Ela: "- Fala inglês ? "
Eu: "- Sim, você ? "
Ela: "- Nasci aqui. "
Eu: "- Faz sentido... "
Ela esfrega os olhos vermelhos, ajeita o cabelo, endireita a coluna, abre um sorriso e pergunta:
"- Você não é mais um daqueles que entram em nossas vidas, pra passar uma noite em nossas camas e depois sumir, é ? "
"- Não... "
"- Ótimo ! " disse ela.
... a noite voou, e no final estava apaixonado.
" - Espera cinco minutos e me encontra lá dentro ..."
Naquela noite pensei ter achado a resposta para as minhas perguntas, aqueles olhos azuis eram o infinito universo em que eu poderia me perder por toda a vida. Minha rotina sumiu, alguns dias era acordado por um abraço mais apertado, outros por um beijo à queima roupa e quando era meu despertador em pleno rock & roll, sabia que estava sozinho e não era um sentimento bom.
Bom era acordar num sábado e ver ela com uma cesta de frutas arrumada, dois livros roubados da minha estante separados e aquele baton vermelho contrastando com seu chapéu e óculos de sol retrô. O dia deitado no parque ao sol passava muito rápido, e de repente ela me surprendia tirando uma garrafa de vinho de sua sacola de pano pintada à mão.
Ficávamos pelo final de tarde jogados por cima um do outro, até onde o calor do vinho já não nos esquentava mais e o sereno da noite nos impedia de continuar nossas discussões literárias, juntávamos nossas coisas e tomávamos o rumo inebriante pelo parque até o ponto de ônibus mais próximo, nossa jornada era feita de risadas bobas, danças mal coreografadas e eu pedindo desculpas aos passageiros do ônibus pelo disturbio da paz.
Aos sábados passávamos à noite fazendo planos, contando histórias de nossa juventude, nos intervalos fazíamos amor, quando menos esperava, o brilho do sol por entre a cortina me lembrava que era hora de trabalhar, domingo cedo, tarefa quase impossível, saía de casa rastejando de cansaço da noite não dormida.
A rotina do domingo era sempre a mesma, vizinhos de ressaca se misturavam aos clientes antigos com suas famílias pelas mesas do pub. O gerente gritava ordens para o 2o andar onde ficava a cozinha, e minha cabeça parecia querer explodir. Até que às 11 da manhã de um dia tipicamente Londrino, frio, mas ensolarado, lá estava ela em minha porta com uma caneca de capuccino em sua mão, à extendeu com sua mão branca como a neve que teimava em deixar seus flocos na janela.
A rotina do domingo era sempre a mesma, vizinhos de ressaca se misturavam aos clientes antigos com suas famílias pelas mesas do pub. O gerente gritava ordens para o 2o andar onde ficava a cozinha, e minha cabeça parecia querer explodir. Até que às 11 da manhã de um dia tipicamente Londrino, frio, mas ensolarado, lá estava ela em minha porta com uma caneca de capuccino em sua mão, à extendeu com sua mão branca como a neve que teimava em deixar seus flocos na janela.
Depois daquela manhã não só viciei no café diário, mas no sorriso por trás daquele baton vermelho, no azul dos olhos por trás daqueles óculos retrô, do cheiro por baixo daqueles cabelos negros e naquela pele branca escondida por entre seu vestido de seda florido.
Um inverno foi compartilhado debaixo de edredons e chocolate quente à base de creme de whisky com Baileys, cantávamos um para o outro em frente à lareira velha esquecida no canto da sala, discos de vinil davam o tom retrô que ela tanto gostava, jogávamos cartas com regras que ela inventava na hora, escrevíamos poesia em papéis que depois eram jogados no fogo da lareira, dizia ela que as palavras eram muito perigosas para serem criadas e libertas ao mundo, e com as faíscas do fogo víamos frases formadas subirem pela chaminé, rumo ao céu escuro e frio.
E com o tempo percebemos que não se pode ter tudo, que os sonhos quando prontos se tornam uma utopia, algo que não conseguimos apalpar, que erramos ao deixar a poesia voar, que as palavras ao mesmo tempo que perigosas, servem como o alimento de uma relação, e que no torpor de tudo aquilo, escolhemos deixar o tudo de lado e seguir com nossas vidas na forma simples, pois o tudo é complicado demais. Somos como um grão de areia no universo do entendimento, querendo burlar as leis naturais pintando um quadro perfeito, que no final se torna um espelho, quebrado, com frases escritas em batom vermelho, separadas pelas rachaduras da vida.
e em minha vida, sobrou o capuccino que aquece meus lábios nas manhãs frias, para lembrar que o ter tudo é possível, desde que se tenha coragem de enfrentar.
É, meu amigo. É preciso coragem pra ser feliz! :-)
ReplyDeleteÉ preciso coragem, para viver, para deixar o que não se pode mais carregar. E além de tudo, coragem para lembrar das coisas boas do passado, com a a coragem de um homem, mais o coração de um garoto.
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