Saturday 16 October 2010

Trilhas sonoras da estrada e para a vida

Numa viagem pelas montanhas do Laos, eu pensava comigo qual seria a religião do motorista, o quão parecido com paraíso seria o lugar em que ele imaginava ir após sua morte, e qual seria a qualidade de vida que ele levava naquele momento a ponto de avaliar qual seria melhor, pois a velocidade em que ele levava seu ônibus naquelas curvas à beira de precipícios me deixou bem preocupado.

A última vez que experimentei tamanha aventura foi no Peru, num taxi dirigido por um japonês doido por Roberto Carlos e que dizia a todo momento o quão "hermosas" eram as montanhas de picos nevados. Nunca imaginei que seria tão complicado e "peligroso" ir em busca de uma passagem de trem para Machu Picchu.

Ultimamente uma de minhas preocupações é a trilha sonora para minhas viagens, parece bobo mas quando se volta pra casa é bom ter aquela música como parte da lembrança, ou mesmo quando toca no rádio inesperadamente e a recordação do lugar vem automaticamente, não tem preço. Lembro das caminhadas pela Chapada Diamantina na Bahia acompanhadas por Morcheeba, da trilha sonora de Marie Antoinette na França e Renato Russo pela Itália afora, acho então que Jack Johnson tem sido uma boa escolha para o Laos até agora.

Venho guardando Jimmy Hendrix pro Vietnam - campos de arroz, cheiro de pólvora no ar, sangue na vegetação, helicópteros passando sob sua cabeça no ar e pacotes de Marlboro amarrados no capacete, guerra meu irmão, Vietcongues por todo lado e Hendrix na cabeça, aposto que muito americano morreu por lá sem ao certo distinguir a diferença entre o som da metralhadora e a guitarra de Hendrix.

Thailandia ? Bob Marley meu amigo, nada mais, nada menos..

Dica para serras intermináveis e curvas ao longo de montanhas : barriga vazia, garrafa d'água e uma caixa de chicletes. Diga adeus as náuseas.

Tenho a impressão de que o interior dos países são todos iguais ao redor do mundo, população ribeirinha vivendo da pesca e morando em casas de pau à pique, outros morando nas encostas dos morros sobrevivendo dos animais que criam e dos vegetais que plantam, crianças na faixa dos 2 aos 5 anos de idade vivendo livremente soltas por todo lado, gente transportando todo tipo de coisas em baús de palha nas costas ou na cabeça, entre mil outras semelhanças que já vimos no sertão brasileiro ou que bem sei existe nos altiplanos bolivianos.

Seriam eles, os simples habitantes, capazes de experimentar a vida urbana e algum dia desistir e voltar as suas origens, vivendo de pouco saneamento básico e higiene, sem a modernidade de hoje em dia, desligar-se do materialismo que consome milhões de pessoas nas grandes capitais ? Como seria se houvesse essa opção depois do choque cultural e adaptação, teriam eles a coragem de largar tudo e voltar ?

Difícil dizer. Seria mais ou menos como o pássaro capturado, apesar de ter a mordomia de uma casa, água, comida e alguém sempre assobiando ao seu redor, provavelmente passaria a vida lembrando do quão extenso era o céu, quanta falta lhe faria seus mergulhos em queda livre e sua liberdade acima de tudo. Fácil é entender as razões pelas quais o inverso acontece, tantos suburbanos deixando a cidade em busca desses refúgios da pré-história.

Eu mesmo já me perguntei diversas vezes, seria muito fácil minha adaptação em tais lugares, viveria como pescador, plantaria, caçaria e teria todo o tempo do mundo para meu amor e meus filhos, mas daí vem a família e amigos, que moram lá longe nas cidades grandes, a falta deles me mataria, me faria querer ter mais, um carro, mais dinheiro pra poder visitá-los e então todo o plano vem por água abaixo.

Bom, por enquanto sigo pelas tortuosas estradas da vida, hora me matando de estudar e trabalhar, hora aproveitando cada segundo que essa vida me reserva...

1 comment:

  1. Bem legal. sangue na vegetacao... e ao falar de passaros com sua liberadade acima (literalmente) de tudo...

    ReplyDelete