Friday 4 June 2010

Sem notícias de deus


No dia em que me tornei um viajante sem fronteiras houve um pacto silêncioso, como a venda da alma ao demônio, te prometi de minhas andanças os cheiros, os aromas, os postais, as canções em língua nativa, os amores, os poemas de estrada, retratos, prometi lembrar me de ti em todos os instantes.

Em troca você me deu saudade, o envelhecer longe de casa, me devolveu crianças crescidas, tirou me velhos amores, levou pessoas queridas, arrancou me o aconchego, me deu botas usadas e calças surradas, também me angustiou pela falta de notícias.

Algumas vezes ao longo dessa vida perdi o rumo, naqueles dias em que mesmo a bússola se confunde e não tem certeza de seu norte.

Procurei algo para me agarrar como marinheiro em busca da corda na tempestade, por incontáveis vezes nos encolhemos e abraçamos uns aos outros na espera pelo amanhecer, esperançosos  pela luz do dia, renascer do sol e da vida alheia.

E então tudo valeu a pena. Cada passo dado me trouxe nessa direção.
A direção que me leva de volta à casa, mesmo que seja um longo caminho, demorado e sofrido, mas que você deixou claro ter sido o começo e agora também será o fim, fim de uma jornada perpétua, mas como todo pacto, não será por muito tempo e logo tudo recomeça, ali será meu pouso e logo mais volto à estrada, te mando carta, te prometo tudo de novo, mas dessa vez, se possível, mande notícias.


1 comment:

  1. Cara, assisti ontem o filme Invictus.
    Fui para a internet procurar o poema.
    Achei seu blog (em alguma postagem aí vc cita-o).
    Li um texto depois outro... Gostei, estou lhe seguindo.
    []s

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