Saturday, 31 July 2010

Segredos

Guardo aqui dentro o segredo do meu amor, guardo também o segredo do meu desacordo, junto também tem o do desapego e o do endoidecer calado.

Calo para que torne segredo, pois se falasse, segredo não mais o seria, seria sim um boato, caso fosse um sussurrado, demorado é o segredo guardado, à sete chaves daqueles no armário.

Vinha Maria a todo dia, com seus segredos e tormentos, veio José, com seus risos e também o seu mé, foi se João, que sem fósforo ficou sem balão, balão que continha segredos, que não se queimaram e ficaram no chão.

Quantos mais segredos se foram aos céus, não como os de João, que por azar se esparramam pelo chão, mas e os de Cristina, todos bordados nos véus, véus estes levados ao vento, na ciranda de seu firmamento, vai lá sem demora, se enrosca no pé de amora, se finda na curva do vento.

Segredos são só palavras, palavras raras são essas, daquelas que não se houve muito, daquelas que se fala pouco, segredos são mesmo o nada e o tudo, dependendo da hora e do turno.

Segredos são recém nascidos no berço da vida, segredos são monstros dos calabouços, inocente guardado o do berço, terrível, vil, malicioso esse de monstro, cresce com olhos vermelhos e boca de bafo, barba de mentira e chifre de verdade.

Segredos são frutos do pé de manga, segredos são caroços da ameixa seca, um dia foram folhas da macieira, hoje jazem numa garrafa de erva-cidreira, hortelã segredo foi, Jasmim se queixou à mim, segredo não me contam, contai vos eu segredo meu, ao que do outro lado descobriram, do outro lado de meu jardim.

Já não guardo mais segredos, ou ao menos os guardo na seção do esquecimento, lá onde se perdem, lá onde estarão seguros para sempre, continuarão sendo segredos pelo resto da eternidade, e se um dia descobrirem o segredo da eternidade, pobre de mim, que terei segredos de uma infinidade.

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