O nome dela era Cibelle.
Eu tinha aproximadamente dez anos de idade e ela, acredito, por volta de quatorze-quinze.
Eu devia estar na 4ª série e estudávamos na mesma escola, ela vivia sentada pelos corredores com suas amigas, jogando conversa fora entre uma risada escancarada e outra.
Nunca à tinha notado, éramos praticamente de mundos diferentes, sua turma nos tratava como se não existíssemos e não fazíamos questão de dar atenção, à não ser quando os caras mais velhos vinham roubar nosso lanche, aí a história era outra, com certeza voltaria pra casa com um olho roxo e com fome.
Engraçado como a vida de alguém aos dez anos de idade parecia ser tão complicada, já existiam naquela época pressões, necessidade de ser aceito numa sociedade (mesmo que fosse a sociedade estudantil juvenil), e o desejo de ser mais velho e poder sacanear com os mais novos.
Até o dia em que ela me parou no corredor. Perguntou meu nome, quantos anos eu tinha, onde eu morava, de repente me deu um beijo na bochecha e saiu gargalhando com as amigas.
Naquele exato momento quase entrei em estado catatônico, não falava, não respirava, não sabia onde eu estava ou para onde ia.
No meio da confusão na classe após o intervalo, com todos querendo saber o que tinha acontecido, acabei descobrindo que uma das meninas da minha classe era prima daquele ser encantado, e o nome dela era Cibelle.
À partir daquele dia comecei a escrever cartas para ela, desde rabiscos sonhadores no caderno até colagens com letras recortadas do jornal, passava horas planejando como ter acesso à máquina de escrever da minha tia para poder datilografar frases singelas, simples mas cheias de amor.
Fui pêgo por minha tia incontáveis vezes furtivamente criando meus poemas em sua máquina de datilografar e aquilo me deixava em apuros, fora a vergonha, sempre fui bem tímido e fechado em relação à meus amores.
Aquele amor platônico durou algum tempo, até ela se formar e ir pro colegial em outro lugar e me deixar pra trás com meus sonhos encantados, já naquela época achava que um homem poderia morrer de amor, à vi pelas ruas, de mãos dadas com outros caras, de sua idade ou mais velhos, usavam calça xadrez com velcro na cintura, jaquetas de motoqueiros e topete ao melhor estilo John Travolta em "Grease", enquanto eu tinha meu cabelo no pior estilo "reco" militar cortado por um amigo do meu avô e ainda calçava sandálias!!!
Meu Deus, sandálias!! Onde minha mãe estava com a cabeça? Aquilo poderia ter me traumatizado pro resto da vida!!Mas superei e hoje ainda aqui estou, mas já não calço mais sandálias...
Passados alguns anos à encontrei, bem ali no meu bairro, já uma mulher, com sua família, trabalhava na loja de materiais elétricos de seu pai, seu corpo já bem robusto pelo parto de três filhos, a saia enorme e os cabelos muito longos resultado de sua mudança de religião, mas apesar de todas as mudanças, aquele rosto ainda era do meu anjo salvador, daquele meu primeiro amor.
E eu? Eu vestia minha jaqueta de motoqueiro, com minha namorada esperando lá fora em minha moto, batendo o pé no chão e perguntando qual a dificuldade em escolher uma lâmpada...
Ô menino carente!!! :-x
ReplyDeleteMuito bom o texto!!
ReplyDeleters, sandálias? nunca mais,
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