grau de risco, se soubermos exatamente o que estamos fazendo à toda hora seriamos privados de emoção, arrancados do espirito aventureiro de ser.

Quando se começa a jornada nos sentimos culpados por ainda não ter saudade de casa e de quem ficou pra trás, sentimento comum entre muitos, mas conforme o tempo passa é natural que a saudade vem mesmo estando em um oásis, e dai não tem jeito, só melhora quando abrimos o portão de casa e corremos aos braços da família.

Já viajei de ônibus, avião, bicicleta, à pé, kombi, corcel II, fusca (acredite se quiser..e como era bom) mas o que me deu sempre mais sensação de estrada e liberdade foi viajar de moto.
Não tem hora nem clima errado, faça chuva, faça sol, por dentro do capacete vai ter um menino de asas sorrindo de ponta à ponta do mapa.
Mais interessante e importante que viajar de moto é viajar com algum amigo, mesmo que sejam horas de estrada e silêncio, é como se pudéssemos ler os pensamentos um do outro, quando as paisagens se abrem à nossa frente e o aceno de cabeça entre ambos vale mais que qualquer palavra pra tentar descrever tudo aquilo.

Foi em 2004 que conheci Ilhabela, planejei uns bons dias de férias e tempo para mim mesmo, diferente de todo mundo, minha ideia de conhecer a ilha seria dando a volta, mesmo que fosse por meio da mata à base de bússola.

Meu amigo-irmão de longa data, o Pedro, não precisou de muita história pra ser convencido, infelizmente pôde ficar só um final de semana o que bastou pra conhecermos a parte "civilizada" da ilha. Muitos mergulhos depois, cerveja à beira do mar azul cristalino e vários kilometros rodados nas curvas sem fim do sul da Ilha, fiquei sozinho com meu plano de fazer a travessia Bonete-Castelhanos, sem trilha marcada e diversos pontos onde o caminho confudia pelos pescadores andarem em zigue-zague para caçar e deixarem círculos de mato batido.
Nos momentos que passei dentro da mata, apesar de toda preparação, dias sem ver pessoas ao redor e com quem falar, jurei que nunca mais faria aquilo de novo, tendo toda certeza do mundo que sairia sem um arranhão, hoje mais maduro acredito que aventura não pode ser confundida com irresponsabilidade, afinal de contas muitas pessoas estariam à me esperar longe dali e sofreriam muito caso eu não voltasse.

Voltei e por incrível que pareça o maior risco da viagem toda foi o acidente de moto na estrada voltando pra casa, quando um motorista perdeu o controle e bateu com o carro à minha frente, fazendo com que eu voasse por cima de ambos e tendo uma suave aterrisagem no capô de um deles. Nem um arranhão e minha sorte continua mesmo após outros mais acidentes dos quais particularmente não fui responsável e sim vitima do acaso urbano.

Analisando melhor após alguns anos, creio que não seja tão irresponsável de minha parte se eu voltar pras florestas onde só haja eu, eu mesmo e a natureza, que não é tão selvagem se comparada com estradas urbanas, mas nas próximas prometo avisar meu destino e levar algum meio de comunicação ao invés de bússola e arco-e-flecha ;-)

"Cuando los hombres escupen a la Tierra, se escupen a ellos mismos.
Nosotros sabemos que la Tierra no pertenece al hombre, sino que el hombre pertenece a la Tierra. Todas las cosas estan unidas entre ellas, como la sangre que une a una misma familia
Todo está unido y lo que le ocurre a la Tierra, también le ocurre a los hijos de la Tierra"

Thursday, 21 January 2010

Inverno


Éramos jovens e irresponsáveis, e essa era a beleza de tudo aquilo.
Brincávamos com os sentimentos uns dos outros, e nossos corações se recuperavam da noite pro dia.

Ela era alguém que sempre estava ali, até o dia em que a notei, na verdade até o dia em que ela me deu aquela pulseira de praia que ela usava desde o verão passado.

Não conseguia distinguir entre o cheiro dela e o perfume do sabonete que ficaram gravados naquela tira de couro trançado, o que sei é que a mistura foi fatal para me encantar de tal jeito que me deixou hipnotizado por anos à fio.

Alguns anos e muitos poemas depois à conquistei, e pude sentir aquele perfume em seu moletom, seu travesseiro, seus cadernos e em seus cabelos.

Fazia de minhas músicas preferidas nossos hinos de amor, vivíamos mais de sonhos do que de dinheiro, dinheiro era excasso e não importava muito na verdade, era a época de ouro dos amantes que sonhavam em morar numa cabana e viver de amor.

Abandonávamos nossos amigos em troca de mais momentos à sós e eles nos perdoavam porque também estavam no mesmo barco, geralmente em outro braço daquele mesmo mar.

Mentíamos descaradamente para termos nossas fugas para aquele lugar secreto, e não importava tanto,afinal éramos irresponsáveis mesmo.

Sentávamos lado a lado na roda gigante daquela festa junina, e sem vergonha eu gritava do alto que a amava.

Junto com aquele inverno vieram as responsabilidades e a inocência deixou aquele lugar.
A simplicidade deixou aquela cabana e os corações desenhados nas paredes de madeira foram se apagando com o passar do tempo, até o dia em que só restou o vazio e o assovio do vento lá fora.

Outros verões vieram, o sol brilhou em nossas almas, mas todo inverno lembro me com carinho daquela fotografia pendurada naquela cabana hoje abandonada...


Friday, 15 January 2010

Dono do meu destino, capitão da minha alma

Devaneio da minha alma, força que extrai me da realidade, arrasta me por sólo infértil dessa terra maltratada.

Insanidade dizem ser a definição daquilo que não sabemos explicar em forma comum, a inabilidade de comunicar nossas idéias, portanto todos nós em dado momento somos considerados insanos, mas não se deve confundir insanidade com a falta de controle.

Insanidade ao meu ver talvez seja aquele momento em que eu tenho guardado na memória e que não consigo traduzir, ver o sol nascer à beira mar, os pés descalços com aquele leve desconforto da areia entre os dedos, a brisa da madrugada vindo de encontro trazendo aroma de algas marinhas, a solidão momentânea e a rápida sensação de que se está sozinho no mundo enquanto todo o mundo dorme.

Mas isso tudo é de fato fácil falar, difícil é mesmo o que se passa por trás dos olhos naquele momento, naqueles breves suspiros por entre uma respiração e outra, o tentar achar significado pelo motivo de tão bem estar e o por quê não conseguimos eternizar tudo aquilo.

Alguns insanos ao decorrer de suas vidas levaram sorte e acabaram definidos como gênios, seriam eles capazes de traduzir ao total tudo aquilo que realmente se passava em suas cabeças ? Quando falavam sozinhos, estariam eles tentando argumentar consigo mesmos por falta de alguém insano tanto quanto eles próprios ?

Até que ponto conseguimos ensinar nossa psique e adestrar nosso subconsciente à nosso favor e à ponto de atravessarmos aquela linha imaginária que conhecemos como limites ? Seriamos capazes de não mais adoecer em nossos corpos e mentes apenas com a força do pensamento e pelo livre arbítrio ?

"Não importa o quão estreito seja o portão e quão repleta de castigos seja a sentença, eu sou o dono do meu destino, eu sou o capitão da minha alma".
- última parte do poema Invictus escrito por William Ernst Henley.

Um século depois de escrito, o poema "Invictus" foi o que manteve acesa em Nelson Mandela a esperança e a sanidade enquanto aprisionado em Robben Island cumprindo pena de trabalhos forçados.

Após ler a biografia de Mandela, e ter uma pequena porcentagem da idéia do tamanho que de fato esse personagem tem na história mundial, me deparei com esse poema, que trás palavras de força e determinação, e que não importa se ficaremos presos em nossas celas por 27 anos, seja ela numa África aterrorizada ou num escritório dentro de um arranha-céu, o importante é manter a sanidade da forma em que você acredita.

"Fora da noite que me encobre,
Negro como o poço de polo a polo,
Agradeço ao que os deuses possam ser.
Pela minha alma inconquistável.

Nas garras das circunstâncias.
Eu não recuei e nem gritei.
Sob os golpes do acaso.
Minha cabeça está sangrando, mas não abaixada.

Além deste lugar de ira e lágrimas.
Só surge o horror da sombra,
E ainda a ameaça dos anos
Encontra e me encontrará sem medo.

Não importa o quão estreito seja o portão,
quão repleta de castigos seja a sentença,
eu sou o dono do meu destino,
eu sou o capitão da minha alma"


William Ernst Henley (1849-1903)

Friday, 4 December 2009

Freezing cold outside...

It's freezing cold outside and here I am grabbing my cup of cappuccino with one hand and typying in my brand new phone with the other, thinking: "it's about time to try to write in English"...

It's not like writing an essay, nothing really technical but also very hard to do because usually I talk about feeling and sometimes I'm still thinking that I'm not comfortable with that. Expressing feelings is one of the most dificult thing for people even in their own language, and then you sum the fear of grammar errors and mispellings.

One of my English friends were asking me so many times to tell her what exactly I've been writing so often in my blog, and to translate it for her, of course. She was sort of disapointed when I said that mostly Brazilians friends were the ones who I write for.

She encourage me to write now and again, not just to practice what I learned, but to open my mind in other ways to express myself when I feel that my native tongue doesn't have the words to do that.

She also said that as long as I'm doing it with beggining, middle, putting an end and some sense, I will be ok.

I don't want to let my Brazilians friends down doing that, once again I can tell that some day I'm gonna talk about all this historys over a bar table having a good round of drinks.

Today is just another cold day like every winter in England, with the difference that sun is shining this morning, this kind of light (even cold) cheer us all up, putting a smile on people's faces.

These past days were so rainy that I was close to buy my flight ticket straight to home land, but somehow I realize how fond of rain I am, suddenly I accepted the weather not as a misfortune, but as a weird gift from the sky above, to wash all this dirty on earth.

This quote about the dirty was in the Taxi Driver's movie when DeNiro took a guy, who was running for New York's major election, for a ride. Incredible how so many years on and we still battling corruption and evil all around us.

I'm not radical in these terms like DeNiro's character was, and to be honest, my intention in talk about the rain is to show people that if you are prepared for any kind of situation, you will be fine and now I know that putting good water proof clothes on I can even enjoy that moment, I took myself singing and smiling in the rain, when everyone else were cursing and in no mood outside my world.

The reason why I believe is once you have chosen your path this means that you have to walk all this way down to find peace, you will just have to do it and much better if smiling than raising hell.

Our lives run fast, faster then we thought when younger, and a good way to spend it is enjoying every moment, don't take it from self-help books, find it from your inner self, don't force a situation, if you smile when you are not feeling like you will end up with some pretty bad marks on your cheeks.
There's no recipe for this magic, it will happen some day in your life, I really hope that it happens to you (or had happened) in this early stage.

Finally, I want to thank Emma, this very friend of mine, for inspiring me with her smile and childish behavior, pushing me to cross the line between two languages promising that I'll do it over and over again, despite the weather =)

Tuesday, 24 November 2009

Uma noite no Clube da Luta

Não espere poesia ou trivialidades, e se você não quer se chocar melhor esperar até o próximo post.
This is London, mate !

Antes do filme teve o livro e muito antes do livro houve a história real que acontecia (e continua acontecendo) no submundo Londrino, de onde surgiu a inspiração para tais meios.
Incrível a habilidade que tenho para conhecer as pessoas certas para as coisas erradas...
Sexta-feira à noite, saio com um amigo inglês, :'vamos a "caça"' como diz ele, de bar em bar e de balada em balada, porém no meio da madrugada percebemos que a noite nos enganou e só nos trouxe decepções.

Pergunto se ele sabe de alguma festa em apartamento, rave clandestina ou qualquer coisa que possamos nos divertir.. Vejo um lâmpejo passar por seus olhos e percebo que coisa boa não vem..
Ele saca o celular, faz algumas ligações e meia hora depois estamos na porta de um prédio no centro de Londres, totalmente escuro num beco sem saída, sem alma-viva por perto.

Algumas mensagens trocadas no celular e a porta se abre, em menos de 5 minutos ele me explica as regras e se eu entro ou não.
Regras: * uma vez lá dentro, ao menos em uma luta terá de participar;
* não se comenta o que acontece lá dentro aqui fora;
* não se faz barulho, não existe torcida, não se interfere;
* se acaso encontrar algum membro fora daquele lugar, faz de conta que não conhece;
* não matarás, mas pode tirar sangue à vontade.

Decido que quero saber como é por dentro...

O lugar cheira urina, aparentemente algum vigia noturno foi subornado para que pudessemos usar aquele porão, que além da urina deveria estar infestado de ratos, insetos, encanamentos de esgoto enferrujados, com vazamento e tanta coisa mais perdida pela escuridão daquele submundo. Os personagens no lugar parecem parte de um filme B, cada qual com seu papel.. mas eram ali reais, de carne e osso.. alguns engravatados de escritórios, banqueiros, pedreiros, caixas de supermercado, policial novato, policial quarentão quase aposentado.

Quando fiquei ciente de que esse tal clube existia de verdade, achei que seria uma espécie de vale-tudo, mas até aquele ponto percebi que tinha regras demais. Uma delas é nunca bata na porta, nunca ligue para abrirem a porta, o correto é mandar mensagem no celular do contato.
Não existe segurança cuidando da porta ou porteiro, ninguém pelo menos que se parecesse com um ou que estivesse agindo como tal.

O lugar não tinha nada de diferente de um porão de predio comercial, nenhum arranjo para o evento, mas percebi umas latas de cerveja numas sacolas plásticas deixadas num canto onde imagino serem máquinas de lavar roupas industriais entre tubulações gigantes de aquecimento do prédio. As pessoas ali agrupadas tambem não se pareciam nada como eu havia imaginado, nenhum personagem recem saído de um filme de luta.

Alguns cheiravam álcool, uns colônia barata e outros não cheiravam,fediam..
Tampouco se vestiam "para matar", não vi botas ou coturnos para intensificar a dor nos oponentes, também não vi nenhuma espécie de acessório para se proteger como caneleiras, jaquetas ou luvas. Os caras eram meros mortais ali reunidos para pôr o stress afora e o adversário nada mais era do que um alvo móvel, não era uma rixa pessoal ou vingança, e isso eu só fui absorver após uma hora tentando analisar a situação.

Diferente do vale-tudo eram as táticas entre os lutadores, não havia objetivo como neutralizar o outro, mas sim desferir os golpes sem muita técnica e com o máximo de força e raiva possível, de preferência no rosto. Qual seria essa obsessão com o rosto? Estariam eles vendo a imagem do chefe ignorante reproduzida no rosto um do outro? Seria a cara da mulher que o traiu? Ou seria o medo interior que seria impossivel lidar durante a luz do dia?

Não existe beleza naquilo, para ser sincero acho que não existe beleza nessa realidade nua e crua, mas aquele caos, com o silêncio quebrado só pelos grunhidos de dor e satisfação me tomam em um transe, fico perplexo como aquilo tudo se parece tanto com uma rinha de cães.
Meu transe só é quebrado quando meu amigo diz que um deles apontou para mim e que seria minha vez de "quebrar o pau" e ficar livre da responsabilidade da noite, ninguém sai sem ao menos uma luta, nem que seja para entrar na roda, tomar um tapa na cara e pedir pra ir embora.

O sangue sobe ao rosto, imagino que devo estar vermelho como um pimentão, e isso pode parecer sinal de fraqueza e medo às pessoas ao redor, e ao invés de estar pensado o que fazer no meu próximo movimento estou mesmo é preocupado com o que a torcida esta pensando de mim.
Mas isso tudo leva questão de segundos, de repente tudo some e fica tudo desfocado ao meu lado, levei um chute na coxa que não esperava e como um touro sem controle o cara vem para cima com punhos cerrados tentando acertar meu rosto.

Me esquivo, empurro, saio de lado e ainda não acho motivação para acerta-lo, como se não fosse certo bater em alguém que acabei de conhecer. O camarada não era um monstro, ate posso dizer que era praticamente da mesma estatura que eu e mesmo peso, estrutura física, mas algo me deixou preocupado, vi sangue no olho dele, vicio, ódio.. e o que me deixou com medo foi que ele não estava me vendo em frente dele, ele via um outro alguém e esse era o meu perigo.

Naqueles segundos iniciais pude notar que estava vagando em pensamentos, analisando muito, prestando atenção em detalhes que não vinham ao caso; o material da jaqueta jeans que ele usava; se a calça dele era de marca e se ele ficaria mais bravo se por acaso rasgasse; se minha camisa de marca iria se rasgar... Tudo o que nao se deveria pensar ali.
Decido rapidamente arrancar minha camisa e jogar num canto, errado! enquanto me enrolo tirando a camisa levo um soco no estômago que me da ânsia, o ambiente fica estrelado e com uma claridade que cega meus olhos.

Procuro me equilibrar e me apoio em alguém do lado que me empurra de volta pro conflito e então como num passe de magica entro no clima, aquilo aqueceu meu corpo e deixou minha mente alerta. Aqueles poucos anos de capoeira no passado me vêem num instante, acredito que é verdade o que dizem sobre memória física, tudo aquilo que aprendi e por anos nunca mais usei me aparecem naturalmente.

Meu pulmão arde pela respiração rápida e num piscar de olhos consigo leva-lo ao chão numa rasteira, ele me olha com surpresa e naquele momento não existe mais raiva ou ódio em seus olhos, mas sim medo. Ainda não acho nada que me faça ter a gana de massacra-lo, poderia chutar lhe a cabeça ou o estômago e minha hesitação o deu os segundos necessários pra ficar de pé e me mostrar que o tombo em nada lhe afetou à não ser pela resposta surpresa de um movimento tão incomum.

Ele ameaça dar me um outro soco no estômago e ao levar os braços para proteger-me acabo com um tapa no rosto e aquilo desperta algo dentro de mim, o suor que já escorre pelo meu rosto faz com que aquele tapa arda mais do que o normal e então consigo encaixar a palma do meu pé no peito dele o levando ao chão de costas. Ao cair ele perde o fôlego e vejo minha atitude mudar de caça à caçador e num segundo eu estava com os joelhos segurando seus braços e desferindo golpes em sua orelha.

Mas me senti um selvagem e sem propósito,não via prazer se era pra sentir isso ali e não vi meu stress sair, mas a adrenalina subiu e num reflexo percebi que o ponto alto pra mim era a negociação, o estar frente a frente e tentar prever o próximo passo e responder da melhor forma possível. Também noto que me faz bem usar a capoeira, relembrar algumas coisas que fazem parte da raiz brasileira, uma arte e que traz tanta surpresa aos olhos do adversário, mas engano meu achando que ele iria ficar me assistindo ir de um lado pro outro em acrobacias sem ao menos tentar acerta-lo, e foi no meio de uma estrela que recebi a joelhada na costela em troca daquele chute no peito que encaixei nele.

Caio sem ar no chão e só vejo ele se preparando a querer chutar minha cabeça, não consigo ver um pingo de clemência em sua expressão e só me resta defender da melhor forma possível.

O chute é aparado pelo meu antebraço e aquilo dói como o fogo do inferno, ele se desequilibra e uso minha perna para joga-lo ao chão, minha paciência acaba e naquela hora vejo que alguém precisa se machucar feio para que tudo acabe, caso contrário ficaremos nesse ballet a noite inteira. Eu estava melhor posicionado quando ele se levantou e ele não esperava que meu calcanhar alcançaria seu maxilar com tamanha velocidade, nem eu imaginaria que teria tanto sucesso na empreitada.

Quando ele tentou se levantar zonzo e aparentando não saber onde estava eu já havia colocado minhas duas mãos em volta de seu pescoço fingindo um ar de quem não estava de brincadeira e que aquilo tudo iria acabar em segundos e bem mal. Foi quando a platéia silenciosa entrou no meio e nos separou, todos estavam satisfeitos, e meu teatro funcionou, eles acharam que eu estava pronto para mata-lo sufocado.

Aproximadamente 40 minutos depois tudo estava acabado, a coisa toda não levou mais de duas horas, todos se cumprimentam, alguns se servem das cervejas nas sacolas no chão, alguns poucos comentários sobre a performance, alguns se apoiando no ombro do camarada, olhos extremamente inchados com sangue gangrenado, marcas de esfregadas no chão e suor.

Na volta para casa as pessoas não nos olhavam nos olhos, desviavam o olhar, como que por medo e aquilo dava uma sensação de prazer pelo poder exercido sobre os meros andantes, aquelas marcas eram como cicatrizes de batalha nos guerreiros em quem a coragem nunca falta.

Não sou masoquista, não sou de briga, não gosto de confusão e sou de libra.
Mas talvez naquela manhã em que me olhei no espelho eu talvez tenha visto uma outra pessoa com aquelas marcas e roxos no rosto sorrindo de volta, talvez tudo aquilo possa ter sido fruto da minha imaginação e aquele no espelho era eu mesmo escovando os dentes,
sem marcas e longe de se parecer com o Brad Pitt no Clube da Luta...


Friday, 13 November 2009

Outono


Ele dizia a ela coisas de amor, promessas sem fundamento, porém com sentimento, e ela fingia nao entender, e dava lhe seu corpo em troca. Melhor um verdadeiro amante com mentirosas palavras do que falsos amantes e suas explicações absurdas.

Era uma boa troca de ambos lados, à ela um corpo quente e jovem onde se acabar, à ele um refúgio experiente sem a necessidade de se auto afirmar.

Ela em sua loucura premeditada por desprezo e desapego do mundo exterior se apegava aos prazeres da carne e banhos de chuva ao fim de tarde como que para lavar sua alma dos pecados passados, já ele se perdia entre suas poesias sem rima, se escondendo da civilização, uma vez que achava não se encaixar na mesma, entre uma prosa e outra buscava inspiração entre ela, mesmo que por poucos minutos.

As lágrimas dela caíram como folhas de outono, apesar de seu corpo suar naquele verão.

Ele amadureceu e o mundo colocou razão em seu caminho, optou pela fórmula prática e segura de seus avós, exemplo de familia.

Hoje ele senta na varanda e relembra a cor dos cabelos dela nas folhas por cair, vermelhas queimadas pelo sol, e ela, insandeceu naquele outono para não mais ter que chorar.