Monday 2 April 2012

Ser humano

Sou só humano...

...desses daí, que andam pelo mundo, com os pés descalços, roçando beira de estrada, tropeçando em pedra do caminho, que pega e atira essa pedra no rio e em janela de casa abandonada.

Herói-salvador tem aqui não, tem é João, daquele que erra, daquele que de vez em quando acerta, que sorri para tudo, que pára o sorriso quando é tudo e esse tudo é demais. Humano desses que sobe e desce serra, só pra ver o mar, só pra molhar as canelas, guardar o cheiro de maresia e trazer consigo enlatado num apanhado dentro da sacola.

Desses humanos, bem dos normais, que arranca livro ensebado do sebo por miséria, e transforma em cultura de botequim, que espalha mundo afora segredos só visitados pelas traças daquela rua úmida, de um quarteirão mal-cheiroso de um bairro velho num centro histórico qualquer.

Vez em quando vem a donzela sentar do meu lado, escutar as trovas, um tiquinho de violão desafinado, chama de "poeta", "benfeitor", "dom", "seo João", "seo galanteador", um quão qualquer, um nome sequer. Sabe ela não dos perigos dessa terra, do cunho impróprio das histórias e suas lendas, da verdade entranhada no ramo de uma roseira, daquilo que escondo entre um cochilar e outro, das coisas que não ei de soltar nem com pena de morte.

Quisera eu, humano que sou, ter tais poderes, daqueles que curam, daqueles dos santos, para tirar de ti a dor, soprar pra longe e inflar-te de melhores dias, de melhores noites, noites enluaradas com sonhos dispersos pelas madrugadas, soltos num travesseiro branco, presos somente pelas telas brancas e leves rendadas ao redor da cama, daquelas que nos protegem dos insetos barulhentos que nos roubam a paz.

Queria eu, ser menos humano, pouco mais santo, pouco menos demônio, pouco mais insano, menos Terráqueo, menos de Marte, mais de Plutão, mais eterno, posto que é chama, eterno enquanto dure, eterno enquanto foge, eterno enquanto não encontra, e quando encontrar, que volte à humanidade, um pobre mortal, para que haja o medo da morte, e que esse medo alimente o valor dos segundos que respiras, para dar valor ao que se têm e não ao que pudera ter.

Ser humano às vezes é tão solitário e ao mesmo tempo tão necessário, ser humano às vezes é a melhor solução, mas nem sempre é a melhor saída. 

...e é por essas vias de terra, de chão batido, que sigo meu caminho, em busca de algo maior, da evolução do ser, para talvez, algum dia, encontrar aquilo que já não é mais humano, algo melhor, evoluído, menos complicado, mais etéreo, menos palpável, mas tragável, mais simples em sua composição, menos cheio de sua composição, e por olhar tanto para o céu e suas estrelas nessa busca e sonho acordado, que tenho meus pés tão machucados, por não ver as pedras, tão terrenas, que insistem em ficar pelo meu caminho, e humano que sou, sigo descalço, teimoso, por esse mundo, tão humano.

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